segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Meliponicultura: Legal ou clandestina?

Muita gente, as vezes sem intenção, acaba escrevendo abobrinhas na internet sobre muita coisa, com a meliponicultura não é diferente, principalmente sobre a legalidade da atividade. Certa vez li num blog, que por sinal era de um biólogo, onde o mesmo relatava que o nome “pomposo” atribuído a essa nova atividade era estratégia de marketing e nada tinha a acresentar a natureza. Por fim, o autor comparava atividade da Meliponicultura com práticas criminosas realizadas por um meleiro que tinha derrubado uma árvore para capturar uma suposta colônia de Jataí.

Começa por aí a primeira e fundamental diferença entre meleiro e meliponicultor. Meleiro é quem, de forma indiscriminada, vai a mata e retira o mel das abelhas apenas no intuíto de consumí-lo ou comercializá-lo, sem se preocupar com o destino final das abelhas. Essa prática é criminosa é altamente criticada por todos os amantes das abelhas nativas, mas isso não é meliponicultura.

Meliponicultor é aquele que cria, de forma racional, as abelhas sem ferrão no intuito de contribuir com a natureza através do trabalho diário das abelhas, colhendo os frutos (mel e novos enxames) da atividade de forma sustentável sem prejudicar o meio ambiente. Na grande maioria dos casos, nem renda com atividade tem, pois o mais importante pra esses criadores é o prazer que a atividade diária com esses insetos tão especiais proporciona.

A meliponicultura é hoje uma atividade regulamentada, LEGAL e estimulada por diversos órgãos ambientais e instituições de pesquisa do Brasil. A título de exemplo a Embrapa possui diversos estudos sobre a sustentabilidade e importância da atividade para agricultores de baixa renda.

O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), através da Resolução nº 346/2004 disciplinou a utilização das abelhas nativas, bem como a implantação de meliponários no Brasil. Atualmente, é permitido aos criadores Cadastros junto a autoridade federal competente (IBAMA) a comercialização de enxames, dos produtos e subprodutos oriundos das abelhas sem ferrão.

Enfim, meliponicultura não é marketing, como algumas pessoas pensam, nem muito menos clandestina. Meliponicultura é atividade nobre, respeitada, importante para a natureza, pois contribui de forma significativa para a preservação e difusão do conhecimento sobre as abelhas nativas, tão ameçadas.

A Meliponicultura é uma das poucas atividades no mundo que se encaixa nos quatros grandes eixos das sustentabilidade. É geradora de impacto ambiental positivo, é economicamente viável, é socialmente aceita e culturamente importante pela proposta educacional que desempenha.

Através de nossas praticas racionais todos os dias centenas de novas colônias de abelhas sem ferrão são geradas. Dessa maneira contribuímos para perpetuação de nossas matas, pois além da produção de mel, as abelhas realizam um trabalho muito maior que é o da polinização. Por isso se você deseja ser meliponicultor inicie na atividade sem medo de ser feliz, espere por momentos prazerosos e encantadores. Aprecie sem moderação.

Attt,

Mossoró-RN, em 14 de agosto de 2011.


Kalhil Pereira França
Meliponário do Sertão

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Revista ACAPAME - Meliponicultura em Mossoró/RN

Abaixo transcrevo na íntegra o relato da visita dos amigos e pesquisadores da USP/UFERSA a nossa cidade no ínicio desse ano, onde os mesmos tiveram a portunidade de visitarem muitos meliponicultores da nossa região. Um desses agraciados foi eu. Na oportunidade trocamos muitas experiências e alguns relatos sobre os avanços no manejo da Jandaíra na caixa tipo INPA, adaptada a essa abelha.

Fica aqui, desde já, o meu profundo agradecimento pela lembrança do pequeno trabalho junto as abelhas Jandaíras, fonte de minha inspiração cotidiana. A minha casa está de portas abertas a todos vocês.

Meliponicultura em Mossoró-RN

Ayrton Vollet Neto1, Cristiano Menezes2 e Vera Lucia Imperatriz Fonseca3
1. Universidade de São Paulo - Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP-USP)
2. Bolsista Prodoc/CAPES - Universidade Federal Rural do Semi-árido (UFERSA)
3. Universidade de São Paulo - Instituto de Biologia (IB-USP) e Universidade Federal Rural do Semi-árido (UFERSA)
Autor para correspondência: ayrtonvollet@gmail.com

Com o slogan "Mossoró da Gente", esta cidade do interior do RN chama a atenção pelo processo acelerado de desenvolvimento em que se encontra. A economia é movimentada principalmente pela produção de sal marinho, fruticultura irrigada voltada para a exportação, além de ser o maior município produtor de petroleo em terra do país (Fonte: Wikipedia http://pt.wikipedia.org/wiki/Mossor%C3%B3#Setor_secund.C3.A1rio acessado em 03/11/2010). Mas o que mais me chamou a atenção nesta bela cidade - apesar de eu ser suspeito para falar - foi a meliponicultura.

Em Mossoró a meliponicultura está fixada nas raizes do povo. Lá, ao se perguntar para qualquer pessoa onde se encontra mel, é possível receber a resposta, "de Europa ou Jandaíra?". Eu nunca havia ouvido esta resposta, é raro encontrar alguém que sabe que outros tipos de abelhas existem. Conhecer o mel das abelhas nativas então, isso foi inédito para mim. A maior surpresa veio ao fazer compras em um grande supermercado da cidade, onde encontramos nas prateleiras uma embalagem de mel de jandaíra, com registro junto à Secretaria de Agricultura do RN, retirado e processado em casa de mel e tudo mais (Figura 1 e 3). O responsável por este produto estar naquela prateleira é o Sr. Paulo Menezes, o maior meliponicultor da cidade.

Dono de grande simpatia e gosto pela conversa, principalmente sobre as abelhas, o "Seu Paulo", como é chamado, possui cerca de 600 colônias de jandaíra (Melipona subnitida) espalhadas pelo sertão nordestino (Figura 2). Com uma organização que não se vê comumente por aí entre os meliponicultores, ele produz e comercializa dentro do estado do RN cerca de 300 litros de mel por ano, com a marca "Mel Menezes". Ele, somado à iniciativa de minha orientadora, Profa. Vera Lucia Imperatriz Fonseca, que vem desenvolvendo um grande trabalho com a meliponicultura do RN no cargo de professora convidada da UFERSA - RN, organizaram uma pequena visita aos meliponicultores da região de Mossoró.


Figura 1: Os méis embalados pelo Sr. Paulo Menezes, que são comercializados no estado do RN


Figura 2: Um dos meliponários para produção de mel do Sr. Paulo Menezes. A caixa utilizada por ele é a modelo "nordestina".


Figura 3: Casa do mel do Sr. Paulo Menezes. No centro, um decantador de inox que é usado para separar as impurezas do mel. Nas garrafas de vidro o mel colhido fica em processo de "maturação".
Figura 4: Berguinho à frente de um de seus meliponários de Jandaíras.


Seguimos rumo à "Praia Redonda", localidade pertencente ao município litorâneo de Areia Branca. Lá encontramos com "Berguinho", meliponicultor bastante jovem, que herdou as caixas do pai (Figura 4). Com grande intusiasmo, Berguinho mostrou suas caixas de jandaíras, principal foco do seu trabalho, algumas moças brancas (Frieseomelitta doederleine) e jatis (Plebeia sp). Ele afirma que não tem muito tempo para cuidar das abelhas, por conta do trabalho, mas consegue tirar algum mel, que vende a conhecidos. Quando questionado sobre o manejo que faz nas caixas, logo coloca sua opinião: "se eu alimentar elas vão se acostumar, e vão parar de trabalhar!".

Ainda em Areia Branca conhecemos alguns meliponicultores pequenos, que deixaram as abelhas um pouco de lado, como é o caso de um pescador já de idade, que por causa de um problema com sua mão, e da falta de interesse dos mais jovens de sua casa, já não cuida mais de suas Jandaíras. A surpresa boa ficou para o fim daquele dia, quando por meio das informações que Seu Paulo consegue, com muita habilidade, com o povo da região, encontramos o Sr. Mesquita. Com cerca de 70 caixas de Jandaíra, O Sr. Mesquita foi o meliponicultor mais organizado que encontramos. Ele mesmo confecciona suas caixas, que possuem uma qualidade e um acabamento que não encontramos em caixas de abelhas floradas sem ferrão, e toma o cuidado de pintá-las de cores diferentes para não confundir suas abelhas.


(Figura 5).

Assim como o Berguinho, Mesquita não alimenta suas abelhas, mas com um outro argumento: "não preciso, sempre estão cheias de mel". E pelo que presenciamos lá em pleno início da época seca - quando faltam recursos para as abelhas - é a mais pura verdade. Por algum motivo, que desconfiamos ser a maior umidade do litoral, onde a seca não é tão severa, as abelhas não precisam de alimentação. E mais, segundo o meliponicultor, as abelhas produzem uma média de 2,5 litros de mel por ano. Um litro a mais que a média do Seu Paulo Menezes, que possui um manejo mais avançado de suas colônias, mas as mantém na caatinga do interior, onde a seca é maior. Outra hipótese levantada pela professora Vera Lucia é a de que as Jandaíras do litoral possam ser ligeiramente diferentes das abelhas do interior, mostrada entre outras caracteristicas, pela diferença de produção de mel.

No dia seguinte, de volta a Mossoró, fomos a casa de um jovem, porém já experiente meliponicultor, Kalhil Pereira. Muito bem recebidos por ele e por sua mãe, fomos conhecer as abelhas que mantém em sua casa, dentro da cidade. Kalhil tem uma visão avançada da meliponicultura, e quer trazer os avanços e mudanças que os pesquisadores e meliponicultores tem atingido para os seus meliponários. Uma prova disso é a mudança no tipo de caixas que ele vem realizando. A caixa tipo "nordestina" é a mais comum entre os criadores de Jandaíra, sendo utilizada tradicionalmente há muito tempo pelos meliponicultores no Rio Grande do Norte (Figura 2). Apesar de funcionar perfeitamente para a criação da Jandaíra, a caixa nordestina apresenta algumas desvantagens em relação a uma adaptação das medidas da caixa modelo INPA feita pelo próprio Kalhil para acomodar a Jandaíra (Figura 6 e 7). Nesta caixa as divisões podem ser facilitadas, além da possibilidade da colocação de melgueiras, por onde pode ser retirado o mel com maior higiene e facilidade. Apesar destas caixas auxiliarem a produção de mel, o foco do Kalhil não é este. Ele é um grande comerciante de colônias de abelhas nativas, atividade que complementa consideravelmente a sua renda.


Figura 5: O Sr. Mesquita (esquerda) e o Sr Paulo Menezes posam para foto ao lado do meliponário do Mesquita.


Figura 6: Modelo de caixa vertical utilizado por Kalhil na criação da Jandaíra.



Figura 7: A abelha Jandaíra se adaptou bem ao novo modelo de caixa. Aqui podemos ver uma cria forte, em uma época de escasses de recursos. Em um outro quadro de melgueira ficam os potes de alimento (no caso, retirado para foto do ninho).


Figura 8: Favos de cria da Jandaíra. A rainha aparece em destaque nas células superiores.


Finalmente visitamos a fazenda experimental da UFERSA, onde está sendo criada uma ótima infraestrutura para pesquisas em meliponicultura, bem como em apicultura. Lá os Professores Lionel Segui Gonçalves e a Vera Lucia Imperatriz Fonseca já reformaram e equiparam 2 locais de pesquisas com abelhas.

Foi uma viagem bem curta, na qual grandes nomes da meliponicultura não foram visitados, como o Sr. Ezequiel Roberto Medeiros de Macedo, de Jardim do Seridó-RN, que possui centenas de colônias de Jandaíra, e infelizmente ficou de fora do nosso trajeto. Apesar disso pudemos ter uma boa visão da meliponicultura da região de Mossoró, onde a criação de abelhas nativas existe há muito tempo. Pudemos ver que na maioria dos casos esta é uma tradição passada de pais para filhos, feita na maioria das vezes como atividade de lazer ou fora de moldes produtivos. Porém, observamos o surgimento de criadores com novas idéias e visões sobre a meliponicultura, dispostos a fazer da atividade o próprio sustento, e que já viabilizaram a comercialização do mel da abelha nativa em grande escala.

Sem esquecer que a grande protagonista, e principal responsavel pelas conquistas narradas acima, é a Jandaíra. Abelha forte, robusta, que resiste à seca e o calor do sertão nordestino, e produz uns dos méis mais saborosos já produzidos (Figura 8).

Registro nossos agradecimentos aos meliponicultores que nos receberam muito bem, sempre dispostos a bater um bom papo e abrir as portas de suas casas, em especial ao Sr. Paulo Menezes, que além de tudo nos guiou pela região de Mossoró. À UFERSA pelo apoio durante a nossa visita, em setembro de 2010 e ao financiamento CAPES.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

A Menor Abelha do Mundo


Vocês conhecem a Remela? Também conhecida como Lambe-olhos é uma das menores abelhas do mundo. Da família das leurotrigonas, é uma abelhinha muito pequena e de população muito reduzida. A média populacional gira em torno de 50 a 100 abelhas adultas. Tudo nessa espécie é pequeno, a iniciar pela sua caixa que não cabe facilmente na minha mão. O furinho de entrada é tão minúsculo que nem as formigas tem acesso ao ninho.

Os potinhos de pólen são pouco maiores que o polegar do meu dedo. De tão pequenas, fica até dificil pra mim que não tenho uma máquina fotográfia profissional tirar uma foto de qualidade. Sua postura é igual a das abelhas moças-brancas, fazem uma espécie de cacho de uva muito bonito e sensível.

Um fato curioso nessas abelhas é a sua grande capacidade de enxamear, já ouvi relatos de meliponicultores encontrarem vários enxames dessa espécie numa mesma área. Esse fato se deve ao seu tamanho reduzido, o que facilita a nidificação em praticamente qualquer lugar.

Por ser pequena é praticamente impossível a sua localização na natureza, na grande maioria das vezes a captura é feita atráves de ninhos-iscas ou mesmo pelo encontro casual na mata. É o mimo de qualquer meliponicultor que ama o que faz, criar um enxame desses é com cuidar de um récem nascido. Tudo aqui é delicado e frágil. 

Essa é a meliponicultura com suas mais varias espécies de abelhas sem ferrão, é tanta a diversidade de cores, tamanhos, sabores de mel e pólen que fica difícil a gente não se apaixonar.
att,
Mossoró-RN, em 05 de agosto de 2011.


Kalhil Pereira França
Meliponário do Sertão

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

A Raríssima Uruçu-de-Chão (melipona quinquefascita lepeletier)

Muita gente não sabe, mas entre as abelhas sem ferrão há uma espécie muito bonita que nidifica no chão. A uruçu-do-chão ou mandaçaia-do-chão (melipona quinquefasciata lepeletier) é uma abelha sem ferrão, nativa do Brasil, que se caracteriza por nidificar no solo. 


Raríssima, vem a cada dia sucumbindo devido a diversos fatores, principalmente pelo desmatamento indiscriminado, do uso abusivo de produtos químicos na agricultura e avanço do homem em regiões de mata virgem. Seu nome (quinquefasciata) vem exatamente da presença das 5 listras presentes no seu abdomem. Essa é uma abelha que tem a coloração bastante peculiar, a pigmentação das listras nos confunde muito, é a chamada furta-cor, pois não dá pra definir com certeza qual é realmente sua cor, é verde ou amarelo?

Muitos pesquisadores acreditavam que essa abelha só era encontrada naturalmente apenas nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste. Todavia, pesquisas recentes mostraram a ocorrência da uruçu-de-chão no Estado do Ceará, sendo este o primeiro registro dessa espécie para o Nordeste do Brasil (LIMA-VERDE & FREITAS, 2002).


As novas descorbertas tem estimulado muitos meliponicultores a estudarem uma forma de mantê-las em caixas de madeira (sob o solo ou bem próximo a ele), tendo em vista a dependência dessa abelha com o solo. Isso se deve ao fato que esse inseto é extremamente sensível a variações de temperatura, necessitando muito de proteção. Há relatos da captura da Uruçu-de-chão a mais de 3 metros de profundidade.

O meliponicultor Dr. Francisco das Chagas vem conseguindo, após muitos esforços, manejar essa espécie com certo sucesso em caixas de madeira com algumas adaptações importantes. Uma delas é a criação de um tubo de entrada bem longo, na casa dos 70 cm, pois foi percebido por ele a grande fragilidade que essa abelha tem ao ser atacada por forídeos. 


Hoje tenho apenas um exemplar dessa raríssima abelha que me foi dada de presente do meu Prezado amigo Chagas. Pensei que fosse perdê-la assim que chegaram, pois inventei de colocar a caixa próxima das uruçus amarelas o que gerou muita briga. Mas após perceber a besteira que tinha feito isolei o enxame em local protegido e venho observando uma ótima recuperação. Pela manhã sempre chegam bem carregadas de muito pólen, fato esse que me traz muita expectativa por um futuro promissor dessa espécie. Ainda é muito cedo pra falar mas acho que conseguirei mantê-las aqui com algum esforço.

att,

Mossoró-RN, em 04 de agosto de 2011.

Kalhil Pereira França
  Meliponário do Sertão  

terça-feira, 2 de agosto de 2011

A Força da Uruçu Verdadeira (melipona scutellaris)


Tida por muitos como a melhor abelha do Brasil, a Uruçu Verdadeira (melipona scutellaris) é absolutamente imbatível em quase todos os aspectos. Nenhuma outra abelha chega a níveis de produção, população e facilidade de manejo dessa espécie tão difundida pelo país inteiro.


Nos últimos meses tenho me dedicado profundamente a criação dessa abelha que vem me surpreendendo a cada dia. Quem primeiro me apresentou a Uruçu foi o grande Meliponicultor e amigo, Francisco das Chagas, com ele tenho aprendido a manejar com grande facilidade essa abelha que guarda alguns segredos interessantes.

Lembro que na primeira vez que vi uma colônia dessa, coberta até a tampa de crias e muitos potes de mel cheguei a duvidar da inexistência do ferrão, por um momento pensei que fosse até apis. A surpresa veio acompanhada da paixão e desde aquele dia venho me dedicando a criação dessa espécie tão produtiva.

Eu já tive a uruçu e outras espécies nas mais varias caixas, caixa tido como inteligentes, INPA, PNN, RTL, Maria etc. E devo confessar uma coisa, nenhuma delas proporciona o conforto que a caixa Modelo Nordestina Padrão para uruçu proporciona. Respeito imensamente quem tem opinião contrária, mas a minha certeza é a seguinte, quanto mais me afasto da caixa tradicional (Nordestina) mais aparece um fator complicador no manejo. Essa opinião é pessoal e só serve pra meus objetivos (multiplicação).


Ainda não encontrei espécie que se compare com a Uruçu, a sua imensa população proporciona ao meliponicultor mais experiente uma enorme facilidade de manejo. Tirar família de uma caixa dessa é pra mim uma das coisas mais fáceis do mundo, já cheguei a produzir de uma única família em menos de uma ano (técnica 2:1) 06 novas caixas e mesmo assim a caixa mãe mantinha ótimos níveis de população.

Quando maduros (discos claros) basta descolarmos os pilares de sustentação lateral e levantarmos o conjunto por completo de discos, atualmente não usamos mais a tábua divisória do ninho e melgueira o que tem facilitado ainda mais a retirada dos discos sem provocar praticamente nenhum dano.


Outra vantagem da caixa Nordestina é a facilidade para alimentarmos internamente, como a caixa é alta acomoda tranguilamente os bebedouros de passarinho que são utilizados com alimentadores. Falando nisso um desses cheio com capacidade de 300 ml e devorado em menos de 2 horas.


Outra interessante introdução foi a utilização do acetato sob a tampa superior, o uso do acetato 0.30 tem proporcionado uma grande vantagem nas avaliações das colônias, mas principalmente para a introdução do alimentador pois bastar levantarmos a lateral desejada para a substituição dos bebedouros.


O acetato 0.30 não é tóxico as abelhas e devido as suas qualidades tem evitado a morte por esmagamento de campeiras durante o fechamento da tampa, outro dica de manejo interessante foi a colocação de tiras de papel borracha (evi) nas bordas o que escuresse as caixas novas diminuindo a produção de batume.

Uma coisa que tenho percebido e tem me deixado bastante satisfeito é a observação de umidade no interior do enxames de uruçu. Em Mossoró-RN, devido ao clima muito seco era necessário muitas vezes a colocação de água dentro das colônias, mas em Tibau-RN, devido as novas condições climáticas (litoral) isso não tem sido necessário pois sempre encontro algumas importantes gotículas de água no acetato, graças a umidade natural da região.


Essa é uma da várias famílias que já estão separadas para divisões em agosto, estou só esperando esses discos amadurecerem para retirada de novas famílias, é por isso que tanto gosto da caixa nordestina, graças a abertura de toda a caixa podemos observar em detalhe de uma só vez todo enxame e com o acetato ficou ainda mais fácil.



Se pararmos pra contar com paciência perceberemos que cada disco desse tem em média de 800 a 1000 células de cria, por isso que é tão fácil multiplicar essas abelhas, pois na medida que vão nascendo rapidamente chegamos a um bom números de campeiras mesmo nos enxames recém criados. Fico a me perguntar sobre a quantidade de alimento ingerido pelas rainhas para manter tamanha capacidade reprodutiva.


Em algumas colônias chego a colocar dois ou mais alimentadores pois todos são consumidos em menos de 2 horas, visto a força dos enxames. Fora que a quantidade de potes de polén é absurda, andei pessando algumas caixas e ultrapassaram facilmente a casa dos 20kg de puro alimento.


Muitas de minhas matrizes ainda estão sem o acetato, acontece que a folha do acetato é bem cara, apenas para ter uma idéia uma folha de 60 x 50 custa R$ 12,00, bem salgado. Mas o ganho no manejo vale a pena, pois a melhora no manejo é significativa. Veja que na foto abaixo há muitas abelhas mortas pelo esmagamento constante do abre e fecha, com o uso de acetato acabamos com isso.


Em muitas das matrizes fica até ficil colocar o alimentador pois elas já consumiram todo o espaço da caixa, essa é a força da uruçu que a cada dia me deixa mais estimulado com futuro promissor desse inseto. Minha intenção é investir muito nessa abelha pois acredito que ela tenha um grande potencial.

Observem que na foto da matriz abaixo, devido a presença do acetado 0.30, não há praticamente abelhas mortas nas bordas. Na verdade nem era preciso levantá-lo, pois poderiamos avaliar o enxame por cima dele.


Essa foto abaixo é uma das minhas caixa novas que foram dividas a poucos dias e em breve estarão a todo vapor de produção, o que mais chama atenção é a grande quantidade de abelhas, pois é um enxame recém formado. Por isso que tanto gosto desse abelha, acredito que ela poderá ser uma alternativa viável a meliponicultura em muitos aspectos.

Os potes de alimento foram todos construídos em menos de uma semana e quase todos são de polén, a presença desse alimento me garante que minhas abelhas estão respondendo de forma excelente a região, prentendo manté-las aqui por bastante tempo, pois todas as condições são extremamente favoráveis a sua criação.

Ainda ouviremos falar muito das Uruçus Verdadeiras do Meliponário do Sertão.

att,
Mossoró-RN, em 02 de agosto de 2011.

Kalhil Pereira França
Meliponário do Sertão

A Beleza da Uruçu Amarela (melipona rufiventris)


Da família das Uruçus, podemos dizer que ela é tão produtiva e populosa quanto a sua irmã, a Verdadeira. A Uruçu Amarela, também conhecida cientificamente com melipona rufiventris é, sem sombra de dúvida, uma das abelhas mais bonitas do mundo.


Podendo chegar facilmente na casa das 5 mil abelhas tem grande capacidade produtiva. A Uruçu amarela é uma das espécie que pode levar a meliponicultura a níveis comerciais na produção de mel e polén. A sua raridade, tanta na natureza quanto na meliponicultura racional, tem elevado os custos de aquisição de novas matrizes, mas mesmo assim é uma das espécies viáveis com grandes possibilidades, principalmente para divulgação da atividade, pois sua beleza chama muito atenção. Quem não gostaria de ter uma linda abelha dessa enfeitando o seu belo jardim???

Mas não é só a beleza que faz a diferença nessa abelha, em áreas de boa florada tem grande capacidade produtiva, chegando facilmente na casa dos 10kg de mel/ano. Uma coisa que pude perceber é que são mais agressivas, costuma beliscar com muito mais frequência do que a verdadeira. Mas também não poderia ser diferente, com diz o poeta, a beleza sempre vem acompanhada de um temperamento forte.

Pesquisas recentes tem mostrado muita coisa interessante sobre a família rufiventris, até agora já foram catalogadas mais de 13 subespécies, o que mostra que ainda há muita coisa a se descobrir sobre essas abelhas que chamam tanta atenção.

Minhas poucas matrizes tem mostrado a sua força, graças aos meus cuidados as abelhas no meu meliponário vivem uma vida de hotel, sempre bem alimentadas estão em ótimas condições para novas divisões. Quem deseja praticar uma meliponicultura de qualidade deve manter sempre boas matrizes como essa abaixo. Seus discos são de uma beleza ímpar.


Mesmo diante de tamanha beleza, essas abelhas tem uma grande diferença com a Uruçu verdadeira, a uruçu amarela é extremamente dependente de mata verde e praticamente não se adapta em regiões onde a umidade é muito baixa, como a da caatinga por exemplo. É tão verdade que as minhas amarelas são mantidas no litoral e são sempre bem alimentadas, se levadas para o interior pereceriam com facilidade.


Estou alimentando pois pretendo dividir os enxames no final do mês de agosto, esse alimentador que tem a capacidade de 300ml é consumido em menos de uma hora, essa quantidade é apenas um lanche rápido para elas, mas que ajuda muito se fornecido com certa regularidade.

Diante de tamanha diversidade de espécie de abelhas sem ferrão fica muito difícil escolher a mais bela, mas certamente a uruçu amarela está no topo dessa lista. Acho que ninguém resiste a essa moça de corpo dourado e olhos verdes tão intenso.

att,

Mossoró-RN, em 02 de agosto de 2011.

Kalhil Pereira França
Meliponário do Sertão