sábado, 29 de dezembro de 2012

Rainha sem cabeça...

Hoje pela manhã, logo ao entrar no meliponário, encontrei uma abelha rainha morta no chão. Trata-se de uma velha rainha de caixa desconhecida que literalmente perdeu a cabeça, tendo sido morta provalmente pelas suas próprias filhas. Percebe-se logo, pela foto abaixo, que a morte da mesma se deu pela sua idade avançada.

(Clique nas fotos para ampliar)

(rainha velha sem cabeça, morta pelas próprias abelhas devido a idade avançada)

Na verdade, o tempo de vida de uma rainha nas abelhas Jandaíras varia de 2 a 4 anos na natureza e não deve ultrapassar os dois anos na meliponicultura racional, pois além desse prazo a rainha tem uma queda significativa na postura, inviabilizando as divisões nos prazos esperados.

(Rainha nova, coloração clara, postura sem falhas e em bom número)

É muito fácil identificar uma rainha velha. A primeira característica da idade avançada é a coloração bastante escura. As rainhas novas tem uma coloração dourado claro. A segunda característica é a presença de muitas falhas nos discos de cria, como podemos perceber na foto abaixo.

(postura falhada, um possível sinal de rainha velha)

A terceira e não menos importante é a ausência de membros ou parte de membros do corpo. Nessa rainha que foi morta podemos observar o desgaste avançado de suas asas. Mas além desse fator é muito comum observarmos muitas rainhas velhas sem alguma pata ou mesmo sem alguma assa.

(Colônia com excelente nível postura e sem falhas)

A meliponicultura racional recomenda que a cada dois anos as rainhas sejam, de maneira programa, substituídas por rainhas jovens para mantermos uma taxa de postura ideal. Isso não quer dizer que algumas rainhas não possam viver além disso, mas é sempre muito importante que as mesmas sejam trocadas na medida que os sinais de fragilidade aparecerem.

Tibau/RN, em 29 de dezembro de 2012.


Kalhil Pereira França, com o apoio da Maria Eduarda M. R. R. de França (filha)
Meliponário do Sertão



quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

De férias com as Jandaíras...

Estando de férias até meados de fevereiro, nada mais justo do que, depois de um ano de muito trabalho na repartição, me dedicar integralmente as minhas queridas abelhas. Devido a intensidade da forte seca dos últimos meses, tenho literalmente empurrado muito xarope nas minhas meninas.

Na última semana tenho alimentado as abelhas todos os dias, sempre pela manhã bem cedo. Tenho optado pela alimentação coletiva externa, principalmente pelo fato das atuais caixas que tenho disponíveis impossibilitarem a introdução dos alimentadores. 

 Mas na verdade, tenho optado por esse método pelo espetáculo que a alimentação coletiva proporciona, quando realizada de maneira correta. É literalmente uma festa, principalmente para os curiosos mirins. Tenho feito isso sempre acompanhado do meu filho Heitor, que mesmo com apenas com 1 ano de 5 meses já tem grande afeição pelas abelhas. 

 
(clique nas fotos para ampliar)

 Minha intenção é transmitir a ele toda a minha paixão por esses animais tão especiais. Quero muito que ele siga os meus passos e continue o legado iniciado pelo meu avô, mantendo assim o tradicional e importante hábito de criar as abelhas Jandaíras, tão indispensáveis a manutenção da nossa caatinga.

(alimentador coletivo, ótima opção para alimentação das abelhas)

Tenho utilizado uma tábua de madeira na qual cavei duas covas alongadas, fazendo assim uma espécie de cocho numa profundidade de mais ou menos uns 2cm por 2cm de largura. As dimensões apresentadas tem servido muito bem à alimentação de pouco mais de 40 colônias. 

 (meliponário de Jandaíra, caixa modelo nordestina tradicional)

Além da alimentação artificial tenho testado um método de divisão pouco conhecido pela grande maioria dos meliponicultores, mas que me tem surpreendido bastante. O primeiro a utilizar essa técnica foi o meu querido amigo Rivan, meliponicultor muito experiente e profundo conhecedor do manejo com a Jandaíra. 
 
Sua divisão é bastante audaciosa, provocando inicialmente na colônia mãe um grande impacto com a retirada de todos os discos de cria, eu disso TODOS. É isso mesmo, ele retira por completo a área do ninho e fornece a colônia filha. 

A técnica inicialmente sempre me provocou muita desconfiança, pois achava que isso provocaria um grande prejuízo a colônia mãe pela ausência de novos nascimentos num prazo de 40 dias. Mas como sempre fui muito curioso resolvi testar. 

Na véspera do natal (dia 24/12) realizei duas divisões utilizando essa técnica, ou seja, retirando todo o ninho da colônia mãe. Hoje está fazendo 3 dias que realizei a divisão e passei a inspecionar as colônias filhas e dividas para observar o desenrolar da coisa. 


(Colônias filhas com ninho completo, com 3 dias e sem rainha ativa)
 Nas colônias filhas as caixas apresentam ótimo desenvolvimento, já há construção de potes de alimento bem como todos os ninhos já foram colados no interior das caixas. Utilizei caixas antigas, por isso não se surpreendam com a grande quantidade resina e batume. Percebe-se um ótimo movimento externo e por mais surpreendente que pareça, já consigo observar algumas princesas bem ativas tentando dominar a colônia, ou seja, tudo vai muito bem.

Mas minha curiosidade era observar as colônias mães que tinham sofrido a retida dos discos. Pois bem, como podemos observar abaixo, em todas as duas colônias as rainhas antigas já voltaram a colocar ovos, já se observa uma significativa área de postura e uma boa movimentação interna de abelhas adultas. 


(Colônias mães recuperando área do ninho doado)

Pois bem, como se observa não ocorreu todo aquele prejuízo que inicialmente acreditava, pois mesmo sem todo ninho a rainha não encontra problemas para recompor a área de postura, a técnica é viável e segundo as observações do colega são de uma taxa de pega de praticamente 100%, ou seja, é realmente muito boa. 

(potes de mel cheios em colônia mãe, importância da alimentação)
 Mas alerto que esse método não pode ser feito por qualquer um, é preciso certo conhecimento e bastante experiência de manejo com as abelhas para acompanhar o desenrrolar da coisa, pois de toda forma a retirada de todo o conjunto de discos deve ser feito com cuidado. Além disso, é preciso que a caixa esteja com uma ótima reserva de alimento pois perderá grande força de trabalho. 

(colônia matriz a ser divida, mesmo na seca, ninho até a tampa)
 Já estou separando mais 3 colônias para nos próximos dias continuar o trabalho de multiplicação de enxames. Atualmente estou com poucas colônias de Jandaíra e pretendo multiplicar quase todas até o início do inverno. Mas não tenho pressa, como estou de férias tenho todo tempo do mundo para me dedicar as minhas queridas e amadas Jandaíras.


 Tibau/RN, em 27 de dezembro de 2012.


Kalhil Pereira França 
Meliponário do Sertão

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Documentário "Aboio"

Ainda não tive a oportunidade de assistir esse documentário, mas alguns amigos me recomendaram. Estou providenciando a compra do DVD pela produtora. Tenho certeza que pela temática abordada e pelo cenário deve ser algo inesquecível.



Doc | 2005 | 73 min
Sinopse
No interior do Brasil, adentrando as extensões semi-áridas da caatinga, há homens que ainda hoje conservam hábitos arcaicos, como o costume de tanger o gado por meio de um canto de nome aboio. O filme aborda a música, a vida, o tempo e a poesia dos vaqueiros do sertão.

Direção: Marília Rocha

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Um novo parasita de colônias de Meliponini é descoberto em Mossoró (RN)

Boa Tarde Kalhil, tudo bem?

Nós publicamos recentemente dois artigos sobre um parasita novo de abelha jandaíra. Seguem os links dos trabalhos publicados e também dois links de vídeos no youtube. A divulgação desse assunto é muito importante para a meliponicultura.
 Obrigada
Abraços

Camila Maia Silva
Pós-graduação em Entomologia
Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto, USP
AV. dos Bandeirantes, 3900
cel: 55-84-99909246
e-mail: camilamaia@usp.br; maiasilvac@gmail.com


 Um novo parasita de colônias de Meliponini é descoberto em Mossoró (RN)







































Ao fazerem uma vistoria em uma colônia de Melipona subnitida, jandaíra, Camila e Vera notaram a presença de algumas células de cria com aspecto diferente, com a parte de cerume raspada pelas operárias e um casulo forte e esbranquiçado aparente. (fig. 1). Abrimos com dificuldade uma destas células de cria, pois o casulo é muito resistente. O que surgiu foi um inseto muito diferente das abelhas, com uma cabeça pequena e mandíbula forte, que nunca tínhamos visto em uma colônia de abelhas sem ferrão. Até o momento não há na literatura especializada nenhum registro de outros insetos nascendo das células de cria de abelhas sem ferrão, no lugar das abelhas.

Outras colônias também apresentavam células de cria com a mesma aparência. Delas, ao anoitecer, emergia um inseto ativo, mas ainda sem asas (fig. 2). Pernas anteriores raptoriais, parecendo com um louva-deus. Saíam da colmeia e só então sofriam a última muda (fig. 3). Era um inseto da Ordem Neuroptera; esses insetos dificilmente são encontrados na natureza e em coleções biológicas de museus. Na literatura não havia nenhuma referência à invasão de ninhos e parasitismo de cria em abelhas sem ferrão. Algumas espécies de Neuroptera são mais conhecidas e estudas, pois são predadores de aranhas, alimentando-se de seus ovos e cria jovem.

Vídeos:

Procuramos os especialistas no grupo e o parasita foi identificado por Renato J. P. Machado. O parasita era Plega hagenella uma espécie com distribuição desde a América Central até o sudeste do Brasil, mas com poucos exemplares em coleções brasileiras e nenhum registro no nordeste brasileiro.

Durante os meses de abril e maio de 2012, ao examinarmos as colônias de duas localidades, na Fazenda Experimental Rafael Fernandes, em Mossoró/RN, onde fica o meliponário da UFERSA, e na Fazenda Belém, em Icapuí/CE, distantes entre si cerca de 35 km, verificamos que 48% das colônias investigadas (total de 64 colônias investigadas) foram infestadas pelo parasita.

Ao contrário de outros insetos que parasitam colônias de Meliponini e geralmente se alimentam de pólen, néctar ou crias mortas, as larvas de Plega hagenella desenvolvem-se dentro das células de crias e se alimentam de larvas ou de pupas das abelhas. Antes da fase de pupa a larva do parasita come completamente a abelha imatura (fig. 4). Consequentemente, a infestação reduz a produção de novas operárias, provocando um declínio nas populações das colônias.

Ainda não sabemos se as fêmeas adultas de P. hagenella invadem as colônias de abelhas para colocar seus ovos dentro das células de cria operculadas. No entanto, outra possibilidade seria que as fêmeas deixam seus ovos nas flores e as larvas de primeiro instar, as quais são pequenas e móveis, sejam levadas pelas abelhas forrageiras para dentro das colônias. Ou ainda, os ovos poderiam ser deixados em locais próximos às colônias e as larvas de primeiro instar entrariam, através de fendas, nas colônias.

Existem poucos estudos sobre a biologia desses insetos de grande importância para a Meliponicultura. Solicitamos aos meliponicultores que encontrarem células de cria com este aspecto, ou o parasita no ninho ou nas proximidades, que se comuniquem conosco; o parasita pode ser mantido em álcool ou no próprio casulo, em um tubo bem fechado, e enviado para a coleção do Departamento de Ciências Animais da UFERSA, a/c de Michael Hrncir, no endereço mencionado neste trabalho.

Camila Maia-Silva1, Dirk Koedam2, Michael Hrncir2 e Vera Lucia Imperatriz-Fonseca1,2
1Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Avenida Bandeirantes 3900, Ribeirão Preto-SP, 14040-901, Brasil
2 Departamento de Ciências Animais, Universidade Federal Rural do Semi-Árido, Avenida Francisco Mota 572, Mossoró-RN, 59625-900, Brasil 

Fonte: http://www.apacame.org.br/mensagemdoce/119/artigo2.htm

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Finalmente, hoje choveu!


Depois de uma manhã de muito trabalho, vou descendo as escadas da repartição onde labuto olhando a hora. São exatamente meio-dia em ponto no meu relógio e também no meu estômago, que já pede providências. Como diz o ditado: saco vazio não pára em pé.

No emaranhado de salas e corredores da Promotoria de Justiça vou fixando o olhar para porta de saída de vidro que, translúcida, já me traz boas novas. Alguém de longe me chama pelo nome, mas pela mistura de alegria e admiração passa despercebido, não escuto, agora só vejo. 

Prefiro acelerar as passadas e me deparar com essa raridade da natureza que ultimamente tem feito extrema falta ao sertão - está chovendo! Ainda é uma pequena garoa, mas a melancolia do momento faz com que as pequenas gotas de chuva me recorde das torrentes cachoeiras da serra de Portalegre/RN, durante um bom inverno. 

 (cachoeira do Pinga, Portalegre/RN)
fonte: http://mauricio-mauricioferreira.blogspot.com.br/2012/01/belezas-do-rn.html

Alguém da recepção se levanta e fica a me observar parado em meio a calçada deixando as poucas gotas de chuva levemente me molhar. Pergutam se estou louco! Nem ligo, eles não entendem, a essa hora não me preocupa o sapato de couro ou a camisa do terno. Na verdade, o que me vem a mente é uma antiga oração de agradecimento pela chuva, muito conhecida no Santuário do Menino Jesus de Praga que diz assim:

 "Olá Jesus, meu amigo, meu irmão e meu Deus! Hoje quero agradecer-te a chuva boa, aquele que faz bem a todos. É graças a esta chuva que a natureza tem vida e as plantas, as flores e as árvores do campo podem crescer. Que bela é a natureza quando fica tudo verde por causa da chuva! É graças à chuva que enche os rios e os lagos que eu posso ter água para beber, para me limpar, para lavar, para tomar banho e nadar. Sem ela não era possível ter a comida que me alimenta todos os dias. Quantas coisas boas esta chuva nos faz sem nos darmos conta! Ela é constante e simples, transparente e limpa, generosa e gratuita. Ela é, sem dúvida, uma graça do céu para todos. Eu também gostava de ser como ela: uma prenda do céu para todos os que me rodeiam. Queria fazer todo o bem à minha volta como faz esta chuva boa. Jesus, faz com que as minhas acções de cada dia sejam como pequenas gotas de chuva, que contagiam a vida onde vivo. Gotas que façam crescer a alegria nos outros. Gotas que não deixem o outro passar sede de companheirismo e amizade. Gotas que limpem os amuos, os insultos e as brigas. Gotas que contagiem generosidade e solidariedade. Assim seja." 

Vou caminhando em busca de um pequeno restaurante nas proximidades do trabalho. No caminho me deparo com um moto-táxi, depois de perder a corrida, a reclamar da chuva: mas tinha que ser essa hora São Pedro?

 Para a grande maioria dos sertanejos, nos quais me incluo, a chuva é uma dádiva. Certa vez um velho me disse que chuva era melhor dinheiro, por essas bandas a reflexão é a mais pura verdade. Há meses não chove em Mossoró e região, tenho acompanhado de perto o sofrimento do meu povo, que tem na seca a pior de suas lástimas. 

Esse problema crônico secular, motivado muito mais pela falta de interesse político do que divino, é um dos maiores pilares da vida no sertão. Seca e chuva estão para o sertanejo como pobreza e riquesa estão para os homens de negócios. 

Chego ao restaurante, faço meu pedido e espero o prato chegar, enquanto isso me lembro de como devem está felizes a essa hora as minhas queridas Jandaíras. Que o Grande Arquiteto Do Universo tenha piedade de nós e ordene a todos os anjos do Senhor que mande chuva para acalentar àqueles que tem sede. Lembro-me das poucas novilhas de meu Tio Wilson, homem simples, do campo, de poucas palavras, mas de um coração maior que seu próprio peito. 

Lembro-me da caatinga, da mata seca, retorcida, aparentemente sem vida que, em breve, explodirá em flor proporcionando as abelhas a prosperidade já muito bem cantadas pelo velho Luiz Gonzaga. 

Não demoras muito, a chuva continua a cair ainda mais fraca levantando cheiro de mato molhado. O tempo corre, quando percebo, já está na hora de voltar ao trabalho, mas agora com todas as baterias renovadas para enfrentar o segundo tempo. 

att,

Mossoró/RN, em 30 de novembro de 2012. 

Kalhil Pereira França 
Meliponário do Sertão

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Um novo blog


Há dias estou sem atualizar o blog, mas prometo que no decorrer dessa semana postarei algumas coisas interessantes, principalmente relacionados a alimentação artificial que tem sido uma constante dúvida de muitos leitores, em especial a protéica. Prometo que vou repetir uma postagem aqui já feita novamente de maneira mais detalhada.

Mas hoje não falarei de abelhas, falare de fotos. Gostaria de recomendar a leitura do blog do meu amigo Lívio Victorius (Centurião-Comandante em Chefe das Forças do Império Romano. rsss) que vem se mostrando um ótimo fotógrafo amador. 

(Fonte: http://fotosporlivio.blogspot.com.br/)

Lívio é um sertanejo, natural de Pau dos Ferros, cidade do interior do Rio Grande do Norte e é, como eu, apaixonado pela sua região. Conhecedor da beleza e rusticidade da caatinga, nos últimos dias, depois de muita insistência de minha parte, criou o blog http://fotosporlivio.blogspot.com.br/ para retratar a nossa região com muita sensibilidade.

Espero que gostem dessa mistura bucólica de inteligência sertaneja.

 Mossoró-RN, em 12 de novembro de 2012.

Kalhil Pereira França
Meliponário do Sertão 

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

O Meliponário da Reserva Natural Serra das Almas

Após percorremos mais de 490km de Mossoró/RN até Crateús/CE, finalmente chegamos a Reserva Natural Serra das Almas. A reserva é mantida pela Associação Caatinga e é considerada pela UNESCO como Posto Avançado da Reserva da Biosfera, devido ao modelo inovador de conservação da Caatinga desenvolvido em conjunto as comunidades do seu entorno.


Reservas da Biosfera são áreas de ecossistemas terrestres internacionalmente reconhecidas pela UNESCO que possuem três importantes funções: conservação, devenvolvimento e apoio logístico às áreas protegidas.


São 6.146 hectares de área protegida que resguardam três nascentes e espécies ameaçadas de extinção. Aqui são desenvolvidas atividades de pesquisa científica, recreação e visitação escolar, além de projetos de educação ambiental e desenvolvimento sustentável junto às comunidades do entorno, combinando preservação com geração de renda e melhoria de qualidade da vida local.




Nossa visita tinha por objetivo montar o meliponário que há meses vinha sendo projetado para alocar 200 colônias de Jandaíra. A entrega das primeiras colônias, que serão mantidas pela Associação dentro da reserva  no intuito de devolver à região uma espécie que atualmente não é mais encontrada naturalmente, foi realizada sob clima de muita alegria pela concretização de um sonho.

Aqui as Jandaíras serão multiplicadas e as colônias filhas serão doadas aos moradores das comunidades assistidas pela Associação, em regime de parceria. O meliponário da reserva tem por objetivo servir de fonte para pesquisas científicas, inspiração para projetos de educação ambiental e acima de tudo, preservação de uma espécie que a cada dia vendo sendo ameaçada.


Distante 100 metros da sede, caminhando na antiga trilha do açude, chegamos ao Meliponário construído de alvenaria em padrões ecologicamente corretos.



O Meliponário é, na minha humilde opinião, o sonho de qualquer meliponicultor. Construído para suportar tranguilamente 400 colônias, está margeado num raio de 10 km em plena mata de caatinga que ao longo dos últimos dez anos vem sendo recuperada pelos esforços da Associação Caatinga.



Construído em formato de heptágono (7 lados), foi pensado para que todo o trabalho com as abelhas fosse desenvolvido dentro das instalações do meliponário. O telhado é uma obra de arte a parte, feito de maneira a sustentar toda a estrutura circular. Possui ótima bancada interna, tela de proteção, iluminação interna e externa e uma pia para lavagem de materiais e utensílios de manejo.



Assim que chegamos as caixas foram postas nas prateleiras e passei as primeiras orientações sobre o processo de soltura das abelhas que ocorreria nos dias seguintes, pois quando estamos diante de tantas colônias reunidas em um novo local é preciso que a liberação das abelhas seja feita aos poucos para evitar tumulto e briga entre as campeiras.



Ainda no primeiro dia conferimos algumas colônias para verificar se tinham chegado bem. A viagem longa na carroceria do carro deixa as abelhas irritadas, mas tudo estava em perfeita ordem, graças ao Grande Arquiteto Do Universo.



Mesmo cansados, todos nós estavamos muito felizes em poder contribuir com um projeto tão importante para as nossas abelhas nativas. Estamos plantando muitas sementes nesse sertão e esperamos que, mesmo diante de tantas adversidades, as próximas gerações possam collher os frutos desses pioneiros.

No dia seguinte, após uma noite muito tranguila nas dependências da sede da reserva, tomamos um café maravilhoso típico do Sertão. Ainda muito cedo, por volta das 5:30h da manhã, me dirigi ao meliponário para soltar o restante das colônias.




Assim que retiramos as telas, as abelhas saiam as centenas realizando, imediatamente, o voo de reconhecimento na nova morada. me sentei junto a velho tronco de angico e fiquei a observar a festa. No início da manhã foi aquela agitação, mas no decorrer do dia todas foram se achando e a harmonia voltou a reinar.


Ainda pela manhã fui conhecer alguns dos vários projetos que são realizados pela Associação. Entre eles está um lindo trabalho de reflorestamento da mata de caatinga, com as mudas de espécies nativas que são criadas em viveiros e estufas da reserva.

 No total, são mais de 40 espécies de árvore da caatinga que são cultivadas para  replantio de áreas degradadas. Ganhei de presente quatro mudas de Ipê roxo e amarelo. Irei plantá-las em Taboleiro Grande-RN, ao lado da antiga Casa Grande, em Homenagem ao Velho José Carneiro, meu querido avô, a quem devo o gosto pelas abelhas Jandaíra. Sei que onde ele estiver, certamente, está muito feliz pela continuação de nosso trabalho.


Sai da reserva com uma imensa vontade de ficar encantado com tudo que vi. Agradeço imensamente a Associação Caatinga, na pessoa de sua Coordenadora Railda Machado, pela maravilhosa oportunidade de conhecer e agora participar de um dos vários projetos realizados pela entidade. Nos próximos dias ocorrerão as primeiras capacitações com os moradores das comunidades locais para formação de novos meliponicultores. 

Mossoró-RN, em 10 de setembro de 2012.


Kalhil Pereira França
Meliponário do Sertão

Reserva Natural Serra das Almas

...
A travessia das veredas sertanejas é mais exaustiva que a de uma estepe nua. Nesta, ao menos, o viajante tem o desafogo de um horizonte largo e a perspectiva das planuras francas.

Ao passo que a caatinga o afoga; abrevia-lhe o olhar; agride-o e estonteia-o; enlaça-o na trama espinescente e não o atrai; repulsa-o com as folhas urticantes, com o espinho, com os gravetos estalados em lanças; e desdobra-se-lhe na frente léguas e léguas, imutável no aspecto desolado: árvores sem folhas, de galhos estorcidos e secos, revoltos, entrecruzados, apontando rijamente no espaço ou estirando-se flexuosos pelo solo, lembrando um bracejar imenso, de tortura, da flora agonizante...
...
... Suas árvores, vistas em conjunto, semelham uma só família de poucos gêneros, quase reduzida a uma espécie invariável, divergindo apenas no tamanho, tendo todas a mesma conformação, a mesma aparência de vegetais morrendo, quase sem troncos, em esgalhos logo ao irromper do chão. É que por um efeito explicável de adaptação às condições estreitas do meio ingrato, evolvendo penosamente em círculos estreitos, aquelas mesmo que tanto se diversificam nas matas ali se talham por um molde único. Transmudam-se, e em lenta metamorfose vão tendendo para limitadíssimo número de tipos caracterizados pelos atributos dos que possuem maior capacidade de resistência.
 
Esta impõe-se, tenaz e inflexível.
... (CUNHA, Euclides da. Os Sertões. São Paulo: Três, 1984)

Neste último final de semana, no intuito de entregar as primeiras colônias de abelha Jandaíra, a equipe do Meliponário do Sertão esteve no Reserva Particular do Patrimônio Natural Serra das Almas, mantida pela Associação Caatinga. A reserva é reconhecida pela Unesco como Posto Avançado da Reserva da Biosfera por abrigar uma representativa parte da caatinga no sertão de Crateús-CE. 
 
São 6.146 hectares de área protegida que resguardam três nascentes e espécies ameaçadas de extinção. São desenvolvidas atividades de pesquisa científica, recreação e visitação escolar, além de projetos de educação ambiental e desenvolvimento sustentável junto às comunidades do entorno da reserva, combinando preservação ambiental com geração de renda e melhoria da qualidade de vida local.

Mais detalhes sobre o projeto e a viagem, em amanhã...





quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Uma Enorme Surpresa, (Abelha Limão em plena caatinga)

Há dez anos praticando meliponicultura, várias foram as vezes que me surpreendi com as abelhas nativas, Mas nunca como na semana passada. Estava indo visitar um amigo na zona rural de Aracati/CE quando um menino, devia ter uns 10 pra 11 anos, me parou o carro em plena estrada carrosal e disse:

 (foto meramente ilustrativa, fonte: internet)

 - Ei, é você que vive procurando por abelhas por aqui?

- Sim, sou eu mesmo, muito prazer, rs.. em que posso ajudá-lo?

 - É que meu pai cria Jandaíras, Jatis, Amarela e uma LIMÃO, conhece?

 Depois do susto exclamei...
- LIMÃO? MAS LIMÃO MESMO? E você conhece abelha menino? 

- Oxe! Conheço home... é uma limão sim. Aqui todo mundo só chama aquela abelha de "abelha limão".

 - Rapaz, você tá de conversa fiada comigo, aqui não tem Limão rapaz! Como é que eu nunca vi essa abelha por aqui?

- Ora se eu sei moço! Ta duvidando de mim, pois venha vê, eu aposto um picolé!

 Pensei comigo... "Esse menino deve ta confundindo as espécies e eu vou só perder meu tempo entrando nessa casa pra vê essa abelha, é capaz de ser só uma Cupira".

 Muito desconfiado fui entrando no quintal da casa do garoto. Confesso que nem licença pedi pois o Dono (pai do menino) não se encontrava e sua mãe estava bem distante lavando uma amontoada pilha de louças. Não demorou muito e ele foi me mostrando:

 - Olha, aqui são as Jandaíras, essas aqui são Amarelas, essa aqui é a Jatí (o danado do menino conhecia todas!!!) e aquela alí, encostada na parede, é a limão.

- RAPAZZZZZ!!!! É uma limão mesmo!!!! SANTO DEUS... pois não é!!! 


 (clique para ampliar)

Nessa hora os neurônios de minha cabeça entram em colapso, a surpresa foi tamanha que acho que até a máquina fotográfica não estava acreditando naquilo que registrava, pois resolveu dá pau exatamente naquele momento. Não consegui tirar uma única foto boa para o blog, pois o bendito foco estava descontrolado. A minha sorte foi o celular pois tirei algumas fotos legais com ele.

 A Abelha Limão, também conhecida por IRATIM (Lestrimelitta limao, Smith, 1863), é uma abelha nativa brasileira que possui comportamente predatório. Essa abelha nativa não vive de polinização, não coleta néctar, nem muito menos pólen, por isso mesmo não possuem corbículas. Sua única atividade de subsistência é a pilhagem as outras espécies nativas, que variam desde meliponas de pequeno porte, como mandaçaias e Jandaíras, a trigonas e scaptotrignas, como Jataí, Jati, Cupiras, Tubibas etc. 

 (clique para ampliar)

São conhecidas como abelha limão pelo cheiro cítrico característico dessa fruta na sua composição. Elas exalam esse forte odor dentro da colônia atacada provocando uma desarmonia, gerando uma castração feromonal. Essa habilidade confere às limão uma estratégia única: ao exalar esse cheiro elas “bloqueiam” a comunicação e confundem suas vítimas desmobilizando-as. Sua entrada é arte a parte, com vários entradas falsas para enganar os inimigos naturais (formigas, largatixas etc).

 Extramente populosas, seu mel não é de boa qualidade, possui forte cheiro e gosto desgradável. É, por parte da grande maioria dos meliponicultores, temida, pelos motivos já exposto. Há àqueles que, inclusive, recomendam sua extinção da natureza, o que na minha humilde opinião é um grande exagero.

 Como toda espécie na natureza a Abelha Limão possui seu papel. No passado era responsável pela controle biológico das abelhas sem ferrão, todavia, devido ao desaparecimento acelerados das abelhas nativas de seu habitat natural estão se tornando cada vez mais raras pela falta de colônias naturais para predação. 

  (clique para ampliar)
Em todos esses anos nunca tinha visto essa abelha em área de caatinga, e confesso que durante esse tempo pensei que a mesma não fosse nativa dessa região. Certa vez, conversando na UFERSA com a Dra. Vera Lúcia Imperatriz Fonseca, renomada pesquisadora da área de meliponicultura, a mesma já tinha me relatado um ataque dessa espécie as abelhas Jandaíras em Fazenda Experimental. Inclusive tendo sido feito registro com fotos e filmagem. Fato esse que demonstra que a espécie realmente é nativa da região de Mossoró. 

 Infelizmente, não pude demorar muito pois tinha o amigo para visitar, mas confesso que quase cancelei a visita para esperar pelo pai do menino, enquanto chupava um monte de picolé que o menino tinha ganhado na aposta acima,  que teimava em demorar. Mas acabou ficando para outra hora... 

Mossoró, em 06 de setembro de 2012. 


Kalhil Pereira França 
Meliponário do Sertão 

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

300.000 Visitantes

Essa semana chegamos ao surpreendente número de 300.000 visitas. Obrigado a todos que nos acompanham e sempre visitam este espaço dedicado com muito carinho as abelhas sem ferrão.

Estamos sempre à disposição de todos os amantes das abelhas nativas...



segunda-feira, 27 de agosto de 2012

A Maior Rapadura do Mundo

Neste domindo último, por volta das 10h, estava eu margeando a CE-040 com destino a Fortaleza-CE e na altura da cidade de Aquiraz me deparo com a seguinte placa:

(Venha conhecer a maior rapadura do Mundo)

Imediatamente parei o carro e vi que se tratava de um antigo engenho (agora mecanizado) que produzia produtos derivados à base da cana-de-açúcar, em especial rapadura, geleias e caldo de cana geladinho, tudo feito com com muito carinho e sabor.

Mas a minha curiosidade era na verdade ver de perto a maior rapadura do mundo. Para os desavisados a rapurada é um típico doce do Nordeste, muito consumido no passado pelos antigos vaqueiros que faziam uma mistura de carne de sol, rapadura e queijo de coalho, e que até hoje é muito apreciado pela população local.


Ao entrar no engenho me deparo com a espetacular maior rapadura do mundo. Realmente fiquei imprecionado com o tamanho da criança. Agora não me recordo as medidas nem exatamente o peso que me foi informado, mas sei que o pessoal do guinness book registrou o feito.

 
Passada a surpresa me dirigi a processo de fabricação da rapadura, que é quase uma arte. Muito solícito, seu Antônio me recebeu muito bem e passou-me a mostrar todo o processo que vai desde a moagem até o ponto final do caldo no tacho.

O processo é quase todo artesanal, o ponto ideal é um segredo só passado de pai para filho, pois cada engenho tem suas reservas. Com dito, diante de tamanha iguaria, não poderia deixar de aproveitar e me deliciar com um bom caldo de cana bem gelado servido aos visitantes acompanhado de algumas (ou várias) castanhas, a depender da gula do visitante.

(moagem mecanizada)

(caldo no tacho, ponto segredo secular)

(Seu Antônio montando a massa na forma, 30 anos de mestre doceiro)

Depois de pronta a massa é posta em moldes que mais parecem tijolos, em fôrmas de madeira para esfriar e em seguida embaladas para venda em vários do lugares do Ceará e Rio Grande do Norte. 



Doce não atrai somente os seres humanos, mas também as abelhas. Perguntei ao Seu Antônio se com tanto alimento atrativo ao ar livre não eram incomodados com abelhas. Não terminei a pergunta e ele me apontou várias que estavam sugando o açúcar das fôrmas ainda quentes.

A minha surpresa maior foi o fato de não serem em grande quantidade, mas segundo ele, vez por outra é preciso fazer fumaça para espantá-las.

Esse é o nosso Sertão e suas antigas e novas tradições...

Mossoró-RN, 27 de agosto de 2012.

Kalhil Pereira França
Meliponário do Sertão