terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Meliponicultor de Apartamento!!!

Algumas pessoas são viciadas em jogos de azar, bebidas, cigarro e até em drogas mais pesadas. Eu também sou um viciado, mas não é em nenhuma porcaria dessas aí descritas acima. Na verdade, meu vício é criar Jandaíras, minhas queridas abelhas sem ferrão do sertão.


Mas esse vício é legal, é um prazer que não faz mal nem a mim, nem a ninguém. Pelo contrário, faz é bem. Além de relaxar toda vez que vou manejá-las, sinto nesses momentos uma enorme satisfação pela atividade. 

Elas são exemplos vivos da constante presença em nossas vidas do Grande Arquiteto Do Universo. O seu trabalho incansável e sua dedicação exclusiva à família são demonstrações que a vida em união e harmonia são princípios fundamentais do criador.


Porém, como todo vício, tenho que ser constantemente abastecido desse hábito peculiar e, muitas vezes, estranho pra muita gente. Pois, afinal, não é todo mundo que compreende nossas paixões não é verdade?

Sendo assim, como um viciado que se preza, tenho que está constantemente em contato com as minhas queridas abelhas. Assim, mesmo morando em um apartamento, resolvi montar discretamente um meliponário na varanda. A idéia não é minha, afinal eu já postei aqui alguns malucos que fazem isso pelo Brasil à fora, e pior, com grande sucesso.


Algumas pessoas podem achar que isso não dá certo, mas podem acreditar, dá sim. Atualmente estou mantendo 15 colônias no apartamento. Mandei fazer uma prateleira de ferro especialmente desenhada para isso, pois como todo condomínio, não posso ultrapassar a linha imaginária da varanda. Mas bem que dá uma vontade de lotar aquilo tudo até o teto de abelhas...rsss...


Todos os dias, antes de sair para o escritório, assisto o Bom Dia Brasil com minha velha xicará de café/leite acompanhando a movimentação intensa das garotas chegando em suas ilustres residencias com muito pólen nas patas.


Meu bairro tem muitas fruteiras que nessa época do ano proporcionam uma grande abundância de alimento. Olha, criar abelhas em apartamento é mil vezes melhor do que criar um cachorro, ou mesmo um gato.  Não dão nenhum tipo de trabalho.


Primeiro por que as abelhas não fazem barulho, não sujam, não precisam de ração, não precisam de água, etc, etc, etc... Não precisam de nada. Na verdade, eu é quem preciso delas, pois a final sou viciado né! rs...


Dessa maneira tenho mantido minhas crises de abstinência sob controle, pois agora posso, mesmo sem um quintal, manter minhas Jandaíras bem próximas de mim. Não é o ideal, mas é o possível dentro de minhas limitações físicas. 

Essa marvilhosa dose diária de meliponicultura logo cedo é um ótimo estimulante. Assim consigo esperar o final de semana chegar para ir aos meliponários na zona rural que, logicamente, são bem mais populosos. Está aí a dica, mesmo morando nas alturas, podemos criar nossas abelhas sem ferrão.

Mossoró-RN, em 28 de fevereiro de 2012.

Kalhil Pereira França
Meliponário do Sertão

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Como as abelhas exercem a democracia


12 de janeiro de 2012 | 3h 0
 
Fernando Reinach - Jornal O Estado de S.Paulo

Apesar de terem uma rainha, as abelhas tomam decisões usando um processo democrático, que envolve a formação de opiniões individuais e a construção de um consenso coletivo. Agora foi descoberto um novo mecanismo que atua nesse processo. Um sofisticado processo de inibição é capaz de transformar os proponentes da proposta perdedora em defensores da proposta vencedora. Esse mecanismo permite à colmeia atuar unida após o término da eleição.

O processo de formação de uma nova colmeia é bem conhecido. Uma jovem rainha e um grupo de operárias saem da colmeia original e se agrupam em um local próximo. Sua primeira tarefa é decidir onde vão construir a nova colmeia. É uma decisão importante, uma vez que a escolha de um local ruim pode levar a colmeia incipiente à extinção.

Na primeira etapa, o grupo envia as operárias mais experientes para sondar as redondezas. Cada uma delas escolhe o local que acha melhor e defende a sua escolha. Isso ocorre por meio de uma espécie de dança. Essa dança tem duas partes: a primeira consiste em caminhar rebolando em linha reta; a segunda, numa curva sem rebolado, que faz com que a abelha volte para onde iniciou seu rebolado.

O comprimento do percurso em que a abelha caminha rebolando indica a distância até o local proposto; o ângulo da curva indica a direção em que as abelhas têm de voar para chegar ao local. E o número de vezes que ela repete a dança indica a avaliação que ela faz do local. Normalmente, diversas abelhas visitam cada local e fazem a propaganda dele para as colegas. Os diversos partidos políticos (cada um defendendo seu local) dançam até convencer a maioria. Quando isso ocorre, termina a eleição e todas as abelhas, mesmo a rainha, partem para o local escolhido e começam a construir a nova colmeia.

Quando estudaram a maneira como as abelhas analisam as diversas propostas e tomam a decisão (apuração dos votos e declaração da proposta vencedora), cientistas observaram que durante a dança ocorria algo estranho. Enquanto uma abelha dançava, várias outras davam cabeçadas na dançarina - e, dependendo do número de cabeçadas, parecia que ela resolvia parar de repetir a sua dança. Aí eles se perguntaram quem eram as abelhas que davam as cabeçadas.

Para identificá-las, soltaram grupos de abelhas que procuravam um local para fazer uma colmeia em uma ilha deserta, sem locais adequados. Nessa ilha, colocaram duas caixas de madeira adequadas para a nova colmeia. Mas essas caixas continham pequenas quantidades de tinta; assim, as operárias que visitavam as caixas ficavam com as costas marcadas de amarelo (caixa 1) ou rosa (caixa 2). Assim, os cientistas puderam filmar as danças das operárias, identificar as que estavam propondo a caixa 1 ou a 2 (rosa) e contar os votos.

Intriga da oposição. A observação mais interessante foi a identidade das abelhas que davam as cabeçadas. Se uma abelha "amarela" estava dançando, as cabeçadas inibitórias eram sempre das "rosas" e vice-versa. Eles também demonstraram que o número de cabeçadas inibia a quantidade de dança e, portanto, o poder de convencimento das abelhas.

Como as abelhas que possuem maioria têm mais possibilidades de dançar sem levar cabeçadas - e ao mesmo tempo têm a possibilidade de dar mais cabeçadas nas defensoras da proposta adversária -, esse mecanismo leva a uma convergência mais rápida para o consenso. Os cientistas fizeram modelos matemáticos que simulam esse mecanismo de inibição e eles confirmam que a presença de um mecanismo de inibição leva a uma decisão mais rápida, convertendo os perdedores em adeptos da proposta vencedora, garantindo que as abelhas fiquem alinhadas com a proposta vencedora e juntem forças para construir a colmeia no local escolhido.

Nas democracias humanas, não temos um modelo semelhante. Mesmo depois de conhecida a vontade da maioria, é normal os perdedores sabotarem a vontade da maioria. É verdade que muitas vezes ouvimos discursos nos quais o candidato derrotado decreta que "decidido o pleito, vamos trabalhar juntos pela proposta vencedora", mas na maioria das vezes isso não passa de retórica.

É interessante observar como as abelhas, mesmo com um cérebro minúsculo e comportamentos relativamente simples, implementam um processo democrático eficiente, que resulta na execução rápida e eficaz da vontade da maioria. É uma evidência de que o ego dos políticos humanos é um dos componentes que prejudicam os processos democráticos. Abelhas, afinal, que se saiba, não possuem ego ou orgulho exacerbado nem pecam pela falta de humildade.

Fernando Reinach é biólogo / Mais informações: STOP SIGNALS , PROVIDE CROSS INHIBITION IN COLLECTIVE DECISION-MAKING BY HONEYBEE SWARMS. SCIENCE, VOL. 335, PÁG. 108.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Congresso Brasileiro de Apicultura e Meliponicultura 2012 (evento do ano)

Se o de 2010 foi bom, imagina o de 2012 em plena serra gaúcha.Vamos? Eu estarei por lá!!! Não perco esse evento por nada.

Transferência de Jandaíra para a caixa KPF

(clique nas fotos para ampliar)
(bela entrada)

Na minha opinião, um dos manejos mais difíceis para todo meliponicultor iniciante é transferência da caixa velha para nova. Essa prática é, de certa forma, muito traumática para toda a colônia e se não for feita da maneira apropriada, pode até matar o enxame.

Por isso, o ideal é fazer sempre pela manhã, pois além de ser um horário agradável, as abelhas tem o restante do dia para consertarem toda a sua casa. Isso não quer dizer que os trabalhos sejam paralizados durante à noite, mas é que boa parte das atividades mais importantes são feitas durante o dia pelas abelhas.


Estou com cerca de 50 colônias de Jandaíra em caixas modelo nordestina em avançado estado de desgaste. Além de não proporcionarem um certo conforto aos trabalhos de inspeção, todas essas colônias dificultam a colheita do mel, pois não possuem dobradiças nem fechos de pressão, gerando grande acúmulo de própolis nas tampas, aumentando e muito o trabaho das abelhas toda vez que preciso abrir.

Mas não se enganem, todas essas colônias são muito fortes. Em todas elas há possibilidade de divisão, todavia esse manejo só será realizado quando já estiverem na caixa modelo Nordestina mais moderna.


Na verdade, essa caixa não tem nada de moderna. É uma caixa simples, também no estilo nordestina, mas que na minha visão é mais fácil de manejar por ser mais larga e mais funda que as convencionais.
As medidas são 40cm de comprimento, 20 de largura e 15 de altura, essas medidas são externas. Uso aldabras e fechos de pressão para facilitar a abertura da colônia.


A primeira vista, confesso que eu mesmo não gostava dessas medidas, achava a caixa muito larga. E pesando bem, realmente fica uma caixa grande se utilizada para uma divisão recente. A solução foi a introdução de uma divisória de conforto com um furo de passagem para o outro lado. Outra dica importante é a utilização do acetato 0.30, que pode ser encontrado em qualquer papelaria. Cada vez mais penso que a caixa para abelhas deve ser a mais simples possível, tanto para elas quanto para quem as perturba.


Fazendo um comparativo entre a caixa tradicional e essa que ousadamente resolvi chamar de KPF (as iniciais do meu nome), podemos perceber que essa última permite a introdução de grandes alimentadores. Facilitando assim a alimentação artificial nos períodos de seca, pois não preciso abrir constantemente se conseguir fornecer uma grande quantidade de uma vez só.


Para testar as suas funcionalidades resolvi relatar a transferência, prática comum para um meliponicultor apaixonado que nem eu. Antes de tudo, retiro a caixa velha do lugar deixando uma outra caixa vazia para esperar pelas campeiras que forem chegando do campo e as que forem saindo no decorrer da transferência.

O primeiro passo ao abrir a colônia é a procura imediata pela rainha. Geralmente é encontrada em cima da área dos discos de cria ou próximo a eles. Com enorme cuidado e algum grau de experência conseguimos manipula-lá sem maltratar o inseto. O ideal é reservá-la e só devolvê-la ao enxame após o fim de todo o processo de transferência.


Em seguida, passamos a retirar parte das resinas da caixa velha. Esse material é de fundamental importância para as abelhas, pois é matéria prima para quase tudo dentro. Além de ser um dos elementos que mantém a ótima saúde das abelhas.


Logo após, com uma faquinha de mesa, vamos descolando os pilares de sustentação do ninho dos potes de mel e das paredes da caixa. A coisa deve ser feita com um misto de calma e atenção. Devemos lembrar que cada abelha é importante para o enxame e procuramos matar o mínimo possível.


Em épocas de escassez de alimento, tudo isso é feito quase com perfeição, pois não há muitos potes de mel para atrapalhar a passagem do ninho. Vejam na foto abaixo que quase nada foi destruído, preservando ao máximo toda área de postura.


Os pedacinhos de postura que são destruídos não devem ser levados a nova morada, ainda há grande quantidade de alimento larval nessas células e a sua exposição atrai os nossos inimigos mortais, os forídeos. Dessa maneira, procuramos evitá-los.


Passo seguinte é retirar os potes de mel, essa sim é uma tarefa complicada. Com a mesma faquinha vamos descolando também os potes da caixa evitando estorar. Certamente um ou alguns serão abertos e farão alguma lambança. Isso é quase que inevitável. Por isso, só colocamos na caixa nova os potes que estiverem fechados. Todo resto é guardado em algum recipiente e reservado em geladeira. O mel pode ser consumido ou doado as abelhas em outro momento.


Muita atenção com os potes de polén, esses não devem ser introduzidos pelo mesmo motivo dos pedaços de discos novos destruídos. O ideal é que a caixa nova se conserve bem seca e longe desses potes abertos. Tudo para evitar a praga dos forídeos.


Esse conjunto de potes foi retirado sem dados, podendo assim ser levado para caixa nova.


Após a transferência de todo o material, reitroduzimos a rainha que estava reservada. Colocamos o acetato, fechamos a caixa nova e posicionamos a mesma no lugar da caixa que se encontrava a outra caixa que recebia as campeiras que chegavam do campo. Abrimos essa última e deixamos que as abelhas saiam à procura da nova morada. Uma dica legal para ajudar as abelhas no reconhecimento da nova caixa é colocar um pedacinho da cera na entrada da colônia.

(colônia pronta para receber as abelhas)
Muita gente costuma jogar a caixa velha fora, isso é um erro gravíssimo, pois além de uma fonte significativa de matéria prima é uma ótima isca para novas colônias. Já houve vários relatos de enxameação natural em caixas que aleatoriamente foram espalhadas em meliponários ou na mata.


(caixa nordestinas tradicionais empilhadas)

Ao final da manhã, sem muita pressa já tinha passado duas colônias. Meu planejamento é até ao final do mês ter pelo menos mais 40 matrizes em caixa novas. Quero ver o desempenho dessas novas caixas ao final do inverno em comparação com as outras tradicionais que ainda manterei.


Mossoró-RN, em 14 de fevereiro de 2012.

Kalhil Pereira França
Mossoró-RN

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Dica de manejo - alimentação artificial para abelhas sem ferrão

 (foto de Gorgio Venturieri, 2009.)

Todos os dias eu recebe vários e-mails solicitando informações sobre como e quais produtos podem ser usados para alimentar as abelhas durante os períodos de baixa florada. Já postei aqui algumas receitas, mas transcrevo abaixo uma vem dando muito sucesso com as minhas abelhas.

Essas duas receitas foram desenvolvidas pelo pessoal da Embrapa, a do xarope eu até já conhecia e utilizada mesmo antes de conhecer o trabalho. Já o substituto do pólen eu aprendi no último Congresso Brasileiro de Meliponicultura em 2010, realizado em Cuiabá-MT, com próprio Dr. Giorgio VENTURIERI, um renomado pesquisador na área de meliponicultura que trabalha na Embrapa Amazônia Oriental.

A receita é muito fácil. Eu já fiz e confirmo a excelente aceitação em diversas abelhas, em especial as Jandaíras. Para cada espécie você faz somente substituir o saburá da abelha que deseja alimentar. Os resultados tem se mostrado bastante positivo, sem bastante eficiente para alimentar as abelhas em região de pouca abundância desse alimento.
O trabalho original pode ser obtido, com todas as suas referências no seguinte endereço: http://www.apacame.org.br/mensagemdoce/111/artigo.htm

Abaixo segue a receita:

Anexo 1 - Elaboração de uma dieta semi-artificial para uruçú-amarela Melipona flavolineata (Costa; Venturieri , 2009)

Materiais

2 frascos de vidro com tampa
Bastão de vidro ou colher
43 g de extrato de soja
14 g de sacarose
43 ml de água filtrada ou fervida
2,4 g de saburá de Melipona flavolineata (uruçú-amarela).

Preparo

Limpe os materiais: frascos de vidro e tampas, bastão de vidro ou colher de metal, com álcool 70 %. Coloque o extrato de soja no frasco de vidro. O frasco deve ficar preenchido ate, no máximo, a metade da altura, pois a massa final ira fermentar. Assim, escolha um frasco grande.

Aqueça a água ate a temperatura de 30 °C, coloque-a no outro frasco de vidro. No frasco com água, acrescente o açúcar e o inoculo de saburá. Tampe o frasco e agite-o até dissolver o açúcar e o saburá.

A água com açúcar e saburá devera ser despejada no outro frasco, contendo o extrato de soja. A mistura devera ser feita gradualmente e auxiliada com o bastão de vidro ou colher. É importante que a massa fique homogênea, bem misturada.

Em seguida, o frasco devera ser coberto com papel toalha, ou pano limpo, preso com elástico.

O frasco contendo a massa devera ser acondicionado em local escuro, protegido de formigas, em temperatura ambiente, desde que não seja inferior a 20°C.

A partir do quarto ou quinto dia será percebido os sinais de fermentação, bolhas e crescimento da massa. Ate o décimo dia este processo estabilizara, então, o frasco devera ser tampado e poderá ser armazenado em geladeira ou congelador.

Antes de fornecer para as colônias de M. flavolineata, o saburá semiartificial deverá estar em equilíbrio com a temperatura ambiente.

Anexo 2 - Xarope de açúcar invertido (60 %) utilizado na Embrapa Amazônia Oriental

Ingredientes

12 Kg de açúcar
8 L de água
12 g de ácido cítrico (dica: caso não tenha use suco puro de um limão)
1 colher (café) de sal mineral

Como fazer

Misturar tudo e aquecer, mexendo até atingir 80º C. A partir desta temperatura, manter a mistura em fogo baixo por 25 minutos (em temperatura inferior a 80º C). Decorrido esse tempo, desligar o fogo e esperar o xarope esfriar naturalmente até 28-30 º C, quando assim poderá ser utilizado.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Elas conseguem prever a chuva!


O homem, no decorrer de sua evolução histórica, já inventou diversas maneiras de prever o tempo. No Ceará, por exemplo, existem os magníficos "profetas da chuva" que fazem anualmente a leitura de diversos elementos da natureza e dão a sua opinião sobre a previsão anual do inverno.

Por mais curioso que isso possa parecer, é algo levado muito a sério na região.  Pra saber mais leiam: (http://g1.globo.com/ceara/noticia/2012/01/profetas-da-chuva-do-ce-preveem-bom-ano-para-agricultura-no-nordeste.html).

Certa vez, há alguns anos, durante as minhas andanças pelo sertão, fui surpreendido por uma lição de um senhor quase centenário que criava jandaíras na região conhecida como Pau Branco, zona rural de Mossoró-RN.

O senhor, com a humildade peculiar do sertanejo, se aproximou e falou assim:
-Oh meu filho, você sabia que essas abelhas sabem quando vai chover?

De maneira sempre respeitosa, escutei, mas continuei descrente. Fiquei, porém, com aquela história na cabeça durante muito tempo.


Não é de hoje que o conhecimento popular muitas vezes surpreende o científico. Pouco tempo depois,  um meliponicultor de São Paulo me relatava que o renomando Prof. Paulo Nogueira Neto afirmava que a Jandaíra era uma abelha mágica, exatamente por conseguir prever com bastante certeza a data exata que as chuvas se iniciavam.

 
 Na hora me veio à mente a frase do velho sertanejo da região de Pau Branco. Foi como se uma ficha tivesse caído. Desse dia em diante passei a analisar com bastante atenção o comportamento da Jandaíra nas vésperas dos período de chuva no sertão.


Ainda nos meses de dezembro e janeiro de cada ano percebe-se um certo alvoroço nas colônias, as rainhas passam a correr pelos curtiços como se estivessem convocando as tropas para uma batalha. Quem estuda esses insetos diariamente percebe claramente um aumento significativo na postura aos primeiros sinais de aumento na umidade relativa do ar.



Nessa época é muito comum o aparecimento dos primeiros aglomerados de machos nos beirais de casa e nas proximidades do meliponário. Um típico sinal que os forobodos, termo usado inicialmente pelo saudoso Padre Huberto, que indica o processo de aglomeração de machos à espera de princesas, vão começar.



Outro sinal muito forte de aumento dos trabalhos é a presença de adornos e enfeites na entrada das colônias. A impressão que tenho é que as meninas fazem um embelezamento nas suas casas, assim como os humanos fazem durante os períodos festivos do natal e ano novo.


Agora, o mais interessante de se observar é como as operárias iniciam o processo de levantamentos dos potes de mel mesmo sem a presença de nenhum alimento aparente na mata. Isso tem uma explicação lógica: como na caatinga a floração é muito rápida, as Jandaíras estão naturalmente adaptadas a esperar por uma rápida explosão de flores.


É de se admirar o trabalho de providência e previdência com que essas abelhas se pregam. Basta cair as primeiras chuvas que os potes de mel e pólen são completados, nos mostrando a riqueza da flora do sertão. Não vai demorar muito e logo veremos as primeiras colheitas de um ano que aparentemente será de boa produção até o final de agosto.

Mossoró-RN, em 09 de fevereiro de 2012.

Kalhil Pereira França
Meliponário do Sertão