terça-feira, 26 de maio de 2009

O inimigo nº 1 da Jandaíra



É sempre necessário para todo meliponicultor a realização de inspeções periódicas, devemos sempre está observando nossas colônias, meliponicultor atento é meliponicultor sem prejuízos.

Uma das razões dessa preocupação são os forídeos, os forídeos são conhecidos entre nós criadores de ASF como os inimigos número 01 de nossas abelhinhas, algumas espécies são muito fracas contra esse tipo de praga, as borás por exemplo são muito sensíveis aos ataques de forídeos e sucumbem com facilidade, já a Jataí é bem mais resistente e consegue se defender bem contra a entrada dessas mosquinhas nas colônias.

A Jandaíra não escapa dessa praga e também sofre com os forídeos.

O fórideo, é essa mosquinha da foto acima, ela é bem pequena, um pouco maior que o tamanho da cabeça de um alfinete, na foto acima ela está bem ampliada para observarmos melhor. Os forídeos são insetos que pertencem à ordem dos dipteros. Há diversos gêneros de forídeos que podem freqüentar as colônias de Meliponíneos.

Essa mosquinha é atraída pelo cheiro de potes de pólen rompidos, discos de cria jovens destruídos durante o manejo ou mesmo restos de muita sujeira nas lixeiras das colônias.

Quando consegue entrar dentro da caixa em pouco tempo produz um estrago imenso caso não seja combatida a tempo, em alguns dias de instalada, começa a por ovos de forma desenfreada, esses ovos eclodem em poucos dias e passam a se multiplicarem alimentando-se do polén, do alimento larval das crias novas e até das próprias crias.

Para combater esse inseto é primeiro necessário aprender a prevenir. A prevenção nada mais é do que a utilização do manejo correto das colônias (divisão somente de enxame forte, vedar bem as caixas após as aberturas, manipular com cuidado os discos de cria mais jovens), em fim, a utilização das técnicas corretas de manejo ajudam e muito para evitar o ataque dos forídeos.

Mas mesmo assim, podemos algumas vezes encontrar colônias atacadas por forídeos, mesmo colônias forte podem apresentá-los, mas isso é mais raro, geralmente as mais fracas é que são mais sucetíveis.

Quando isso acontecer, podemos fazer o seguinte:
1) Se a infestação for pouca, de 1 - 5 forídeos, colocamos iscas para capturá-los, a isca nada mais é que um potinho pequeno com um ou dois furos pequenos (que só passam os forídeos) e dentro do potinho colocamos vinagre sabor de maça, tem que ser com esse sabor pois ele é mais atrativo aos forídeos, em pouco tempo eles são capturados e morrem afogados dentro do vinagre. Devemos todos os dias abrir a caixa e trocar as iscas até acabarmos com todos. Mesmo após o desaparecimento de todos devemos no decorrer da semana dar mais atenção a esse enxame pois pode ter ficado algum ovo por nascer, e caso ele não seja destruído ou capturado após nascer com as iscas recomeçará a insfestação.



2) Se a infestação for muita, superior a 5 e apresentando uma infestação de ovos muito grande, devemos tomar outras medidas mais sérias. Nesse caso devemos trocar toda a caixa. O procedimento é o seguinte:
a) levamos a colônia para outro lugar um pouco afastada do melipónario, abrimos a caixa e com cuidado transferimos os discos de cria mais velho a rainha e as abelhas novas que não sabem voar. O meliponicultor tem que ficar atento para não levar junto com os discos e as lamelas de cerume algum ovo do forídeo, eles são muito pequenos, só mesmo olhos muito atentos para encontrá-los;

b) não transplantamos os potes de alimento pois com certeza estaram com muitos ovos, deixamos isso para mais tarde;

c) em seguida colocamos duas ou três iscas dentro da caixa e fora (como na foto acima), perto da entrada e um pouco de xapore para substituir os potes retirados;

d) fechamos a caixa nova e a lacramos com fita adesiva para evitar brechas, depois colocamos as caixa nova no lugar da velha para que as abelhas que ficaram fora voltem para a nova morada.

Pronto, no decorrer dos dias vá substituindo as iscas por outras novas para combater algum outro forídeo que voltar a entrar ou mesmo que tenha nascido de algum ovo perdido entre os discos.

Os cerume dos potes pode ser reaproveitado, mas precisamos antes esvaziar todos os potes de mel e pólem, raspar os ovos a vista e depois derreter a cera em banho maria com algumas colheres de óleo vegetal (de cozinhar mesmo) e na mesma proporção com a cera de apis. ainda quente é só jogar sobre alguma superfície lisa, deixar esfriar e raspar, pronto, o aquecimento mata todos os ovos que não foram vistos e ainda por cima pode, aos poucos, ser novamente doada a colônia.

Att,


Kalhil Pereira França
Mossoró-RN

segunda-feira, 25 de maio de 2009

A abelha Mamangava



Essa bela foto acima é de uma abelha muito conhecida, a abelha mamangava, extremamente mansa, não possui comportamento agressivo, mas pode picar quando infernizada por alguém, seu ferrão por sinal é um dos maiores entre as abelhas solitárias e é muito poderoso, a picada é muito dolorosa.

Mas repito, ela é mansa e não costuma ferroar a não se quando se toca nela. A dor da picada, apesar de intensa, é de curta duração. A presença de mamangavas em um pomar é prenúncio de muitos saborosos frutos. Ela é fundamental para a produção de maracujás. Uma planta de maracujá, quando visitada por mamangavas, produz mais e seus frutos ficam mais saborosos.



Isso se deve ao fato que essa abelha, no decorrer de suas história evolutiva, se adaptou e se especializou na polinização de algumas espécies, entre elas está o maracujá.

O mel da mamangava não é de boa qualidade. Ela faz seu ninho em buracos nos barrancos e pequenos ocos de árvore, podem ser facilmente encontradas nas zonas rurais da Caatinga.



Mamangava é o nome mais utilizado e vem da língua tupi (mamã´gab) mas também é chamada de abelhão ou vespa-de-rodeio pois demora para pousar nas flores, fica rodeando...

Quem quiser saber mais, pode ler o livro "A criação racional de abelhas mamangavas" ou pode acessar o link da ACAPAME: www.apacame.org.br/mensagemdoce/80/abelhas3.htm

domingo, 24 de maio de 2009

Fim de semana de práticas melipônicas



Olá amigos,

Esse fim de semana foi dia de revisão, divisão e alimentação no Meliponário do Sertão urbano, como sempre faço nos finais de semana, inspecionei as colónias mais jovens que foram recentemente criadas e fiz o reforço com o nosso conhecido xarope em todas a caixas, como sempre utilizando o alimentador externo de guerra de sempre, dois pratos de mesa cheios de palitos e cordas para ninguem morrer afogada.



No domingo realizarei mais três divisões, duas colónias serão levadas para a zona rural assim que estiverem em condições de se manterem sozinhas, a outra ficará por aqui mesmo para servir de matriz para outras divisões.



Na foto de cima podemos ver algumas abelhas buscando xarope na alimentador, no fundo podemos vê uma prateleira com 20 colónias de Jandaíra, na minha casa existem mais 4 como essas espalhadas por todos os cantos da casa.

A foto abaixo foi a caixa que foi utilizada para a divisão, observem o último disco de cria de baixo, ele é o ideal para realizar uma divisão pois já existe abelhas nascendo e dessas novas logo logo nascerá uma princesa que será fecundada, formando assim uma nova rainha para a colónia recém criada.



A todos uma ótima semana.

Kalhil Pereira França
Mossoró-RN

sexta-feira, 22 de maio de 2009

A vida de uma abelhas solitária

Isabel Alves dos Santos
Depto. Ecologia, Universidade de São Paulo

isabelha@usp.br

Artigo publicado na Revista Ciência Hoje n.179 (jan/2002)

Ao contrário do que muitas pessoas imaginam, a grande maioria das abelhas não vive em sociedade ou em colônias com rainha e operárias. A maioria das espécies de abelhas é solitária, isto é, vivem sozinhas. Cada fêmea, individualmente constrói e cuida do seu próprio ninho. A fêmea morre antes de sua cria nascer. Ou seja, não há contato entre as gerações. Desta maneira, o modo de vida de uma abelha solitária é bastante diferente do que conhecemos para aquelas abelhas que vivem em colmeia.

Estima-se que no mundo existam mais de 20 mil espécies de abelhas. O Brasil, devido a suas proporções continentais e riqueza de ecossistemas, pode ser considerado privilegiado neste aspecto, pois abriga cerca de ¼ destas espécies (ca. 5000).

Contudo, infelizmente, a abelha mais conhecida entre os brasileiros é a abelha européia (Apis mellifera), que na verdade não é nativa do Brasil. Esta espécie foi introduzida no período colonial para fins de apicultura. Atualmente é a espécie mais abundante em nossos ambientes (até mesmo urbanos), fazendo nos esquecer que possuímos uma fauna de abelhas nativa rica e diversa. Só no Estado de São Paulo foram listadas 729 espécies e no Rio Grande do Sul mais de 500 espécies são conhecidas. Segundo levantamentos feitos em diferentes regiões do Brasil, até hoje temos mais de 2 mil espécies de abelhas catalogadas.


Uma ampla diversidade de formas, tamanhos e cores caracteriza a nossa apifauna. Existem espécies com tons verdes, azuis e roxos metálicas, que geralmente são confundidas com moscas varejeiras. Algumas abelhas são bem ornamentadas com listas e manchas pelo corpo, e outras possuem cores lisas ou brilhantes de várias tonalidades entre negro e amarelo. Existem abelhas que chegam a medir mais de 5 centímetros e outras muito pequenas com pouco mais de 2 milímetros, que geralmente também são confundidas com outros grupos de insetos.


De solitário a social

Entre as abelhas existem diferentes modos de vida, denominados graus de sociabilidade. Os dois extremos são: as espécies de vida solitária e aquelas de vida totalmente social (eusociais). Entre estes extremos existem categorias como: subsociais, parasociais, ou quasesociais, que se diferenciam pela presença e domínio de uma rainha. Algumas espécies solitárias podem construir seus ninhos agregados, o que poderíamos comparar aos nossos "condomínios" onde vários ninhos da mesma espécie estão dispostos no mesmo local. Cada ninho possui a sua "dona" e cada abelha, ou melhor, cada fêmea cuida do seu próprio ninho. Abelhas altamente sociais -ou eusociais- formam colônias numerosas, perenes e com alto grau de organização interna. No Brasil este é o caso das abelhas sem ferrão -Meliponíneos, popularmente conhecidas como jataí, uruçu, mandaçaia, guaraipo, mirim, etc. Estas espécies são bem conhecidas pelos índios e pessoas que vivem no campo.


Ciclo das espécies solitárias

A fêmea de abelha solitária deve cuidar de seu ninho sozinha. Durante sua vida estão incluídas as seguintes tarefas: procurar o local para o ninho, construi-lo, colocar os ovos, buscar alimento para a cria e defender o ninho quando necessário.A fêmea ao nascer será imediatamente fecundada e, em seguida, começará a busca por um local adequado para nidificar. Este local pode ser um tronco de madeira, uma área exposta de solo ou barranco, fendas em muros, ou ainda orifícios pré-existentes em outro tipo de substrato, como um buraco de fechadura, canos, tijolos, etc. Em muitas espécies as fêmeas procuram um lugar próximo ao local de seu nascimento, o que chamamos de reutilização do ninho parental. Isso é comum para as espécies que formam agregações ("condomínios"). Ao achar um local adequado, a fêmea inicia a construção do ninho. Escava a cavidade adequadamente e sai para coletar material para o revestimento interno. O material de construção, que varia entre as espécies, pode ser: areia, terra, barro, pedaços de folhas ou restos vegetais, óleo floral, resina, entre outrosAo trazer tais materiais para dentro da cavidade, a fêmea manuseia-os formando o que chamamos de célula, ou seja, o espaço (a unidade) onde sua prole se desenvolverá. Um ninho é composto por várias células. Cada célula será revestida com o material de construção e preenchida com alimento, que geralmente é constituído por pólen misturado com néctar. A fêmea coloca um ovo em cada célula. Quando fechar esta célula, logo começará a construir a próxima. Estas etapas se repetem tantas vezes quanto forem o número de células.
Em geral uma abelha solitária constrói entre 6-15 células. Isto pode levar algumas semanas (entre 3-6 semanas). Após este período a fêmea morre.


O desenvolvimento da prole

O ovo colocado pela fêmea logo se transformará em uma pequena larva. Esta larva passa então a ingerir o alimento que está ao seu redor. A larva come sem parar e cresce rapidamente, passando por algumas mudas, que chamamos de estágios larvais (geralmente sofre 4 a 5 mudas). Após consumir todo o alimento que sua mãe deixou dentro da célula, a larva madura ocupa a maior parte do espaço interno da célula. Neste momento também encontramos dentro das células grande quantidade de fezes que a larva defecou. Neste estágio a larva de algumas espécies pode tecer um casulo ao seu redor, chamado de "cocoon". O último passo do desenvolvimento é a pupa, que é o estágio intermediário entre a larva e a forma definitiva do inseto. Quando chega próximo ao período de eclosão, a larva madura se transformará em uma pupa e completará sua metamorfose. Dos ninhos saem então as abelhas já adultas, que iniciam imediatamente um novo ciclo da espécie. Todas as etapas serão repetidas pelos novos indivíduos.

O tempo total de desenvolvimento varia de espécie para espécie e depende também de fatores climáticos, da região de ocorrência da espécie e do número de gerações que a espécie produz em um ano.

Vista interna de um ninho de abelha solitária (Tetrapedia) construído em um tubo de papel e composto por 6 células. As células são divididas por uma camada de areia e óleo. A massa amarela são os grãos de pólen coletados pela fêmea e que servirão de alimento para a larva.

Fases do desenvolvimento: ovo (1.) e larva jovem (2.) no meio da massa de pólen, larva madura (3.) após ter consumido toda a provisão de alimento e por fim a pupa (4.) com certa pigmentação.


Número de gerações

Muitas das espécies solitárias são univoltinas, isto significa que possuem apenas uma geração por ano. Isto é comum para as espécies que ocorrem em regiões de clima subtropical ou temperado, onde as estações do ano são bem marcadas. Assim, aquela espécie ocorre em um período bem definido do ano. No sul do Brasil por exemplo, onde o inverno é rigoroso, a maioria das espécies de abelhas nasce quando a temperatura começa a subir. Nos meses de primavera há um "boom" de nascimento de abelhas. Muitas delas foram produzidas na primavera anterior e agora, após um ano, estão emergindo para formar a próxima geração. Permaneceram por muitos meses dentro da célula a espera da melhor época para nascer. Isto significa que houve um período em que o desenvolvimento estacionou. Este período, que pode durar até 10 meses, chamamos de diapausa e geralmente ocorre no último estágio larval. A larva madura permanece imóvel, aparentando estar morta.
Outras espécies possuem 2 gerações (bivoltinas). Por exemplo, fêmeas que nasceram em novembro estarão ativas e construindo suas células por algumas semanas. A cria referente a estas fêmeas eclodem em fevereiro e iniciam imediatamente um novo ciclo. Porém, a cria desta segunda geração permanecerá em diapausa por alguns meses (outono e inverno) e sua prole eclodirá apenas em novembro. Portanto, espécies bivoltinas possuem 2 gerações durante o ano, por exemplo uma em novembro e outra em fevereiro. Além da temperatura, o ciclo das chuvas também é um fator que pode influenciar o número de gerações por ano de uma dada espécie de abelha. De um modo geral podemos dizer que a primavera é o período com maior número de espécies de abelhas em atividade, o auge da ocorrência das abelhas! Não é por acaso que isso coincide com o período de floração intenso de diversas espécies vegetais, já que as abelhas são totalmente dependentes das flores para sua sobrevivência.


Os Machos das abelhas solitárias

Geralmente, os machos possuem um período de desenvolvimento mais curto e nascem alguns dias antes das fêmeas. Logo após seu nascimento estão prontos para cópula. Esperam a eclosão das fêmeas virgens no local dos ninhos, ou as aguardam nas flores. Este comportamento é denominado de patrulha, que nada mais é do que a procura e espera por fêmeas para cópula. Sendo assim, é comum observar numerosos machos voando avidamente ao redor do local dos ninhos ou nas fontes de alimento preferido das fêmeas. Os machos visitam as flores para tomar néctar e depois patrulham sobre as plantas ou sentam na folhagem aguardando a chegada da fêmea.
Machos de abelhas solitárias geralmente não voltam para o ninho para dormir. No meio da tarde, quando não há mais fêmeas virgens para nascer, os machos precisam procurar um lugar para passar a noite. Machos de algumas espécies se agregam e dormem pendurados na folhagem próximo ao ninho ou à planta. Machos de outras espécies procuram um local mais ''aconchegante" e dormem dentro de flores. Geralmente são flores que fecham a noite e reabrem no dia seguinte (por exemplo flores de cactos, petunia, etc). Os machos chegam nestas flores no final da tarde, antes de seu fechamento, se acomodam entre os estames ou no fundo da flor e ficam lá até a flor abrir no outro dia.


Os "inimigos" das abelhas solitárias

Os inimigos naturais das abelhas são muitos e variados, indo desde outras espécies de abelhas até o homem que destrói seus habitats naturais ou retira as fontes florais de que elas tanto dependem.
Nas abelhas solitárias é muito comum a ação de parasitas nos ninhos. Estes parasitas podem ser outras espécies de abelhas, vespas, formiga feiticeira, moscas, entre outros. A estratégia mais comum destes parasitas consiste em invadir o ninho enquanto sua "dona" está ausente. Eles rondam os locais dos ninhos, esperam a fêmea sair para coletar e entram no ninho. Então, colocam seu ovo dentro da célula que já está preparada para a cria da hospedeira. Algumas espécies de parasitas destroem o ovo da hospedeira e outras apenas colocam o ovo e saem. Neste último caso, o ovo se desenvolverá rapidamente e a larva do parasita (com poderosas mandíbulas) é quem destruirá o ovo ou a jovem larva da hospedeira. A larva do parasita passa então a se alimentar do pólen e completa seu desenvolvimento normalmente dentro da célula. Estes parasitas são chamados cleptoparasitas.


Importância das abelhas

As abelhas são muito mais importantes do que parecem. O seu papel ecológico é fundamental na manutenção da diversidade de espécies vegetais. As 20 mil espécies de abelhas que estima-se existir no globo, são essenciais para a reprodução sexual das plantas. Durante suas visitas às flores, as abelhas transferem o pólen de uma flor para outra, promovendo o que chamamos de polinização cruzada, ou seja neste momento ocorre a troca de gametas entre as plantas. Uma boa polinização garante a variabilidade genética dos vegetais e a formação de bons frutos.
Deste modo, as abelhas também são importantes para as plantas cultivadas que dependem de agentes polinizadores. Portanto, as abelhas são indiretamente responsáveis pela produção de alimentos: frutas, legumes e grãos.
Como dito no início, a diversidade de abelhas no Brasil é grande. Porém, pouco conhecemos sobre a vida da maioria destas espécies. Mas como toda unidade biológica, cada espécie de abelha tem seu papel na comunidade, mesmo que este ainda não esteja avaliado. Portanto, as abelhas devem ser preservadas, bem como o ambiente em que vivem e dependem para completar seus ciclos de vida.
Note o estigma (parte feminina da flor) encostando na fronte da abelha (Centris) durante visita à flor.

(informações copiadas do síte da USP: http://eco.ib.usp.br/beelab/solitarias.htm) com alterações.

Kalhil Pereira França
Mossoró-RN

quinta-feira, 14 de maio de 2009

A importância da alimentação artificial


(Colónia de uruçu se alimentando externamente com alimento artificial, foto da internet)


Na caatinga, há épocas do ano em que a florada é baixa ou mesmo inexistente, dessa maneira, se faz necessário o fornecimento de alimento artificial para a sobrevivência das colónias nesses períodos. Essa providência é demais importante para o desenvolvimento das colónias do meliponicultor, sem o fornecimento de alimento artificial durante esse período podemos perder muito enxames por falta de reseva alimentar, principalmente no sertão onde o período de seca é muito rigoroso e mais ainda nas colónias que são extraídas mel para consumo e comercialização.

A alimentação artificial serve não só para manutenção das colónias mas também ajuda e muito o meliponicultor para multiplicar seus enxames, pois a presença de alimento estimula a rainha a ovopositar mais rápido e reduz em algumas espécies o período de hibernação (paralisação da postura).

O alimento artificial que usamos e que é muito bem aceito por quase todas as espécies, atualmente é o seguinte:
01kg de açúcar cristal + 1l de água potável + 1 pitada de sal + 15 folhas de erva cidreira ou 2 folhas de capim santo (as folhas servem de atrativo) + 2,5 mg (meia dose) de Aminomix Pet (suplemento alimentar que pode ser encontrado em qualquer Casa Veterinária) + ½ suco de limão puro (o limão serve para quebrar a molécula da glicose e transformá-la em sacarose + frutose). Essa quantidade mantém 10 colónias por 15 dias.

Fervemos a água e adcionamos o açúcar, depois de formado o xarope acresentamos as folhas da erva cidreira ou capim santo, depois de esfriar acresentamos o resto dos ingredientes.

Depois de frio, retiramos as folhas. O xarope pode ser conservado até 10 dias na geladeira, apartir disso pode fermentar. Para oferecer o alimento as abelhas, podemos fazer de duas formas, interna e externa, cada uma tem suas vantagens e desvantagens.



(colocação de alimento articial dentro da caixa de Mandaçaia Quadri quadri, foto da internet)



Internamente, basta colocar o xarope em copos descartáveis ou outro recipiente pequeno com um bebedor de passarinho com alguns palitos (para as abelhas não morrerem afogadas) e colocar dentro da caixa do enxame próximo a região dos potes de mel. A vantagem é que temos certeza que aquela quantidade fornecida estará disponível para aquele enxame pois não haverá concorrência, a desvantagem desse método é a necessidade de abrir a caixa toda vez que se faz isso, podendo destruir alguma estrutura do ninho, atrabalhar as relações feromoniais da colónia e ainda matar algumas abelhas durante o fechamento da caixa.

Já existe alguns alimentadores que podem ser adaptados diretamente nas caixas, tornando assim desnecessário essa abertura constante para alimentar, depois escrevo sobre isso ilustrando alguns alimentadores já conhecidos ou que podem facilmente ser fabricados pelo meliponicultor.

No outro método, o externo, é mais prático, basta ofertar o xarope a alguns metros dos enxames em algum recipiente (pode ser até um prato de mesa comum) com alguns palitos ou pedacinhos de madeira dentro para servir de boia caso alguma cai no xarope e não morra afogada e esperar que com o tempo as abelhas vão sentir o cheiro e serão atraídas para o alimento. Para acelerar a atração, basta pingar algumas gotas do xarope na entrada do ninho com alguma seringa.

O mais legal desse método é que com o tempo as abelhas gravam o lugar e até a hora do fornecimento do alimento, sempre ficam algumas abelhas na área esperando o xarope chegar.

A vantagem desse método é que cada enxame pega a quantidade que precisa, amenizando assim os riscos de fermentação do alimento quando fornecido em demasia, não precisamos abrir as caixas, não produzindo assim os problemas já informados acima durante a abertura e ainda por cima é bem mais prático. As desvantagens são o aparecimento e concorrência das Apis Meliferas (abelha africana, vulgamente conhecida por abelha italiana), que devido ao elevado número de operárias logo tomam de conta dos alimentadores, expulsando as inocentes Jandaíras, fora que mesmo quando não aparece a apis muitas vezes há brigas no alimentador quando a fome é muito grande, outra desvantagem é que muitas espécies são resistentes a frequentar os alimentadores, a Jataí por exemplo é uma delas.

(Mandaçaia se alimentando externamente em alimentador externo, foto nossa)

Esse último método é mais recomendável para meliponários urbanos pois a existência da apis é reduzida, mas mesmo assim devessse ficar atento para não haver surpresas desagradáveis.
Eu pessoalmente utilizo os dois, o interno na zona rural e o externo no meliponário urbano.
Apenas um cuidado, é preciso ter cautela no fornecimento do xarope, com diz o ditado, "a diferença entre o remédio e o veneno é só a dose". Pois bem, muitas vezes, quando fornecemos xarope demais, as abelhas tem dificuldade em processá-lo e ele pode fermentar, isso não é bom pois as abelhas podem morrer por consumir o alimento fermentado devido a presença das bactérias e leveduras.
Outro detalhe é que durante a florada devemos esvaziar os potes das colónias que foram alimentadas, caso apresentem grande quantidade de reserva, pois esse mel processado pelas meninas não é puro, é mel que nós meliponicultores chamamos de "mel batizado".




Kalhil Pereira França

segunda-feira, 11 de maio de 2009

É nessa terra distante que é feito o mel do Sertão!!!!


Nesse fim de semana fui visitar meus queridos avós na zona rural de Taboleiro Grande-RN, é lá que está instalado um dos meus meliponários, os meliponários do Sertão.

O meu avó é essa figura ilustre em pé em meio as amadas Jandaíra, 89 anos de puro disposição, acorda todos os dias às 5:00 da manhã, adora vê o entre e sai das meninas nas caixas bem carregadas de polém.

É nessa terra tão distante e isolada, cercada de muitas matas e serras, que é produzido o mel de Jandaíra que tanto é apreciado pelos companheiros da AME-Rio.

Para se chegar no belo sítio precisei atrevessar dois braços de um forte rio (Rio Apodi) que corta as terras da propriedade, caminhar por 5 km por uma estrada com lama até a canela, o pior foi voltar por esse mesmo trecho carregando ainda esses dois bendidos cortiços de Jandaíra. O sofrimento.. ...

O pior ficou para minha tia que atravessou com os cortiços no colo de canoa sem saber nadar. O povo apaixonado por essas abelhas.

Aproveitando a viagem, fiz algumas inspeções e pude verificar a boa saúde dos enxames, alguns estão com muito mel, outros com muito pouco, mas no geral todas as colónias estão bem. Os forídeos estão me dando uma trégua.

Inclusive, de alguns levei umas boas surras e beliscadas, certa caixa foi me deixar bem longe, já perto do cercado das ovelhas.

Trouxe de volta a Mossoró-RN, após encher a pamsa com muita pamonha, milho verde e cangica, esses dois belos enxames que pretendia dividir.

As fotos dessa terra maravilhosa e desse povo feliz segue em anexo.

A todos uma ótima semana...

Kalhil Pereira França

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Especial - Abelha Jataí


A abelha indígena sem ferrão jataí é abelha das mais conhecidas na América Tropical. Vive desde Missiones na Argentina, até o sul do México (Nogueira-Neto 1970). A primeira citação sobre esta espécie foi feita por H. Müller, em 1875. No início do século XX, outros pesquisadores também se interessaram pela abelha jataí como von Ihering (1903), Mariano-Filho (1911) e F.Muller (1913) etc. Atualmente, dezenas de trabalhos científicos tratam desta espécie de abelha. (Base de Dados da USP-Ribeirão Preto).

Segundo Silveira et al 2002, o gênero Tetragonisca Moure, 1946 têm apenas três espécies reconhecidas sendo duas presentes na fauna brasileira: T. angustula (Latreille, 1811) e T.weyrauchi (Schwarz, 1943), esta com ninhos aéreos. A distribuição geográfica da primeira espécie é bem ampla ocorrendo nos Estados de AM, AP, BA, CE. ES, GO, MA, MG, MT, PA, PB, PE, PR, RJ, RO, RS, SC E SP. A distribuição da weyrauchi é mais restrita, ocorrendo no AC e RO, acrescida de MT por Nogueira-Neto (Cortopassi-Laurino & Nogueira-Neto 2003) e na Bolívia na cidade de Cobija. A abelha jataí é das espécies mais adaptáveis em relação ao hábito de nidificação.
Vive nas grandes e pequenas cidades, nas florestas virgens e capoeiras, nos cerrados, nos moirões de cerca, nos ocos dos paredões de pedra, etc (Nogueira-Neto 1970). Já foi observada também nidificando em garrafas tipo pet, em ninhos abandonados de pássaros como nos do joão de barro, em caixas de medidores de luz, em frutos tipo cabaça, etc. Entretanto, em ambientes naturais ou pouco alterados, esta espécie utiliza mais comumente ocos de árvores, nidificando, com freqüência, na sua parte basal, ou no "pé de pau" como é conhecido popularmente.
No nosso meliponário urbano temos alguns exemplares dessa bela abelha que sempre estão rodeando as várias roseiras de nossa casa, são bem pequenas mas compensam o tamanho através da população e da valentia, quando são manejadas muitas vezes beliscam palpebras e sobrancelhas. Seu mel tem sabor um pouca ácido, meio azedinho, muito saboroso. É muito conhecida no meio melipônico como a abelha de hábito mais higiênico de todas as espécies.
Kalhil Pereira França

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Especial - Abelha Mandaçaia


A mandaçaia (Melipona quadrifasciata (Lepeletier)) é uma abelha social brasileira, da tribo Meliponini. A espécie mede de 10 mm a 11 mm de comprimento, com cabeça e tórax pretos, abdome com faixas amarelas e asas ferrugíneas. Constrói seus ninhos dentro de cavidades existentes nos troncos ou galhos das árvores. Também é conhecida pelos nomes de amanaçaí, amanaçaia, manaçaia e mandaçaia-grande.

Existem quatro subespécies de mandaçaia: M. quadrifasciata quadrifasciata, que possui quatro listras amarelas sobre o dorso negro) e M. quadrifasciata anthidioides (que também possui as quatro listras, mas elas são interrompidas no meio), a hibrida, que é o cruzamento entre essas duas espécies, (possui listra interrompidas e contínuas) e existe ainda a Mandacaia (melipona mandacaia), muito conhecida na Bahia, está é menor e possui as características da primeira.

São abelhas sociais, que quando em colônias fortes, apresentam o comportamento de voar sobre as pessoas, esbarrando na pele, mas raramente beliscam. Seus ninhos são encontrados em ocos de árvores, sendo que a entrada possui raias convergentes de barro e o espaço permite que somente uma abelha passe de cada vez. Os favos de cria são horizontais ou helicoidais e não ocorrem células reais. O invólucro está presente ao redor dos favos e é construído com cerume. Os potes de alimento são ovóides e apresentam de 3 a 4 cm de altura (Nogueira-Neto, 1970). As colônias apresentam de 300 a 400 abelhas (Lindauer & Kerr, 1960). Nesta espécie, a diferenciação de casta é determinada por fatores genéticos e alimentares e de 12 a 25% da cria desenvolve-se em rainhas (Kerr & Nielsen, 1966). O período completo de desenvolvimento para Melipona é de aproximadamente 38 dias, sendo 5 dias de desenvolvimento embrionário (ovo), 15 dias de estágio larval e 18 dias de estágio pupal (Rossini, 1989).
Em nosso Meliponário possuímos as duas principais espécies e estamos buscando esforços para adquirimos através de trocas a Mandacaia, que é um de nossas paixões. Assim que tivermos este exemplar estaremos postando fotos para os amigos.
Kalhil Pereira França

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Especial - Abelhas sem ferrão - Uruçu


Durante todo o mês de maio estaremos escrevendo sobre as várias outras espécies de abelhas sem ferrão que existem e são criadas no Brasil todo, tendo em vista a grande diversidade de espécies não terei condições de escrever sobre todas, mas obordaremos as mais criadas no Brasil, principalmente no Nordeste.

Iniciaremos pela maior e mais produtiva de mel do Nordeste, a Uruçu, nomes populares são Uruçu verdadeira ou Uruçu Nordestina, conhecida científicamente por melipona Scutellaris.

Uruçu é uma palavra que vem do tupi "eiru'su", que nessa língua indígena significa "abelha grande", O nome "uruçu" está relacionado com diversas abelhas do mesmo gênero, encontradas não só no Nordeste, mas também na região amazônica. A tendência, porém, é a de reservar o termo "uruçu" para a abelha da zona da mata do litoral baiano e nordestino, que se destaca pelo tamanho avantajado (semelhante à Apis), pela produção de mel expressiva entre os meliponíneos e pela facilidade do manejo.
Essa abelha é uma das maiores meliponas que o Brasil possui, chega a produzir em regiões de boa florada cerca de 5 a 8 litros de mel ano.

Tipica da região de Mata Atlântica, é grande polinizadora de suas matas, vem já a muitos anos sendo dezimada de sua região nativa pelo desmatamento decontrolado e pela mão dos meleiros, mas ainda pode ser encontrada no Nordeste com certa facilidade, principalmente em Pernambuco, onde sua criação se dá com maior força.

Em Iguaraçu-PE, existe um dos maiores criadores dessa espécie, que por sinal é nosso amigo, o Sr. Francisco das Chagas, naquela cidade, cria mais de 700 colónias de Uruçu nordestina, pessoa maravilhosa e apaixonado pelas meliponas assim como a sua esposa, Dona Selma.
Sua história já foi até motivo de reportagem pela rede globo.
Kalhil Pereira França