sexta-feira, 28 de maio de 2010

A Jandaíra e a flor da Malva, um caso de Amor


Não tenho como precisar a quantidade de plantas que a Jandaíra poliniza, o Padre Humberto Bruening no seu livro a "Abelha Jandaíra" falava em algumas dezenas, mas entre todas essas plantas existe uma que disperta na rainha do sertão uma atração imprecionante, é a malva.


A Jandaíra é uma grande apreciadora da flor da malva-branca. (Sida carpinifolia). Essa malvácea é muito útil como alimento de manutenção durante a estiagem e também durante o período de chuvas.


Aqui próximo a minha casa, onde mantenho o meliponário urbano, existe alguns pequenos campos de malva próximo a Universidade Potiguar. Sempre que possível saiu bem cedo para observar as minhas meninas trabalhando freneticamente nesses campos.



Quem conhece bem a Jandaíra sabe que esta abelha tem uma ligação muito forte come essa planta, a rapidez e a habilidade que a mesma colhe o néctar da pequena flor da malva é de admirar.



Durante o meu rápido passeio nesses campos de malva não vejo somentes as Jandaíras, é comum a frequência das minhas lindas uruçus (melipona scutellaris), as robustas mandaçaias (melipona quadrifaciata) e diversas espécies de moscas e borboletas, mas nenhuma delas supera a habilidade da Jandaíra.




A impressão que tenho durante essas observações é que a Malva parece conversar com as pequenas e belas Jandaíras, numa linguagem simples e singela, onde somente aqueles que tem o amor por essas pequenas pode compreender:


-"Bom dia Dona Malva, com vai essa manhã?

-Vou bem minha filha. Você está atrasada! A italiana já passou por aqui.


-Não me diga! Foi mesmo.


-Foi, mas ela passou tão cedo que não estava pronta. Você chegou exatamente no horário da colheita. Aceita algumas cotas de néctar? O dessa manhã está ainda melhor.


-Que maravilha! Aceito sim. Preciso levar bastante pois a Dona rainha está cada dia mais gulosa, está colocando muito ovos e estamos nos programando pra enxamear no final da florada, precisamos de um estoque para suportar a seca do final do ano.

-Quem bom. Pena que São Pedro não esteja ajudando muito esse ano, as chuvas vão pouco e as minhas reservas de néctar estão cada dia menores, quase não tem chuvido.

-É verdade, a nossa sorte é esse abobalhado aí que está tirando fotos e escutando a nossa conversa sempre nos alimenta nos períodos de seca, se não fosse ele...

-Sorte sua, por essas bandas aqui não tenho essa mordomia, tome seu néctar e vá com Deus.

-Que delícia Dona Malva, sua flor está cada dia mais saborosa. Muito obrigado, até amanhã.

-Até minha filha, mande lembranças minhas a Dona Rainha."

att,
Mossoró-RN, 28 de maio de 2010.

Kalhil Pereira França
Meliponário do Sertão

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Produção de Rainhas "in vitro"

Caros amigos,

No decorrer dessa semana estarei repassando o que por mim foi aprendido durante o último congresso de meliponicultura. E pra começar, estou repassando logo abaixo o material que foi apresentado durante o Curso Avançado de Produção de Rainhas para Trigonas. Todo o material foi enviado gentilmente pela colega Denise A. Alves. A Denise é doutoranda em Ecologia pela Usp, orientada pela Prof. Dra Vera Lúcia Imperatriz Fonseca e foi palestrante durante o curso.

O material não vem, logicamente, com todos os detalhes, todavia é auto-explicativo, pois muitas das fotos falam por si. Espero que gostem e façam bom proveito do material pois é fruto de muito tempo de trabalho de todos eles. Esse pessoal está revolucionando a meliponicultura a níveis jamais pensados.

Em breve a multiplicação maciça de abelhas sem ferrão será uma coisa rotineira. No futuro, não será muito difícil você ligar para algum meliponicultor e encomentar 100 rainhas produzidas em laboratório.

CURSO DE PRODUÇÃO DE RAINHAS "in vitro"



Mossoró-RN, 27 de maio de 2010.

att,

Kalhil Pereira França
Meliponário do Sertão

segunda-feira, 24 de maio de 2010

MEU DIA PEDE MEL!!!!!!


Meu dia pede Mel!!!!

Foi com o slogan da campanha de incentivo ao consumo de mel no Brasil que o Professor Dr. Lionel (USP) abriu as atividades do 2º dia do 18º Congresso Brasileiro de Apicultura e 4º de Meliponicultura, evento grandioso que contou com a presença dos maiores estudiosos da área.



Infelizmente, por problema com a companhia aérea, não chegamos a tempo de participar das atividades do primeiro dia do evento. Tendo inclusive perdido a magnífica palestra da querida Prof. Dra. Vera Lúcia Imperatriz, a respeito dos meliponíneos. Ficamos sabendo que nosso trabalho foi citado pela ilustre Professora, fato esse que muito nos honrou.

Todavia, a perda do primeiro dia do evento foi compensada pela extensa e intensiva participação nas atividades do dia seguinte, logo após o credenciamento eu e os amigos Victor (EMATER-RN) e Paulo Menezes (Meliponário Menezes) fomos visitar a "Cidade das Abelhas", espaço montado fora do Centro de Convenções do Pantanal para servir de ilustração das diversas espécies de abelhas, o espaço também serviu para muitas das oficinas e clínicas de manejo com as Apis meliferas.





Confesso que diante da variedade de espécies, o espaço ficou a desejar com relação as nativas, principalmente pela falta de identificação das espécies que estavam sendo expostas, somente 3 ou 4 tinham alguma etiqueta que identifica a espécie, até mesmo os meliponicultores mais experientes tinham dificultades em identificá-las.




Mas este fato não tirou a beleza do lugar, uma curiosidade foi ver essas três colônias de lambe-olhos em meio a este pequeno campo de girassóis. As casinhas eram o xodó dos visitantes.


Outro destaque interessante foi ver essa colônia de Jataí Africana, confesso que só conhecia a espécie por fotos, mas a forma e o material usado pela colônia me chamou atenção, principalmente a sua agressividade diante de tantos curiosos, pense numas bichinhas valentes, daí o nome africanas, sorte não terem ferrão...


Ainda no período da manhã, participamos de várias palestras, tendo destaque a do Prof. Dr. Osmar Malaspina, Prof. Malaspina, como é mais conhecido no meio acadêmico, é hoje uma das maiores autoridades em estudos toxicológicos no mundo das apis, durante sua aula foi apresentado alguns fatores que vem influenciando no desaparecimento das abelhas e na forma e grau de toxidade de várias plantas.

Outro momento fundamental para a cadeia nacional de meliponicultores foi "Fórum do Meliponicultor", tivemos a participação de grandes nomes da meliponicultura do Brasil discutindo os mais variados assuntos a respeito da atual situação da meliponicultura no Brasil.




Infelizmente todos nós sabemos o quanto as autoridades desse país são omissas para existência das nossas abelhas nativas, todavia, muitas iniciativas já estão sendo tomadas para agregarmos força, principalmente junto a CBA, para um reconhecimento maior da importância da meliponicultura no Brasil.



Enfim, participamos intensamente dos trabalhos acadêmicos que estavam sendo expostos. Todavia, o melhor de todo congresso não foi só o aprendizado que levamos após cada apresentação dos palestrantes, mas sim o fato de ter sido possível rever e conhecer muuuuuita gente.

Um evento desse porte é tanto acadêmico como de confraternização, talvez até mais, era só caminhar alguns passos que você logo revia algum grande amigo meliponicultor ou conhecia alguém, que de imediato já se tornava seu amigo, a meliponicultura tem dessas coisas, sempre está aproximando as pessoas...


Após o almoço reforçado nos dirigimos ao térreo para participar do Curso de Manejo Avançado para Produção de Rainhas de Trigonas.


Para mim esse foi o melhor curso ofertado durante todo o Congresso de Meliponicultura, pois sempre acreditei na curiosa possiblidade de produção de rainhas em trigonas de forma artificial em laboratório. Só não sabia com fazer, agora já sei e vou montar um mini laboratório para tentar desenvolver a mesma técnica usada pelos pesquisadores durante o curso.


Terminada a aula, fomos a feira de négocios, e que feira. Logicamente, como esperado, a apicultura foi destaque na maioria de quase todos os Estand, da cachaça com mel a máquinas e roupas de proteção individual, tinha de tudo, tanto gente vendendo como gente comprado. Saí com a sacola cheia e a carteira vazia. Em négocios a feira superou mais 4 milhões de reais, volume muito além do esperado pelo Sebrae-MT.



Mas a meliponicultura, mesmo pequena, tinha seu belo e seleto espaço. A exemplo podemos mostrar o Estand do Sr. Wilson Melo e do Marco Pignatari, com os produtos da Tubi e as belas abelhas do Meliponário Brasil, respectivamente. O amigo Wilson Melo dispensa comentários, pois é mundialmente conhecido graças a suas maravilhosas abelhas Tubis.

O Marco, figura extremamente simpática e sorridente, é hoje exemplo de empreendedor no ramo da meliponicultra, seu meliponário, com várias centenas de abelhas sem ferrão é destaque na cidade de Franca-SP, onde desempenha o belo trabalho, estou até agora saboreando a maravilhosa caça artesanal feita pelo Marco com mel de Jandaíra. Pense num negócio bom!!!!!! Não sei por que nunca tinha feito isso por aqui, vou ficar rico, rs.


No dia seguinte queimamos o evento e decidimos que não podiamos deixar de conhecer o Belo Pantanal Matogrossense. Vim a Cuiabá e não conhecer o Pantanal é o mesmo que ir ao Vaticano e não conhecer o Papa.

Pois bem, logo cedo partimos em direção a Poconé-MT, cidade pequena que é considerada o berço da exuberância pantaneira. No meio do caminho o ônibus furou o pneu e ficamos a esperar por outro na praçinha da igreja matriz.


Não demorou muito e logo passei a observar várias abelhas nativas visitando uma bela planta que estava a florescer (pata de vaca), eram várias, borás, jataís e uma espécie de frisiomelita que não consegui identificar. Também achei os ninhos, fiquei espantado com a quantidade num mesmo lugar, em menos de 10 min já tinha achado 4 colônias, uma pertinho da outra, isso só mostra a riqueza da biodiversidade da região.




Assim que chegamos na Pousada Rio Claro fomos direto almoçar, o nosso amigo Paulo Menezes não perdeu a oportunidade "tibungou" logo em seguida numa rede, mas também é covardia, comer o Pacú à milanesa com molho de pimenta e oferecer uma rede a um nordestino é o mesmo que perguntar se menino que bala. É tiro e queda.



Após a digestão, fomos conhecer o magnífico Rio que leva o nome da pousada, Rio Claro. Não há como negar, a beleza da biodiversidade do Pantanal e de encher o olhos, a cada metro do passeio era fácil ver a beleza da fauna e da flora local.





Àqueles que não conhecem vale a pena dá uma esticadinha a essa tera tão bonita. Esse é o nosso Brasil, cada lugar mais bonito que o outro.


Já no quarto e último dia do evento, acompanhamos a cerimônia de encerramento que contou com a ilustre participação do Sr. Lucas Martinez, Vice-Presidente da APIMONDIA, evento a se realizar no próximo ano na Argentina.


Tivemos ainda a premiação dos campeões dos concurso do Congresso, entre eles o de maior destaque e emoção foi a premiação ao Apicultor mais antigo do Brasil, a honrosa premiação foi prestigiada ao Sr. Pompílio, o Pompílio, como gosta de ser chamado, é exemplo de amor e dedicação as abelhas, exemplo de vida.


Já quando chegávamos no aeroporto de Cuiabá para retornar a Mossoró-RN, encontramos a Prof. Marilda de malas prontas para passar alguns dias no Pantanal, conversamos rapidamente sobre as abelhas que tinha observado na praça em Poconé e lhe desejamos uma boa viagem.

Em fim, podemos dizer que foi um belo evento que deixará saudades, o próximo encontro nacional será nas Lindas Serras Gaúchas, em 2012, onde certamente, se assim Deus me permitir, estarei por lá para prestigiar um dos mais belos encontros sobre abelhas do Brasil.

att,


Mossoró-RN, em 24 de maio de 2010.

Kalhil Pereira França
Meliponário do Sertão

segunda-feira, 10 de maio de 2010

18º Congresso Brasileiro de Apicultura e 4º Meliponicultura


Faltam apenas 8 dias para o início dos trabalhos do próximo Congresso Brasileiro de Apicultura e Meliponicultura, evento grandioso que contará com a participação de pessoas de renome nacional e internacional. Não deixem de ir.

O evento será em Cuiabá-MT, nos dias 19 a 22 de maio, no Centro de Convenções de Cuiabá.

Eu estarei por lá, com a minha máquina fotográfica e em companhia dos amigos Victor (Emater-RN) e Paulo Menezes (Meliponário Menezes) representando os meliponicultores do Estado do Rio Grande do Norte.

Maiores informações podem ser obtidas no site do evento:

Essa será a oportunidade de conhecer muita gente boa e rever os já bem conhecidos.

att,

Mossoró-RN, em 10 de maio de 2010.


Kalhil Pereira França
Meliponário do Sertão

sábado, 8 de maio de 2010

Mais um degrau

A vida é uma grande escada onde a cada dia a gente vai superando cada degrau. A minha não é diferente, hoje foi o dia de superar mais um degrau e fechar um ciclo que se iniciou há 10 anos.

Exatamente no dia 05 fevereiro de 2001 eu ingressava em uma Universidade no Rio de Janeiro-RJ para iniciar uma das mais longa jornada da minha vida, iniciar o meu tão sonhado curso de Direito.

De lá pra cá muuuita coisa aconteceu na minha vida, muitas dessas acabaram por forçar o prolongamento do meu curso. Devido as dificuldades enfrentadas no decorrer desse longo tempo, tive por diversas vezes que trancar a faculdade, só conseguindo terminar o curso no final do ano passado já aqui em Mossoró-RN.


Confesso que muitas vezes no decorrer dessa longa jornada, longe de casa, com o coração apertado de saudade da família, com sono e fome devido a uma rotina estressante sem tempo pra nada à época, tive vontade de desistir.

Nessas horas eu parava e ficava a me lembrar de todas as pessoas que estavam naquele momento torcendo por mim. Todavia lembrava-me em especial da fala mansa do meu avô, que com seu sorriso largo e o olhar sereno me confessava em nossas conversas no alpendre da casa grande ter o desejo de ver um dia Doutor. Essas lembranças me faziam persistir.

Pois bem, hoje, dia 07 de maio de 2010, 10 anos depois do início da minha jornada, eu consegui realizar o sonho daquele velho senhor de cabelos brancos residente na zona rural de um pequeno município do Estado do Rio Grande do Norte.

Hoje foi o dia do resultado dos aprovados na última fase (prova prática-profissional) do Exame Nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, entre os aprovados está a feliz pessoa que escrever esse bendito artigo.


É nessas horas que a gente olha pra trás e ver que se não tivesse sido desse jeito, difícil, demorado, sofrido... Não teria a vitória o mesmo sabor, nem o orgulho seria o mesmo.

Essa conquista eu dedico a todos os familiares e amigos que acreditaram e me incetivaram, mas dedico em especial àquele velhinho de cabelos brancos que sempre torceu muito por mim.

A novidade foi tão boa que até as Jandaíras já estão comentando:

Clique na foto para ampliar!!!


Clique na foto para ampliar!!!!
att,

Mossoró-RN, 07 de maio de 2010.


Kalhil Pereira França

Meliponário do Sertão

terça-feira, 4 de maio de 2010

O Forrobodó das Jandaíras!!!

Todo ano é assim, chegado o período de inverno algo diferente começa acontecer com as minhas colônias de Jandaíras. Sinceramente, nunca dei muita bola para esse comportamento pois sempre achei que fosse apenas algum destempero provocado pelo excesso de chuvas ou mesmo alguma irritação provocada pelo grande volume de manejo por nós do meliponário em quase todas as caixas, tanto para colher mel como para desdobrar as colônias.


Acontece que todo mês de maio as abelhas simplesmente escolhem algum lugar no meliponário para fazerem aquilo que o Monsenhor Humberto Brumeng passou a chamar de o "Forrobodó das Jandaíras". É uma aglomerado de abelhas em lugares geralmente sombreados onde se pode perceber todo tipo de gente alada nesses encontros.

É realmente uma grande muvuca, chega gente de todo lugar com as mais variadas intenções, fazendo uma comparação com um tradicional festa de forró, podemos dizer que essa festa tem um motivo de comemoração aparente, estamos diante de uma enxameação.

Na verdade, não é bem uma enxameação, mas sim pontos de fecundação. Já pude constatar que boa parte das abelhas que estão nesses lugares são machos, não é a maioria, mas a presença desses rapazes nessa região denuncia que alguma coisa os atrai para esses lugares. Para descobrir o que realmente os atraía passei esses últimos 12 dias praticamente com olhos vidrados nesse gente farrista.

Para estimular resolvi posicionar uma pequena caixa no intuito de provocar ainda mais o alvoroço. E parece que deu certo, o que era apenas um pequeno baile de 15 anos se tornou uma grande vaqueijada.

Para explicar o que vi e o que vejo, nada melhor que contar uma paródia a respeito desse povo de asas que tanto gosto.

"Há gente servindo bebida como se fossem as garçonetes da festa, bem como um pessoal que chega carregado com muito pólen, o curioso é que antes da caixa elas simplesmente serviam aos participantes do evento, agora passaram a estocar dentro da caixa, por que será??? Talvez alguém venha a reinhar naquela casinha...

Os mais invocados são os machos, se posicionam na cabeceira da danceteria e esperam alguma moça velha passar para humildemente solicitarem um copo de vinho, alguma, de bom coroção, acaba cedendo um líquido açucarado ao cavalheiro em sua boca...


Não satisfeito com tal cortesia do beijo doce o cabra se atreve e chama a moça velha para dançar, a resposta ríspida é quase que imediata - O Dr. não sabe que moça velha não gosta de dançar acompanhada, procure uma moça nova, procure uma princesa!!!


O cavalheiro baixa a cabeça e recua voltando a posição de espera, acuado, fica a observar todas as outras a dancarem sozinhas...

Mas já dizia o profeta, Deus tarda mais não falha!!! A persistência vale a pena, derrepente chega uma moça solitária, de coloração chamativa acentuada, levemente dourada, sua cor parece denunciar ser de família importante...


Mal pousa na pista de dança e as moças já passam a trata-lá com afeição, parece que todas querem ser amigas daquela jovem moça que atrai muitos olhares, principalmente dos rapazes que passam a se amostrem sem pudor... - Olhe princesa, eu sou o mais forte. Outro passa e diz: - Ele é o mais forte mas eu sou o mais bonito. Nesse instante outro mais afoito toma a vez e diz: - Não olhe para eles, eu sou o mais inteligente.


A pobre moça, ainda desconcertada com tantos galanteios, demonstra timidez, mas no fundo já sabe muito bem a quem lhe entregará o seu bem mais precioso, a sua castidade.

Rapidamente, as moças mais velhas conduzem a jovem princesa para um canto reservado, longe de olhares humanos curiosos e cedentos por fotos de uma evento único na vida de uma moça pura. Ora, nada mais lógico, quem já viu intimidades no meio de um salão?

O galã, já afoito para a consumação do ato parece ser preparado pelas irmãs mais velhas...
-Olhe, vá devagar viu!!! A moça é pura e nunca fez isso na vida e essa será a única vez, faça de um jeito que lhe traga boas recordações.


O galã, quase não contendo sua anciedade diz: - Não se preocupe minha senhora, essa também é a minha primeira vez e terei paciência suficiente para aproveitar todos os segundos desse momento.

Não demora muito e a princesa, de modo singelo e pacato, chama o rapaz para dentro da caixa e lá, no escurinho do cinema a coisa literalmente acontece. Algum tempo depois o rapaz, saciado de tanta paixão, sai da caixa e cai no meio do salão.

Exausto, ainda da tempo para falar algumas palavras antes de partir dessa para melhorar: - gente, a moça agora é senhora!!!


O rapaz falece, mas todas passam a voar de alegria, é a primeira vez que vejo a morte de alguém ser tão comemorada...

Já é tarde, todavia o forrobodó não vai parar tão cedo, pois muitas outras moças novas ainda vão passar por ali e algum outro galã pode ter a sorte de morrer feliz..."


att,

Mossoró-RN, 04 de maio de 2010.


Kalhil Pereira França

Meliponário do Sertão

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Livio Victorius
disse...

Rapaz, o omi é poeta mesmo. Narrou com maestria o forrobodó das jandaíras. Não entendo muito de abelhas, mas posso afirmar que essas aí são bem sertanejas mesmo. No alto-oeste, beber ao velório de um amigo se chama "beber o defunto", e isso elas sabem fazer muito bem. Parabéns.

4 de maio de 2010 13:21

Joaquim Pifano - MONTEDOMEL disse...

Olá Kalhil,

estou "encantado" com o forrobodó das Jandaíras, parece ser muito mais ritualizado que nas Apis, onde a fecundação ocorre a grande altitude (fora da colmeia) e "ganha" o zangão mais rápido que "apanha" a rainha. E também morre depois do "flirt"...
A rainha gosta tanto da festa que nesse dia ainda repete a proeza uma série de vezes e nunca mais o faz.
A jandaíra fica fecundada para sempre só com um macho???

Abraços
JPifano

5 de maio de 2010 08:10

Meliponário do Sertão disse...

Amigo Pífano, que bom tê-lo por aqui.
"Parece" que sim, mas somente uma análise comparativa mitocondrial das crias no traria a certeza, alguns pesquisadores suspeitam que elas possam cruzar com mais de um macho, mas somente se esse não conseguir encher toda a reservar de esperma da rainha. Esse evento é raríssimo de ser observado e nunca foi estudado a fundo por ninguém. As minhas observações são apenas empíricas, não me deixam ter certeza de muita coisa.

5 de maio de 2010 08:31

Mateus disse...

Cada vez mais me surpreendo com a capacidade que o Kalhil tem de escrever esses versos e prosas, amigo não deixe nunca de nos brincar com suas histórias a respeito do mundo maravilhoso das Jandaíras, é realmente facinante...

Grande Abraço