quarta-feira, 13 de junho de 2018

As Caixas "Abandonadas"!


Como disse na postagem anterior fui ao encontro de algumas poucas caixas de Jandaíra que tempos atrás tinha deixado esquecidas em meio a mata do sítio. Pois bem, é sabido por todos a especial adaptação que as Jandaíras (melipona subnitida) possuem de se adaptarem as peculiaridades da caatinga, terra naturalmente quente e seca.


Depois de quase 5 anos esperava encontrar as colônias em estado bastante deplorável, afinal de contas todo esse tempo sem nenhum manejo certamente teria comprometido sua qualidade. Dai vou me aproximando lentamente da entrada das caixas e fico a observar o entre e sai de abelhas.


Não demora muito e percebo que o volume é significativo. Atrevo-me a bater em uma das caixas de modo a sentir a resposta à agressão. Nesse momento sou atacado por algumas centenas de abelhas que rapidamente procuram meus cabelos e mucosas no instinto natural de defesa.


Sem sombra de dúvida concluo que as colônias estão ativas e pelo peso das caixas já possuem uma boa reserva de mel. Ao final do dia retorno ao local e levo comigo de volta a Mossoró os enxames para melhor analisá-los em casa.


Hoje resolvi abrir para verificar in loco como estão. Bem, as fotos falam por si, com exceção de uma caixa que merece uma troca de rainha, as demais possuem boas reservas de mel e crias em abundância. das 04 (quatro) colônias que trouxe, 02 (duas) poderiam ser divididas. Mas não farei isso no momento.

Por hora vou substituir as caixas por novas e trocar a rainha velha por uma nova. Quero apenas providenciar uma morada mais dignas as minhas amigas e uma nova rainha, de modo a proporcioná-las uma melhor estadia na área urbana.

att,


Mossoró - RN, em 13 de junho de 2018.

Kalhil Pereira França
 Meliponário do Sertão 

segunda-feira, 11 de junho de 2018

De volta pra casa!

Quando bem mais moço, servindo a Marinha do Brasil como simples marinheiro de convés na plenitude de meus 18 anos de idade na cidade do Rio de Janeiro, uma das coisas que mais gostava era da derrota! Não me refiro a substantivo derrota que nos remete ao fracasso, a perda... mas aquela velha expressão usada pelos marujos para indicar o caminho de volta. Na Marinha derrota tem outro significado - rumo contrário ao da rota traçada, o que naturalmente nos remete ao caminho de volta pra casa.


Pois bem, é com esse sentimento de retorno que escrevo essa nova postagem depois de alguns anos sem quase ou nenhum contato com o mundo das abelhas sem ferrão! Os motivos desse distanciamento agora não vem ao caso, nem tão pouco são dignos de registro. Mas o fato é que, mesmo distante, acompanhava à distância o vai e vem das minhas pequenas aladas nesses últimos 5 anos de seca que muito castigou o sertão.

Mas como nem toda alegria é pra sempre e nem toda desgraça perdura pela eternidade, esse ano o Grande Arquiteto do Universo abençoou o sertanejo com um bom ano de inverno, e que inverno! Chuvas não faltaram, pelo contrário... Rios que outrora mostravam o rachão da terra hoje correm em leitos verdejantes, açudes sagram, barragens recuperam seu volume natural, o homem do campo volta a sorrir e ter esperança.


Ainda na semana passada, depois de muita saudade, voltei no meu pequeno pé de serra, na bucólica cidade de Taboleiro Grande, interior do Rio Grande do Norte.  E como é revigorante voltar ao sertão. Lugar de minhas origens e eternas recordações maravilhosas, lugar de gente simples, mas não menos valorosa e cativante. Lugar de minhas Jandaíras!

Ainda muito cedo sou acordado pelo canto dos pássaros e fico a escutar o chocalho do gado que já sai em direção ao pasto. Tomo aquele bom café com leite com bolo, muito queijo da terra e coalhada, tudo feito aqui mesmo no sítio e vou em direção ao milharal que a essa altura já está no ponto de colheita.


No caminho vou atento a cada detalhe, sentindo o cheiro de mato verde ainda molhado pelo sereno da noite, ouvindo o canto do corrupio, olhando o rastro da raposa que na noite anterior passou por ali, percebendo as formigas que trabalham sem parar aproveitando cada folha caída ao chão. Andando sozinho sou coberto por um sentimento de muita paz, um tranquilidade que não encontramos na velocidade das grandes e violentas cidades do país.


A certa altura do caminho me lembro do meu velho avô! Mesmo após 7 anos de sua morte impossível não me recordar de nossas caminhadas por essa mesma vereda. Ao seu lado, muitas foram as lições tiradas nessas rápidas e divertidas caminhadas. 


Após esse nostálgico momento vou me aproximando do milharal. Tamanho é meu espanto ao observar a quantidade plantada. Esperava algumas poucas fileiras, mas devido a fartura do inverno plantaram quantidade bem mais que o habitual. Esse ano criação nenhuma morre!

Colho algumas espigas e lembro de alguns velhos cortiços de Jandaíra que andavam pendurados nas mangueiras do sítio. Depois muitos anos sem manejá-las esperava encontrar suas caixas em estado lastimável.

Bem, essa parte eu vou pular.... Não vou contar como encontrei as colônias, vou deixar esse relato para a próxima postagem, pois servirá para mostrar o poder de adaptação da abelha Jandaíra aos desafios do clima quente e seco da caatinga, região essa que muito me fascina.   


E por falar em Jandaíras trouxe comigo de volta a Mossoró algumas das poucas colônias que por ali se encontrava para um reinício, ainda tímido, é bem verdade, mas com o mesmo entusiasmo de quando minha criação ultrapassada as centenas de caixas racionais. De fato, não desejo levar a coisa ao patamar de antes. Pra falar bem a verdade, uma criação daquele nível dá muito mais trabalho que prazer e não é isso que procuro no momento. 

O desejo é de apenas retornar, sem o compromisso de antes, sem as preocupações de antes, sem a quantidade de antes... mas com o desejo e amor de antes pelas abelhas Jandaíras.

att,


Mossoró-RN, em 11 de junho de 2018.


Kalhil Pereira França
Meliponário do Sertão