Nossa História

As vezes as coisas acontecem por acaso, isso é uma verdade. Nunca pela minha cabeça imaginei que um dia pudesse criar abelhas, e mais, sem ferrão. Na verdade, eu confesso que antes de conhecer as abelhas sem ferrão tinha a certeza absoluta que todas as abelhas do mundo tinham ferrão.
Muitas pessoas se surpreendem quando descobrem que a minha formação não é biológica, na verdade, eu não sou agrônomo, não sou veterinário, nem muito menos biólogo ou zootecnista. Me formei em Direito e sou pós-graduado na área. formalmente sou Servidor Público concursado, Diretor da Secretaria do Patrimônio das Promotorias de Justiça da Comarca de Mossoró-RN. Enfim, quem me conhece a primeira vista não acredita que eu detenha algum conhecimento sobre animais tão curiosos.   

A minha história com as abelhas surgiu de uma maneira muito inusitada. Há muitos anos estava eu sentado numa roda de amigos na praia e a certa altura da conversa um dos colegas me relatou que iria colher um pouco de mel de suas abelhas que ele criava em casa.

Na hora eu fiquei espantado, como alguém pode criar abelhas em casa? Me perguntei. Para mim, aquilo era no mínimo perigo, ele morava (e mora ainda hoje) perto de escolas, hospitais etc, poderia ser um enorme risco as pessoas próximas. Mas o mais surpreendente pra mim foi quando ele me disse que as suas abelhas eram especiais e que não tinham ferrão. Na hora todo mundo riu e eu até achei que realmente era piada da parte dele.
Pra resumir, ele, como todo meliponicultor, teve todo interesse em matar a minha curiosidade. Ao chegar em casa, imediatamente passei horas na internet lendo todas as informações que podia sobre as abelhas sem ferrão.

Nos dias seguintes fiz várias visitas a casa do amigo para conhecer de perto aquelas abelhas tão interessantes. Foi nessa época que me descobri apaixonado pela atividade. Nesse período consegui o meu primeiro cortiço de Jandaíra e de lá pra cá não parei mais.

Logo após a decoberta da atividade surgiu em mim uma paixão que só quem conhece o ramo pode entender, mas não explicar. Fui aos poucos conhecendo o maravilhoso mundo das mais variadas espécies de abelhas nativas brasileiras, mundo esse que chamamos de Meliponicultura. No decorrer de todos esses anos aprendi muito, fiz muitos amigos na área, conheci pesquisadores nos mais variados lugares do mundo e com muitos deles estou sempre a desenvolver ou a apoiar trabalhos de pesquisa no intuito permanente de divulgar e ampliar o conhecimento existente sobre as abelhas sem ferrão.
 Meu foco de trabalho tem sido a abelha sem ferrão conhecida popularmente como Jandaíra (melipona subnitida duke), devido, principalmente, a sua melhor adaptação a minha região, a Caatinga.
Como tudo com tempo evolui e cresce, surgiu, ainda no ano de 2007 a necessidade de organizar melhor atividade, pois o lugar que criava as abelhas estava ficando pequeno demais para as várias colônias que ali tinham sido assentadas.

Foi aí que surgiu a idéia de montar um lugar especial para a manutenção das abelhas, um lugar que pudesse ser de fácil acesso e ao mesmo tempo confortável do ponto de vista floral para as abelhas. Como o foco principal de minha criação são as Jandaíras, típicas do semi-árido nordestino, o lugar só podia ser o Sertão.

Mais especificamente uma cidade que tenho boas recordações da minha infância, tempos de menino que não voltam mais, tempo onde responsabilidade e dinheiro eram palavras pouco conhecidas.

Taboleiro Grande, cidade situada na ponta da tromba do elefante potiguar, onde Judas perdeu as botas e onde o sol parece não dar trégua a ninguém, terra quente e de mata seca, tão pequena que se você passar a segunda marcha, já saiu da cidade.

Mas essa terra tem uma grande vantagem, lá residem pessoas que amo e que torcem muito por mim e em especial, um casal de velhos que moram num sítio muito bonito, onde a mata nativa está ainda muito bem preservada, onde um rio temporário corre durante a época do inverno e que durante a seca, diversas outras plantas florescem o tempo inteiro, para as abelhas essa visão é um paraíso.

Foi lá então que montei, de maneira organizada, meu primeiro meliponário com cerca de 60 caixas de jandaíras e mais algumas outras espécies. A esse primeiro meliponário dei o nome de "Meliponário do Sertão", uma homenagem a essa terra que tanto amo, mesmo diante de tantas adversidades naturais.

Hoje, temos alguns meliponários espalhados pela zona rural dos Municípios de Mossoró e Tibau, manejamos atualmente certa de 12 espécies de abelhas sem ferrão, em especial a Jandaíra. Devido a essa enorme curiosidade sobre as abelhas e ao meu contato diário sou capaz de identificar com grande facilidade as mais variadas espécies. Atualmente sou Consultor Técnico na área de Meliponicultura em diversos projetos de capacitação no Rio Grande do Norte, na Paraíba e no Ceará.