quarta-feira, 29 de agosto de 2012

300.000 Visitantes

Essa semana chegamos ao surpreendente número de 300.000 visitas. Obrigado a todos que nos acompanham e sempre visitam este espaço dedicado com muito carinho as abelhas sem ferrão.

Estamos sempre à disposição de todos os amantes das abelhas nativas...



segunda-feira, 27 de agosto de 2012

A Maior Rapadura do Mundo

Neste domindo último, por volta das 10h, estava eu margeando a CE-040 com destino a Fortaleza-CE e na altura da cidade de Aquiraz me deparo com a seguinte placa:

(Venha conhecer a maior rapadura do Mundo)

Imediatamente parei o carro e vi que se tratava de um antigo engenho (agora mecanizado) que produzia produtos derivados à base da cana-de-açúcar, em especial rapadura, geleias e caldo de cana geladinho, tudo feito com com muito carinho e sabor.

Mas a minha curiosidade era na verdade ver de perto a maior rapadura do mundo. Para os desavisados a rapurada é um típico doce do Nordeste, muito consumido no passado pelos antigos vaqueiros que faziam uma mistura de carne de sol, rapadura e queijo de coalho, e que até hoje é muito apreciado pela população local.


Ao entrar no engenho me deparo com a espetacular maior rapadura do mundo. Realmente fiquei imprecionado com o tamanho da criança. Agora não me recordo as medidas nem exatamente o peso que me foi informado, mas sei que o pessoal do guinness book registrou o feito.

 
Passada a surpresa me dirigi a processo de fabricação da rapadura, que é quase uma arte. Muito solícito, seu Antônio me recebeu muito bem e passou-me a mostrar todo o processo que vai desde a moagem até o ponto final do caldo no tacho.

O processo é quase todo artesanal, o ponto ideal é um segredo só passado de pai para filho, pois cada engenho tem suas reservas. Com dito, diante de tamanha iguaria, não poderia deixar de aproveitar e me deliciar com um bom caldo de cana bem gelado servido aos visitantes acompanhado de algumas (ou várias) castanhas, a depender da gula do visitante.

(moagem mecanizada)

(caldo no tacho, ponto segredo secular)

(Seu Antônio montando a massa na forma, 30 anos de mestre doceiro)

Depois de pronta a massa é posta em moldes que mais parecem tijolos, em fôrmas de madeira para esfriar e em seguida embaladas para venda em vários do lugares do Ceará e Rio Grande do Norte. 



Doce não atrai somente os seres humanos, mas também as abelhas. Perguntei ao Seu Antônio se com tanto alimento atrativo ao ar livre não eram incomodados com abelhas. Não terminei a pergunta e ele me apontou várias que estavam sugando o açúcar das fôrmas ainda quentes.

A minha surpresa maior foi o fato de não serem em grande quantidade, mas segundo ele, vez por outra é preciso fazer fumaça para espantá-las.

Esse é o nosso Sertão e suas antigas e novas tradições...

Mossoró-RN, 27 de agosto de 2012.

Kalhil Pereira França
Meliponário do Sertão

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Velhos conceitos x novas ideias

Como é difícil mudar antigos conceitos...
Leiam a postagem e entenderão o contexto da frase...

 (...)
Conforme prometido na semana passada, fui visitar os meus novos amigos meliponicultores. Ao chegar na residência me deparei com o Francisco Júnior e com seu irmão (que devido ao nome diferente não consigo lembrar-me, rs), dois jovens bastante empolgados com a descoberta da meliponicultura.

Na verdade, a história não começa com os dois. Explico:

Os dois são filhos do Seu Francisco Girolando, funcionário antigo da EMATER, que também é apicultor e meliponicultor. Para minha surpresa, Seu Francisco cria jandaíras há anos no local, é bem próximo a minha antiga residência, mas não pratica nenhum tipo de manejo, se limitando, como a grande maioria dos meliponicultores, apenas a coleta de mel em períodos de floração.


A recepção pelos dois foi bastante calorosa e percebi grande entusiamo. Como esperado me questionaram com inúmeras dúvidas, respondi todas no intuito de estimulá-los. Todavia, percebia Seu Francisco distante, bastante introspectivo, literalmente desconfiado de minhas respostas. Desconfiado é pouco, podemos dizer que ele estava bastante incomodado. 

Talvez estivesse ele a pensar: O que sabes este rapaz que eu, nos meus longos anos de criação, não sei???


Os criadores tradicionais praticamente não realizam nenhum tipo de manejo. Normalmente perdem muitos enxames, como as colônias não são tratadas acabam perecendo em épocas de baixa floração, pois o mel que fora produzido para a subsistência das abelhas é quase todo coletado. Assim, no decorrer da seca, as abelhas acabam morrendo de fome, pois não são alimentadas.


Fora que, devido a falta de conhecimento, esses "antigos" criadores acreditam muitas vezes que abrir a colônia para inspeção é extremamente prejudicial. Para vocês terem ideia essas colônias estavam há 3 anos sem nenhuma inspeção.

 

Naturalmente, devido a falta de manejo, a grande maioria está muito fraca e precisando de alimentação. Ainda na semana passada os garotos seguiram minhas orientações de manejo, numeraram as caixas, prepararam fichas de acompanhamento e alimentaram as abelhas. Hoje, ao abrir novamente as caixas que tinham sido alimentadas, tiveram uma enorme surpresa em perceber a evolução na postura e a construção de novos potes de mel.

 

Foi nesse momento que Seu Francisco, irritado pela abertura "fora de época das colônias", percebeu que seu antigo conceito de não manejar, ou melhor, nem abrir as colônias pudesse está errado. Nesse momento Seu Francisco se tornou mais aberto as perguntas e me mostrou outras espécies que cria, sendo duas moças-branca (Friseomelitta doederleini) e duas Jatis (plebeia sp).

 

Depois disso nossa conversar ficou mais prazerosa e flui em ar mais amistoso. Pretendo futuramente levar os dois para conhecer nossos meliponários e repassar alguns outros conhecimentos essencias ao crescimento na atividade.

Fiquei de levar uma de minhas caixas para servir de base para construção de novas, pois as deles são antigas, com uso de pregos e muito baixas, o que impossibilita o uso de alimentadores interno. Estão se virando com copos descartáveis.

Quem sabe ainda ouviremos falar das Jandaíras desses dois jovens...( e do Seu Francisco Também, rss)

Mossoró-RN, em 20 de agosto de 2012.

Kalhil Pereira França
Meliponário do Sertão

   




quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Revisão Periódica

Todos os dias recebo muitos e-mails com pedidos de ajudar e informações sobre as abelhas sem ferrão. Sempre que possível respondo a todos orientando a melhor maneira de agir. Entre essas maneiras uma é praticamente indispensável, realizar inspeções periódicas.

Muita gente acha que o simples fato de abrir uma colônia para realizar uma revisão pode prejudicar o enxame. Na verdade, até podemos enjuriar o enxame se o manejo não for feito por pessoa habilitada, mas no geral a revisão, pelo menos bimestral, é de suma importância para a manutenção do enxame.

Hoje recebi um e-mail do Francisco Júnior, que é estudante de agronomia da Universidade Federal do Semi-Árido (UFERSA), aqui em Mossoró/RN, em resumo, me questionva sobre qual a melhor época para fazer uma limpeza das caixas. Já faziam 3 anos que os seus cortiços não eram abertos e ao abrir o mesmo ficou bastante surpreso com o que viu, pois todas estavam muito fracas.

Respondi pedindo que me mandasse fotos dos enxames para minha avaliação, as quais segue abaixo para as nossas notas e observações importantes.

 (potes de mel em época de seca)

Quando as Jandaíras percebem a chegada do verão (seca), na medida que os potes vão sendo consumidos e não mais preenchidos, as abelhas, no intuito de evitar que a cera fique ressecada, passam a engrossar as paredes dos potes restantes. percebam que os únicos potes restantes e ainda fechados são os de pólen, pois praticamente não há mais reservas para essa colônia.

 (poucas jandaíras sob potes de pólen)

Nessa foto podemos perceber algumas poucas abelhas, que quase sem alimento, retardam seu metabolismo no intuito de economizar toda a energia possível. Um fato curioso na Jandaíra é a sua capacidade de suportar longos períodos de estiagem com populações muito pequenas.

(potes com mofo)

Nessa foto e seguintes percebe-se que quase toda a cera está comprometida. O morfo tomou de conta pois as abelhas não tiveram condições de acumular o material de maneira lenta e progressiva.

(falta de revisão)

Pelo estado dos potes acredito que o meliponicultor realizou uma coleta de mel em uma colônia com pouca população e em época errada. Como quase que todos os potes de mel ficaram vazios ao mesmo tempo, as abelhas não tiveram tempo suficiente para acumular a cera e evitar que ela estragasse.

 (potes seco com cera velha, a solução é reciclar)

Mas se engana quem pensa que todo esse material está perdido, é possível reaproveitar toda essa cera morfada caso ela seja fervida em água limpa até se desmanchar. Eu já ensinei essa técnica de reaproveitamento de cera, que aprendi com um amigo Rivan, que é meliponicultor lá em Macaíba, cujo link segue: http://meliponariodosertao.blogspot.com.br/2011/06/faz-bastante-tempo-que-nao-posto-nada.html
 
 (ninho com envólucro)

Em um caixa ainda percebe-se a existência de um envólucro, talvez ainda haja um restante de ninho em desenvolvimento ou mesmo alguma rainha viva. Nesse caso uma dose de xarope pode ajudar, mas vai dá trabalho pela pouca população. O ideal seria um disco de cria ou mesmo a doação de campeiras a essa rainha, após a realização de uma limpeza completa na caixa.

 (caixa perdida)

Já nessa última praticamente nada sobrou, ainda podemos aproveitar a velha caixa, mas pelo atual manejo que desenvolvemos essa caixa com pregos não é, de maneira alguma, a mais recomendável para esse tipo de criação. 

Sábado tentarei visitar o colega meliponicultor e verificar de perto os outros enxames, acho que posso ajudar a recuperar algumas outras caixas e ensiná-lo a manejar as abelhas de maneira que elas merecem.

Mossoró-RN, em 15 de agosto de 2012.

Kalhil Pereira França
Meliponário do Sertão