segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O que é mel???

O que é mel???


Ora, mas que pergunta mais besta!!! Todo mundo sabe o que é mel. Mel é o líquido doce, de cor, cheiro e consistência variadas a depender do tipo de florada, oriundo da transformação do néctar das flores colhido pelas abelhas.

Pois bem, eu também sempre pensei assim, logo o mel é o produto produzido pelas ABELHAS para sua alimentação, certo! ERRADO.



Para as Autoridades Brasileiras responsáveis pelo Sistema de INSPEÇÃO INDUSTRIAL E SANITÁRIA DE PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL - RISPOA mel é:

TÍTULO X
INSPEÇÃO INDUSTRIAL E SANITÁRIA DO MEL E CERA DE ABELHAS
CAPÍTULO I
Mel


Art. 757 - Entende-se por Mel o produto alimentício produzido pelas
abelhas melíferas a partir do néctar das flores ou das secreções procedentes de partes vivas das plantas ou de excreções de insetos sugadores de plantas, que ficam sobre partes vivas de plantas, que as abelhas recolhem, transformam, combinam com substâncias específicas próprias e deixam maturar nos favos da colméia.

Segundo o conceito técnico (e legal), mel é somente o produto alimentício produzido pelas abelhas das espécie Apis melifera, sendo assim, o mesmo produto produzido pelas abelhas indígenas brasileiras não pode ser considerado como mel.

Esse absurdo se deve ao fato que o mel dos meliponíneos não possui as mesmas características sensorias e físico-químicas do mel produzido pelas abelhas africanizadas do Brasil.




Ora, Isso é lógico. As abelhas indígenas brasileiras são abelhas completamente diferentes das apis, não só pelo fato de não terem ferrão (ferrão atrofiado), mas principalmente pela diversidade de méis produzidos, cada um mais delicioso que o outro.

Não há necessidade ir muito longe, o mel produzido por nós aqui no Meliponário do Sertão foi escolhido no ano passado no Concurso Nacional de Méis de abelhas sem ferrão produzido pela Asssociação de Meliponicultores do Estado do Rio de Janeiro o melhor mel do País. Fato esse que até hoje nos enche de orgulho e satisfação.

Mas mesmo assim, legalmente falando o que é produzido pela meliponicultura não pode ser considerado como mel. Se esse líquido maravilhoso não é então eu não sei o que é.

Já sei, talvez nós meliponicultores devessemos chamá-lo não de mel, mas sim de líquido doce, de sabor e qualidade medicinais insuperáveis, raro por natureza e desconhecido pela autoridades brasileiras, oriundo de abelhinhas extremamente dóceis, que não fazem mal a ninguém.

Mesmo assim, acho que os burocratas ainda vão procurar reclamar de alguma coisa nesse novo conceito. Esse é um dos grandes motivos da meliponicultura não crescer no Brasil, a falta de informação a respeito da existência de nossas abelhas nativas.


Certa vez, em conversa com um grande meliponicultor da região, produtor de significativa quantidade de "mel" de Jandaíra questionei o fato de ninguém se preocupar em obter o selos de vigilância sanitária federal (SIF), estadual (RISPOA) ou mesmo municipal (VS). A resposta foi curta e grossa: Eles nem sabem o que é Jandaíra, muito menos o que é o mel produzido por elas.

A verdade é que o que nos motiva a continuar na atividade é o amor pelas abelhas nativas, a sua nobreza e importância na natureza estão ainda muito bem escondidas por trás da falta de informação a respeito de sua existência e principalmente, pela falta de interesse em preservar algo que é cobiçado por muitos países, a nossa imensa biodiversidade.

Enquanto isso, ficamos aqui como maravilhoso líquido doce oriundo das abelhas nativas do Brasil, que não pode ser chamado de mel.

att,

Mossoró-RN, 18 de janeiro de 2009.


Kalhil Pereira França
Meliponário do Sertão




quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

A Beleza do Meu Sertão Potiguar

Há coisas que só um olhar atento e curioso pode perceber, muitas vezes a beleza da natureza de um povo está tão clara que chega a cegar. De tão acostumados a percebermos o encanto das coisas passamos a enxergá-la de maneira simplória.

Hoje de manhã eu e minha família nos dirigimos rapidamente a Natal, capital do estado do Rio Grande do Norte. A viagem foi muito rápida, pois compromissos importantes nos esperavam ainda na noite de hoje em Mossoró.

Sem está dirigindo pude aproveitar para vislumbrar melhor a paisagem que percorremos. O trecho já é bem conhecido por todos nós, mas hoje algo me fez passar a observar de forma mais detalhada o caminho e nele pude perceber muitos encantos de encher os olhos.


Na ida, paramos para almoçar num restaurante já bem conhecido pela ótima comida na estrada, bem próximo a Natal. Durante o almoço, parei para observar uma grande concentração de abelhas nos pés de coqueiro próximos. Várias eram as espécies que por lá colhiam muito pólen, principalmente as daninhas irapuás.


Já na volta, passei a disparar a máquina em cada bela paisagem. Inicialmente, parei para observar bem de perto esse belo pé de Flamboyant vermelho. A grande árvore em contraste com a simplicidade da casa nos mostra o quanto custa pouco ser feliz. Aproveitei e parei para conversar com os donos casa.

Os proprietários, Dona Raimunda e Seu João, me contaram que o pé esteve mais bonito, pois muitas de suas lindas flores já caíram. Mesmo assim, continua de tirar o fôlego.


Quando pensei que não encontraria mais um pé de Flamboyant tão bonito assim me aparece esse de tonalidade laranja, mais lindo ainda que o primeiro. As cores são tão vívidas que de longe o avistamos em meio a mata ainda seca.


Um pouco mais a frente encontro mais um, este estava solitário junto a um grande descampado de pasto seco. O encanto da árvore suaviza o cinza da paisagem sertaneja durante essa época.



Caminhamos e a diante vejo ainda de longe o pico do Cabugi com seus quase 600m de pura beleza. O pico do Cabugi é uma das paisagens mais bonitas do Sertão do RN e fica ainda mais belo quando estamos bem pertinho. As fotos não conseguem demonstrar a grandeza de sua forma e encanto.


Continuamos percorrendo e durante todo o caminho da volta uma planta me chama a atenção pela sua constância na paisagem, os grandes pés de Cacto, principalmente os Cardeiros. Os cactos são as figuras mais representativas do Sertão. Sem folhas, cheios de espinho e acima de tudo extremamente resistentes às enterperes do clima do sertão, mostram que para se viver nessa região é preciso muita perseverança.




Por cada pequena cidade que passamos uma feirinha nos espera na beira da estrada, cada venda mais colorida e enfeitada que a outra com todos os produtos possíveis e imagináveis. Vende-se de tudo: de manteiga da terra a feijão verde, de mel de "italiana" ao raríssimo mel de jatí.






Falando em "italiana", fizemos uma paradinha na cidade Lajes-RN. No ponto de apoio dos ônibus da viação Nordeste, me dirigi a lanchonete e olhei para a máquina de sorvete. Quando já ia fazendo o meu pedido vejo que a máquina estava completamente dominada por uma grande quantidade de abelhas africanas.


Desisti na hora, rsrs. Perguntei a atendente se era comum ser assim e ela me disse que não. Sempre tem uma ou outra na área, mas somente na época da seca elas passam a praticamente dominar a máquina. Perguntei se elas incomodavam porém não deu tempo nem de terminar a pergunta, ela me mostrou a mão com duas picadas somente naquela tarde.

Mandei que ela pedisse aumento ou mudasse de emprego, rsrs.

Antes de chegarmos em Assu-RN, passamos sobre o Rio Piranhas-Assu, extremamente largo. A água percorre por caminhos sinuosos formando pequenas ilhas de vida onde diversas aves fazem seus ninhos.


Na época de chuvas todo o leito do rio fica completamente tomado, principalmente pelo fato de que a barragem Armando Ribeiro, uma das maiores do Nordeste, tem sua sangria diretamente no rio.



Mas nem tudo é beleza, a frente pudemos observar o trabalho incansável das várias cerâmicas do Vale do Assu que queimam 24h por dia milhares de toneladas de madeira, tudo mata nativa. Pena saber que assim como muitos pé de Imburana, Cantigueira, Angicos etc, muitas abelhas também são queimadas vivas dentro desses grandes fornos.


Já encerrando a viagem, já bem próximo a Mossoró-RN me deparei com grandes plantações de melão. Pedi que reduzissem um pouco a velocidade, pois onde tem plantação de melão tem abelha.


Dito e feito, foi só caminhar um pouquinho e encontrei um grande apiário. As caixas, todas da cor azul, estavam voltadas para o nascente.



Contei mais de 50 caixas, certamente tinha muito mais, contudo o mato seco e fechado dificultava a aproximação na cerca para fotos mais nítidas. Além do que já, estava ficando escuro e pouco se enxergava.


Devido ao adiantado da hora não pude parar na fazenda para conversar com algum responsável sobre as abelhas, fica para uma próxima vez quando o tempo não for um fator contrário.


Por fim, ainda deu tempo para encerrar a viagem com esse belo pôr-do-sol. Certamente passei a enxergar o caminho a Natal com outros olhos. Pude, mais uma vez, ter a certeza do quando é belo o meu Sertão do Rio Grande do Norte.

A todos uma ótima semana.

att,

Mossoró-RN, 06 de Janeiro de 2009.


Kalhil Pereira França

Meliponário do Sertão

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Um descuido fatal

Antes de mais nada, gostaria de me desculpar com os amigos do Meliponário do Sertão pela grande ausência no blog, desde o dia 20 de dezembro estava praticamente voltado para as festividades do natal e ano novo.

Infelizmente, não iniciei o ano muito bem com minhas abelhas, devido a um grande descuido por parte de alguém daqui de casa, tivemos um perda incalculável de abelhas da espécie Mandaçaia (todas as subespécies).



Antes de viajar, algum desavidado deixou uma lâmpada acessa em uma parte do Meliponário que se concentra algumas colônias, em especial, grande parte das minhas belas mandaçaias.

O Problema em si não foi a lâmpada acessa, mas o fato de embaixo dessa lâmpada existir uma pia com cheia de água que refletia a luz da lâmpada gerando nas abelhas uma desorientação em direção a água.



Como nós sabemos, as abelhas se orientam pela luz e procuram seguí-la para realizarem seu vôo. Durante as primeiras horas da manhã as abelhas saiam, ainda pela alvorada com pouca luz, e davam de cara com o reflexo da luz da lâmpada dentro da pia.



Resultado: perdi muitas abelhas, na sua grande maioria mandaçaias principalmente por que elas saem bem mais cedo do que as Jandaíras e uruçus, nas fotos podemos perceber a pia completamente lotadas de abelhas mortas, pela quantidade de abelhas mortas tenho certeza que perderei várias colônias e diversas outras estão em risco devido a falta de mão de obra (obreiras adultas).

Enfim, vou ter que começar tudo de novo... Pelo menos isso serviu de exemplo para todos nós do quanto a falta de cuidado com lâmpadas pode prejudicar as nossas abelhas, vamos agora torcer pra ver o que vou conseguir salvar e recuperar.

att,

Mossoró-RN, 1º de Janeiro de 2010.


Kalhil Pereira França
Meliponário do Sertão