segunda-feira, 24 de agosto de 2009

A questão das 44 colônias

Segundo estudos de KERR & VENCOVSKI (1982), o número mínimo de colônias necessárias para manutenção permanente de uma espécie com população mínima de machos diplóides, seria de 40 colônias. KERR (1985) depois elevou esse número mínimo a 44 colônias.

Sendo o número de colonias de uma espécie na área de reprodução, inferior a 44, a probabilidade de rainhas acasalarem-se com machos que possuem alelos XO iguais a um dos seus, é 17,4%. Isto determina a produção de 50% de machos diplóides (Kerr & Vencovsky 1982).

(Professor Dr. Kerr)

Dessa maneira, segundo a corrente do professor Kerr, as 44 colônias seriam necessárias para a manutenção de pelo menos 6 diferentes aleixos sexuais. Dessa maneira, segundo a visão dessa corrente entocmológica, a existência de menos 44 colônias num meliponário estaria, em tese, fadada ao fracasso no decorrer de algumas gerações.

Essa teoria nunca foi vista por mim com bons olhos, nada contra a quem a estudou e a desenvolveu, pelo contrário, acredito, assim como o Professor Paulo Nogueira Neto, que a existência de machos diplóides é muito prejudicial as colônias que desenvolvem esses cruzamentos, a minha rejeição a essa teoria, na verdade, é devido ao fato que se aceitarmos esse pensamento como completamente verdadeiro para todas as espécies de meliponíneos, estaremos inviabilizando por completo a meliponicultura de todas as espécies de abelhas não nativas de sua região, principalmente pela dificuldade de "importar" 44 colônias de uma região para outra não originária.

(Professor Dr. Paulo Nogueira Neto)

Felizmente, o Professor Dr. Paulo Nogueira Neto, atráves de seus estudos com várias espécies de meliponíneos, vem constatando que a teoria Whiting não é completamente verdadeira, segundo PNN, a ocorrência desse fenômeno só é acentuado em situações de estresse:


"Quero salientar que quanto maior for o número das colônias de Meliponíneos que formam uma população, tanto melhor sob o aspecto genético, pois haverá maior variabilidade biológica. Contudo, demonstrei ser possível e viável estabelecer uma população a partir até mesmo de uma única colônia inicial, desde que se trate de espécie bem adaptada às condições ecológicas locais. Em relação às conseqüências de endocruzamentos de Meliponíneos, oProfessor Warwick Kerr tem uma opinião divergente da minha. A seu ver, como foi previsto por Whiting, metade dos endocruzamentos irmão x irmão produzem machos que representam 50% dos indivíduos diplóides da colônia, o que é desastroso para a mesma. Não nego que a existência de machos diplóides possa ser altamente prejudicial às colônias onde os mesmos nascem em grande número. Contudo, as minhas pesquisas mostram que de alguma maneira esse problema é compensado e superado nas colônias que se encontram em bom estado e cuja espécie é nativa do lugar onde estão ou que encontram, em outro local, condições ecológicas equivalentes. A meu ver, nessas condições favoráveis o problema não chega mesmo a se apresentar. Se, porém, as condições ambientais são desfavoráveis, seja por uma situação de estresse ecológico (inclusive climático) ou por algum outro motivo semelhante, nesse caso após um endocruzamento a produção de machos diplóides poderia surgir e liquidar ou prejudicar seriamente a colônia. Em resumo, na minha opinião, a teoria das 44 colônias não se aplica a populações nativas de Meliponíneos que estejam em boas condições fisiológicas,ambientais e alimentares. (Nogueira-Neto, Paulo N 778v Vida e Criação de Abelhas indígenas sem ferrão. — São Paulo: Editora Nogueirapis, 1997)."

Eu, pessoalmente sigo o pensamento do Professor PNN, não apenas pelo sentimento recíproco de viabilidade, mas principalmente pelo fato de já ter experimentado que é plenamente possível a criação de meliponíneos, mesmo realizando cruzamentos entre parentes.

Já algum anos venho mantendo, de forma muito satisfatória, a permanência de 18 colônias de Jandaíras, todas oriundas de apenas 2 caixas, que foram se cruzando até chegarem ao número atual, o mais interessante disso é que essas duas colônias estão em uma área litorânea (exatamente de frente ao mar), num beiral de uma casa, onde não existem colônias de Jandaíras naturalmente. Nunca verifiquei a presença de machos diplóides nas colônias nem tão pouco verifiquei a perda de alguma colônia por enfraquecimento por "causas desconhecidas".

De certo, independente de quem esteja certo ou errado, o importante é que quanto mais colônias tivermos em nosso meliponário, melhor será, pois estaremos assim proporcionando uma maior variabilidade genética para que elas possam sozinhas, resolverem seus problemas.

att,

Mossoró-RN, 24 de agosto de 2009.



Kalhil Pereira França
Meliponário do Sertão

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