terça-feira, 28 de dezembro de 2010

50 Anos de União!!!

Nesse último fim de semana estive em Tabuleiro Grande-RN para participar dos festejos do Natal e das comemorações dos 50 anos de casamento de Seu José Carneiro e Dona Terezinha, meus avós maternos.

Já era tarde quando por volta das 14:00h da sexta-feira pegamos a estrada em direção aquela pequena cidade no oeste do Estado.
Já no caminho vou aos poucos observando o horizonte procurando por chuvas, nos últimos dias tem chovido de maneira fraca e esparsa, mas o suficiente para mudar bastante o ambiente, no sertão é assim, bastam algumas gotas do céu para natureza mostrar a sua beleza, o pasto rapidamente cresce passando a alimentar aqueles que tem fome.


Não demora muito e sou surpreendido por uma chuvinha de verão que deixa o tempo abafado, mas agradável. A minha fiel escoteira me acompanha na viagem sorridente e com seu ferrão empinado, a todo tempo me fazia lembrar de algumas colônias de Jandaíra que tinha deixado em Mossoró-RN, na pressa sai de casa sem alimentar umas divisões recentes.


Após pouco mais de 1 hora de viagem chegamos ao nosso destino, ao entrar na Cidade paro para apreciar a vista da serra de Porta Alegre, Tabuleiro é muito pequena, mas fica imensa em beleza quando observada com a Serra ao fundo.

Sem demora pegamos a velha estrada carroçal que dá acesso a zona rural e logo me deparo com o leito do Rio Apodi, no inverno ele fica intransitável sendo o acesso feito por canoas, mas devido à seca o velho Rio está completamente seco sendo fácil transitar por ele.

Continuamos na Estrada e ao longe vamos avistando a Velha Casa Grande, mesmo em plena seca o mato está verde e uma pequena rama vem crescendo no pasto, as ovelhas, que outrora não tinham nada pra comer, agora comem desesperadamente aproveitando a oferta divina.


No nordeste existe um ditado popular que diz que quando cai chuva no mês de dezembro é sinal de bom inverno para o agricultor, e de certo parece que a coisa tem fundamento. Bem, o caboclo tem suas razões que nem ele sabe explicar, quando isso acontece geralmente a obra é de autoria divina.

Ao chegar percebo que a casa está cheia, os alpendres da casa grande estão lotados com carros de toda a família, ninguém queria perder a festa dos 50 anos de uma geração, não é todo dia que se faz 50 anos de casado e nós não poderíamos perder uma ocasião tão especial. Assim que chego vou direto falar com o Patriacar da Família que está a esperar por todo mundo sentado na sua tradicional cadeira de fitilhos. Sem poder me alongar muito devido a concorrência dos muitos filhos, netos e bisnetos sou forçado a apenas beijá-lo e pedir a sua benção, em seguida saiu falando com restante da grande família e pedindo a benção a demais autoridades superiores.
Mal acomodo minhas coisas em um dos quartos e sou convidado a ir direto ao cocho das mangas, ponto de parada obrigatória para quem chega a essa casa, todas no ponto de uma maravilhosa degustação, cada uma mais doce que a outra, nem se compara com aquelas que a gente compra no supermercado que só tem água e nenhum sabor. Nem sei quantas chupei, mas lembro da boca cheia de fiapos.

Após a comilança sai mato adentro procurando pelas abelhas, durante essa época o meliponário rural fica praticamente desativado, pois a seca não perdoa. Somente agora começo a trazer algumas colônias para cá, ano passado, devido a forte seca assolou a região, fui praticamente obrigado a levar quase tudo para Mossoró-RN, mesmo assim ainda perdi mais de 30 caixas de Jandaíra nova, depois de aprendido a lição a duras custas só trago novamente no auge da florada.


Com o início das chuvas e principalmente devido ao seu tempo de floração o Velame está coberto em flor. O Velame tem uma florada incrível, produz um mel muito saboroso e de tonalidade bem clara.

As abelhas não perdem tempo e caem em cima com força. Vou caminhando e me deparo com várias meninas entre as flores, nessa época quase não existem outras florações e a Africanizada colhe o que pode para manter o seu enxame. Ao passear pelos pés de Velame escuto o ronco das abelhas trabalhando, é tanta abelha que a impressão que se tem é que existe algum enxame nas proximidades.

Durante a minha observação consegui fazer essa foto maravilhosa que mostra toda a beleza da Apis durante o seu árduo trabalho de coleta de néctar e pólen.
Já quando voltava em direção a Casa Grande cruzo pelo antigo e também florido pé de Cajarana, quando criança eu brinquei muito entre esses galhos, aqui gerações de filhos, netos e bisnetos foram criadas de forma muito salutar, em baixo desse pé havia um antigo pilão onde eram pisados diversos alimentos, um dos meus passatempos prediletos era observar meus tios trabalhando naquele velho pilão. Graças a Tecnologia o mesmo foi substituído e dele só restou o pequeno toco que o escorava.
Assim que retorno me deparo com familiares preparando a carne para o churrasco, na verdade esse churrasco começou na sexta e só parou no domingo e mesmo assim a muito custo. Pois se dependesse dos papudinhos de plantão (o que não faltou) só parava na segunda.


Logo que a carne começa a ficar no ponto iniciamos os trabalhos do dia com muita cerveja gelada, é dia de festa e que festa, no geral foram algumas galinhas e guinés, um carneiro e um boi, que alimentou muita gente, fazia tempo que não via tanto parente junto, tivemos muitos assuntos para atualizar.
No meio da brincadeira dois dos meus primos que moram aqui no sítio saem para caçar, devido ao difícil acesso essa região ainda é muito bem preservada, principalmente pelo fato das proximidades com a serra, o que proporciona a existência de muitos animais que em outras regiões praticamente não existem mais.
Prova é que antes mesmo do fim da tarde eles voltaram com esse belo Veado do campo abatido. Rapidamente o bicho foi tratado e levado ao fogo, poucas horas depois já estava sendo saboreado por todos nós.
A noite foi caindo e demos pausa no churrasco, pois a hora dos parabéns vinha chegando, a meia-noite comemorarmos a data tão especial. Na foto acima estou em meio a Dona Terezinha e Seu Carneiro. A primeira, mulher de fibra e determinação, a frente do seu tempo e acima de tudo extremamente inteligente. O segundo, ahh o segundo! Forte e carinhoso querido por todos. Teimoso como ninguém e apaixonado pelas Jandaíras como eu.

Entre muitas palmas e lágrimas (principalmente Shyrliane, minha esposa) o Seu Carneiro fez um discurso caloroso que emocionou a todos, narrando rapidamente desde os primeiros anos ao lado de sua amada na antiga casa no pé da serra, anos difíceis de muito sofrimento, até os dias de hoje.
Apenas para vocês terem noção das dificuldades daquela época a minha mãe conta que não existia creme dental, a escovação dos dentes era feita naturalmente com o fruto do pé juazeiro, a água de beber tinha que ser coletada na cacimba do rio e trazida no lombo do jumento. Mesmo diante de tantas dificuldades o velho casal superou todos os desafios e se manteve unido até os dias de hoje.
Essa data não será esquecida por todos nós, afinal de contas 50 anos de união não são 50 dias, é nessas horas que a gente observar que as famílias não são mais como antes. Os conceitos mudaram muito, não sei se pra melhor, antigamente casamento era pra vida inteira. Perguntado sobre o segredo de como manter uma união por tanto tempo assim os dois responderam com duas palavras, paciência e compreensão, pra eles deu certo, quem sabe não dê pra mim também, vou tentar seguir o caminho do sucesso...

Taboleiro Grande, em 28 de dezembro de 2010.
att,

Kalhil Pereira França
Meliponário do Sertão

4 comentários:

  1. Kalhil
    Rapaz que felicidade cinquenta anos tem muita estoria para contar parabens, é um exemplo de vida, desejo muitas felicidades.Cara gosto muito de ler o blog por que sempre me lembro do meu avo ele contava que tinha veado e onça por ai (ele era desta região acho que Riacho de Santana) eu sempre acreditei mas quando conversava com outras pessoas não acreditavam olha ai a prova.MUITO LEGAL.
    Meu amigo te desejo um ano novo cheio de realizações...

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  2. Olá amigo, tudo bom? Primeiramente quero desejar um bom ano novo pra vc e sua família. E quanto à sua narração, com relação aos seus avós, com certeza os tempos são outros, mas isso devido à vida urbana em si, ao corre-corre, à busca por ideais que sempre divergem entre os casais, e casamentos como o de seus avós para durarem nos dias atuais só com dois componentes, um principal e outro secundário. O secundário é que a família esteja no interior dos estados onde há uma forte conotação conservadora quanto à formação de uma família; e o principal é a observância de Deus, que aí pode estar em um meio mais urbano ou não que o "Componente" se torna o Meio ou o "Cimento" principal numa união que pretenda ser estável. Com Deus no meio não há outro meio.
    E gostei da postagem do veado abatido, e realmente a caatinga ainda mantém uma fauna riquíssima, e a tradição sertaneja da caça no interior, pelo visto ainda se mantém. Um abraço amigo. Fco. Mello

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  3. Incógnito Anônimo da Silva15 de julho de 2011 às 13:08

    Gostei muito dos relatos e das fotos. Lembrou minha infância e adolescência no Ceará na fazendo do meu avô. Só não gostei dos viados dos teus primos terem matado aquele veado. Os bichinhos estão em extinção.

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  4. Parabéns pelo Blog adorei a sua postagem que fala do seu retorno ao RN, vejo nos seus passos muito do que eu também vivo ao ir visitar meus familiares no sertão do Ceará ...

    Achei por acaso quando estava pesquisando sobre cajarana , minha fruta favorita rs..


    Parabéns!!

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