Para muitos a rotina pode ser uma coisa maravilhosa, a minha por exemplo é cuidar das abelhas sempre aos finais de semana, e como gosto disso, se pudesse passava era todos os dias cuidando delas e observando-as trabalhar de forma incansável.
As vezes me pergunto por que fui cursar Direito e trabalhar numa atividade burocrática, pilhas de papel para numerar, protocolar, registrar, juntar, despachar, cumprir mandados ministeriais etc, nada haver comigo, essa rotina sim não gosto muito, rs. Para aumentar ainda mais o tédio inventei de fazer uma Pós-graduação que tem tomado ainda mais meu tempo.
Mas voltando aqui para as abelhas, como hoje é sábado nada mais normal que cuidar das minhas meninas, para melhorar ainda mais a coisa é só abrir uma cervejinha e colocar uma picanha na churrasqueira para trabalhar bem acompanhado.
Hoje foi dia de divisões, passei a manhã e boa parte da tarde só fazendo isso, o melhor horário para fazer isso é durante a manhã, pois dá tempo para as abelhas arrumarem a casa nova, no total realizamos mais 12 divisões, formamos 10 novas colônias de Jandaíra e 2 novas de Jataí. Abaixo passarei a ensinar (novamente) como realizar uma divisão de forma segura e agradável.
Antes de mais nada é importante frisar, para cada tipo de abelha (melipona e trigona) temos um processo diferente, devemos lembrar que nas trigonas (jataís, iraís etc) o processo de formação da rainha é alimentar, bem parecido com a da APIS, a diferença é que na Apis quem vai embora é a rainha velha, enquanto que na ASF quem vai embora fundar um novo enxame é a rainha nova, pois como nós sabemos as rainhas são fisiogástricas e não podem voar, somente a princesa escolhida é que tem essa capacidade e mesmo assim após a fecundação e escolha do local da nova morada ela também não voa mais.
Passo 1 é arrumar a casa das abelhas, a caixa que estou usando é uma caixa núcleo modelo INPA que tem dimensões reduzidas (14 x 14 x 7 cm cada módulo) para facilitar ainda mais o desenvolvimento da futura rainha, a caixa modulada é ótima para isso pois facilita as próximas divisões e ainda por cima ajuda as abelhas a controlarem melhor a temperatura, facilitar o controle de dominância feromonial da rainha nova e ainda de quebra ajuda as abelhas a expulsarem os forídeos que possam entrar na caixa nova.
Passo 2 é colocar um anél de cera nova na entrada na caixa para facilitar o reconhecimento e aceitação das abelhas, para ajudar ainda mais recomendo sempre passar um pouco dessa mesma cera por dentro da caixa para que ela fique com o cheiro característicos do ninho, fazendo isso elas rapidamente aceitam a nova morada.
Passo 3 é escolher a caixa matriz que irá doar os discos de cria para divisão, é importante frisar que essa seleção das matrizes deve ser feita no dia anterior para evitarmos abrir caixas de maneira desnecessária e facilitar o trabalho . Observem que a colônia matriz escolhida é uma colônia que está alojada em caixa modelo Nordestina, essa caixa não me agrada muito pois o manejo com os discos de cria não é muito fácil, observem que existem vários potes de alimento ao redor do ninho, temos que ter muito cuidado para evitar estourar o mínimo de potes possível, o problema é que nesse tipo de caixa é quase impossível não estourar alguns pois o espaço para manipulação dos discos é muito pequena.
Passo 4 é retirar o ninho e desprender os discos de cria desejado, é preciso muito cuidado e jeito pra evitar esmagar os discos de cria, principalmente os de cima que são os mais jovens e ainda possuem muito alimento larval, são muito sencíveis e facilmente se rompem, mas com cautela e experiência se consegue extraí-lo sem provocar muito danos, é por isso que eu gosto da caixa INPA, pois nela, como o ninho fica embaixo e os potes em cima é só levantar o sobre ninho e retirar os discos desejados, eu contei para saber quantas células de cria seriam oferecidas, contei 568 células intactas, ótimo número para uma divisão, recomendo sempre acima de 400 células para Jandaíra. pois 10% desse total serão princesas que irão fazer campanha para serem escolhidas para governar.
Passo 5 é colocar os discos na caixa nova e arrumá-los distantes da entrada da caixa e próximos a lateral da caixinha para ajudar as abelhas a colarem as estruturas do ninho na caixa, é muito importante colocar uns pedacinhos de cera para apoiar os discos e evitar que eles fiquem tocando o fundo da caixa pois as abelhas precisam circular entre eles para limpá-los. Devemos evitar bater a caixa pois tudo está solto dentro e qualquer pancada vai desorganizar o trabalho que fizemos acima. Outra coisa muito útil é iniciarmos um espécie de túnel de acesso na entrada, vejam que eu coloquei uma cerinha de forma a estimular as abelhas a continuarem o início do túnel de acesso, o túnel é importante por que é a primeira barreira de combate aos forídeos e por isso, quanto mais rápido ele for construído pelas abelhas mais rápido elas estarão protegidas. Por fim, vale também obrigatoriamente passar uma fita em todas as frestas da caixa, para evitar a entrada de formigas e forídeos, como também ajudar as abelhas no processo de calafetagem da caixa. Geralmente faço uma vedação por dentro com cera de apis ou mesmo de Jandaíra, mas ontem durante o processo de arrumação eu acabei esquecendo de fazer isso, então, a fita é indispensável.
Passo 6 é selecionar a colônia que vai doar campeiras, lembrem-se que o melhor método para divisão é o 2 por 1, ou seja, com duas colônias você faz uma, a primeira retiramos os discos e a segunda retiramos as abelhas campeiras. Nessa divisão a escolhida não foi uma outra caixa, mas sim um toco natural, esse toquinho era uma Catingueira e foi trazido por mim de uma cerâmica da região, ele ia para a forno da cerâmica, serviria apenas para queimar e fazer tijolo, mas como o pessoal sabe que eu sou apaixonado pelas abelhas sempre que encontram um pau com abelha dentro entram em contato comigo para que as salve. Se eu não for buscar vão virar carvão. Esse toquinho é pequeno mas tem muita abelha, por isso, antes de passá-lo para uma caixa racional definitiva eu vou aproveitar a grande quantidade de abelha dele para realizar uma divisão.
Passo 7 é retirar o toco do lugar e nele posicionar a caixa racional, detalhe, é extremamente importante que a entrada da caixa nova esteja posicionada exatamente na altura onde se encontrava a entrada do toco, fazendo isso as abelhas rapidamente entram aos montes sem muito estresse e confusão.
Passo 8 é levar o toco (ou uma caixa se for o caso) para outro lugar afastado, não precisa ser muito longe, basta alguns metros, chegando no local bata no toco devagar para irritar as abelhas, nesse momento elas irão sair para defender sua casa, ficarão perdidas, pois aquele local não é o de costume, dessa maneira vão procurar o local antigo onde estava o toco e vão dá de cara com a caixa nova no local.
Um detalhe, o bom de trabalhar com abelhas sem ferrão é isso, não uso fumaça, não uso grandes máquinas, nem ao menos uso roupas especiais, vejam que eu estou de pés descalços e estavam sem camisa, os únicos aborrecimentos são algumas beliscadas que não chegam a incomodar. Ainda tem gente que tem medo dessas meninas... Tão bobas e frágeis, temos o dever de cuidar delas.
No início vão se aglomerar na entrada e vão fazer um grande alvoroço mas como a divisão foi toda planejada de maneira a facilitar a aceitação da nova morada elas rapidamente vão entrando, irão estranhar mas devido a presença dos discos de cria e do cheiro de cera nova da caixa vão aceitá-la como a sua nova morada.
Pronto, você acabou de fundar uma nova colônia. Tem coisa mais maravilhosa do que isso, para quem ama as abelhas não tem não.... Saber que você está contribuindo para a multiplicação das abelhas nativas é muito satisfatório.
Aí vai uma dica, para saber se a divisão pegou de verdade e as abelhas já aceitaram a caixa, é só observar se elas estão colhendo a cera que foi posta na entrada para dentro da caixa, se fizerem isso pode ficar tranguilo que já aceitaram e já estão inciando o processo de arrumação.
Vejam que não falei e nem coloque alimento na caixa, isso é de propósito pois a presença de alimento nessa hora mais atrapalha do que ajuda, principalmente por que elas estão desorganizadas e nessa hora os forídeos podem se aproveitar para entrar, o cheiro de potes de pólen e mel estourados atraem os inimigos. Por isso, comida só amanhã, as abelhas não morrem de fome tão rápido assim.
De todo modo, pode por um ou dois potinhos de mel, mas nada de pólen ok.
att,
Mossoró-RN, 06 de novembro de 2009.
Kalhil Pereira França
Meliponário do Sertão
Kalhil Pereira França
Meliponário do Sertão
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