segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A bela abelha Guaraipo (melipona bicolor)

(foto getilmente cedida pelo meliponicultor Cleiton - Estado de Santa Catarina)

Todos nós sabemos que no universidade das abelhas, principalmente o da Apis Melifera existe uma hierarquia de casta extremamente rigorosa e controlada, nesse universo o padrão de casta é existência de uma única rainha, que desempenha a função reprodutiva, algumas centenas de machos e outras milhares de abelhas fêmeas, todas filhas de uma única rainha, que representam a força de trabalho da colônia, desempenhando diversas tarefas durante o curto decorrer de suas vidas.


Nas abelhas sem ferrão, em regra, o padrão é bem parecido, a única peculiaridade é a presença de uma casta que nem é rainha nem é uma obreira comum, nós meliponicultores as chamamos de obreiras-rainhas ou rainhas-obreiras, isso por que essas abelhas podem, diferentemente da apis, ovopositar tanto ovos férteis, que vão gerar machos na colônia, como também ovos tróficos que servem de alimento para a rainha. Como nós sabemos, as apis nunca colocam ovos tróficos.


Mas há um outra curiosa exceção, a Guaraipo (melipona bicolor) é uma abelha sem ferrão típica da região sul do Brasil, possui um característica ainda mais interessante, essa abelha pode apresentar o que os estudiosos chamam de poligenia, nessa abelha é muito comum a presença de mais de uma rainha. Já foi observado em algumas colônias de Guaraipo a presença de até 5 rainhas ativas, todas convivendo de forma harmoniosa.


Não possuímos essa abelha em nossos Meliponários pois são típicas de região fria, não se adaptam em plena região de caatinga, precisam de mata úmida e clima frio, bem diferente do Sertão do RN, quente e seco.


As colônias de guaraipo possuem uma sociedade com uma organização bem mais flexível, as rainhas realizam a coordenação de boa parte do trabalho, mas não possuem total controle sobre as suas lideradas."


O interessante dessa abelha é que como nas colônias existe a presença de mais de uma rainha, nem todas as obreiras são irmãs, algumas são primas ou exibem outro grau de parentesco, visto que as múltiplas rainhas tendem a ser mãe e filha ou irmãs. Em compensação, para reforçar os laços familiares, cada rainha da Guaraipo parece cruzar com apenas um macho, diferentemente do que acontece com a abelha líder da apis. Mas, no final, o resultado é semelhante ao da abelha de mel: há diferenças genéticas entre as abelhas, apontadas como fontes dos conflitos nas colônias.


As rainhas dessa espécie convivem de forma harmoniosa, com tranqüilidade, sem grandes disputas, num mundo onde a partilha de liderança não parece ser empecilho ao desenvolvimento do grupo.


O grande estudioso do mundo dos insetos sociais, do Prof. Dr. Cappas e Souza, de Portugal, nos ensina que nessa abelha uma rainha realiza um maior dominância na elite, mas não impede o trabalho das demais. Pesquisas realizadas pela Dra. Vera Lúcia da Universidade de São Paulo – USP, mostraram que a retirada de uma das rainhas de colônias com duplo comando não altera sua organização. Na maioria dos casos, após alguns meses, uma segunda líder é criada e aceita por todo o grupo, até pela primeira rainha. Isso mostra que para essa abelha sem ferrão é mais interessante contar com múltipla chefia do que com comando único.


Esse comportamento extraordinário mostra o quanto essa abelha é especial, a impressão que tenho é que para as Guaraipos mais vale abdicar do poder centralizador de uma única rainha para o controle descentralizado da elite através de múltiplas rainhas na colônia, pois o trabalho múltiplo das rainhas garante uma maior variabilidade genética e ainda de quebra pode acelerar o crescimento da colônia devido ao maior número de rainhas realizando a atividade reprodutiva.


Isso só mostra o quanto é apaixonante o Mundo das abelhas sem ferrão, mundo esse ainda pouco estudado e cheio de encantos e curiosidades a serem descobertas, imaginem o quanto ainda temos a descobrir sobre as abelhas sem ferrão!


Um abraço,

|Mossoró-RN, em 09 de novembro de 2009.


Kalhil Pereira França

Meliponário do Sertão

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