segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A sem ferrão que virou uma praga!



Uma das consequências do atual desequilíbrio ecológico que vivemos é a extinção de espécies, ou pela ausência do seu bioma natural ou do próprio animal.

Todavia, em alguns casos ocorre exatamente o contrário, ou seja, espécies que estavam em harmonia acabam, devido a ausência dos fatores de controle natural anteriormente existentes, se tornando, literalmente, pragas.

No mundo das abelhas sem ferrão isso também acontece. É o caso atualmente da abelha Irapuá (trigona spinipes), também conhecida como abelha cachorro, este himenóptero é conhecido do Oiapoque ao Chui e devido há muitos fatores, mas principalmente pela ausência das plantas (principalmente a balsa, Ochroma logopus) que fazem o seu controle natural, vem se proliferando com grande facilidade.

Esse inseto tem grande capacidade polinizadora, mas em contrapartida se utiliza de comportamentos prejudiciais para muitas plantas. Esse abelha aprendeu que não precisa esperar pela abertura dos botões florais para sugar o néctar das flores, ela simplesmente descepa os botões florais na base e coleta o néctar desejado, acontece que esse "inteligente" comportamento acaba por inviabilizar os frutos, prejudicando assim a planta.

Além disso, essa abelha, devido ao material utilizado para construção do ninho, acaba por cortar as pontas das folhas, base de frutos e brotações novas no intuito coletar a secreção (resinas) expelida pela planta que nessas regiões são mais aglutinadas.

Em alguns Estados do Brasil essa abelha tem se tornado uma grande dor de cabeça, principalmente para as grandes monoculturas agrícolas como a da Citrus ssp (laranja etc) e Musa ssp (bananeiras).

Sabe-se ainda que em épocas de pouca florada tem comportamento furtivo, ou seja, acabam pilhando diversas outras abelhas, em especial as do gênero melipona. Certa vez me surpreendi com uma ataque fulminante dessa abelha a uma de minhas colônias de Jandaíra.

Seu mel é tóxico e não deve ser consumido por humanos. Há na literatura nordestina, principalmente a de cordel, relatos que o mel dessa abelha acaba por deixar o cabra "embreagado". Muitos pesquisadores tem recomendado a destruição dos seus ninhos no intuito de controlar o crescimento de suas populações, principalmente em regiões onde há concorrência direta com as outras nativas do gênero melipona, bem como em regiões agrícolas de monoculturas atacadas.

Bem, me parece que alguma coisa tem que ser feita, pois realmente esta abelha está fora de controle. Mas antes de qualquer coisa é preciso esclarecer que a culpa não é do inseto, e sim do homem que desequilibra seu ambiente proporcionando esse tipo de situação.

De toda forma, acredito fielmente que esse inseto deve possuir alguma qualidade econômica, principalmente pela sua grande capacidade polinizadora. há de existir culturas que sejam beneficiadas pelo trabalho desse inseto, bem como pela grande produção de cera que produzem, já coletei muita cera de irapuá e vejo que misturada a cera de jandaíra pode ser aproveitada para fortalecer muitas espécies de meliponas.

att,

Mossoró-RN, em 05 de setembro de 2011.

Kalhil Pereira França
Meliponário do Sertão

2 comentários:

  1. Kalhil
    Elas cheirão a mel de abelha.E só fazem mal se mecher no ninho delas.
    Que pena...

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  2. Olá Kalhil. Gostei dessa postagem. Vc traz informações que eu desconhecia, ao mencionar a existência dessa planta que é responsável por um controle populacional de insetos, mas, estou me lembrando que li em algum lugar, anos atrás, que a Arapuá é uma das três únicas espécies de meliponídeos que são autossuficientes em termos de nidificação, pois, ao contrário da maioria dos meliponídeos, ela não necessita de árvores ou reentrâncias nas rochas, haja vista que o seu ninho é construído sob a forma de "bola", utilizando diversos materiais vegetais, se tornando semelhantes aos "ninhos" de cupins que vemos por aí, fazendo com que a Arapuá seja uma abelha que consegue se fazer presente no meio urbano ao construir os "ninhos" sobre as árvores, sobre telhados, etc. Embora não seja viável economicamante na produção de mel, ainda assim existe a polinização que vc mencionou, que beneficia diretamente as plantas na produção de frutos, e indiretamente aos homens que gostam de apreciar um espetáculo da natureza, mesmo que em meio a uma selva de pedra. Um abraço. Fco. Mello

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