terça-feira, 30 de março de 2010

As Obreiras Rainhas

Quem vê as abelhas trabalhando não imagina que por trás de toda aquela organização existe uma série de fatores que determinam a harmonia interna das abelhas. Entre esses fatores o cheiro, ou melhor dizendo, os feromônios são essenciais para que a rainha consiga desempenhar a sua liderança no decorrer de sua curta vida.

Todavia, diferentemente das apis, no mundo das abelhas sem ferrão, em especial nas meliponas, o poder feromonial das rainhas é bem mais baixo. A rainha da Jandaíra por exemplo não governa sozinha, na verdade a rainha é apenas uma das diversas formas de liderança existentes numa colônia dessa espécie.

Como as rainhas dessas espécies de abelhas não conseguem, na maioria das vezes, dominar toda a colônia, surgi aí uma casta de abelhas que são bem peculiares das abelhas sem ferrão, tratam-se das Obreiras-Rainhas ou Rainhas-Obreiras.


A sua função dentro da colônia é reforçar os laços de liderança da rainha podendo inclusive ovopositar muitas vezes no seu lugar, não se trata de ovos tróficos, ou seja, de ovos alimentares colocados pelas obreiras comuns durante ovoposição da rainha para a sua alimentação, mas sim verdadeiros ovos férteis que geram crias regulares (machos).

Essas abelhas, de modo diversos das obreiras comuns, não desenvolvem feromônios mandibulares de obreira, mas sim mandibulares de casta real. Esse detalhe evolutivo ocorre ainda durante o seu desenvolvimento na célula de cria pela diminuição de feromônio mandibular da rainha durante a última baforada real antes da ovoposição na célula de cria, cheiro esse que estimula o desenvolvimento do genes de casta real em obreira comum.

Não fazem só bem a colônia, podem também muitas vezes provocarem muita dor de cabeça ao meliponicultor menos experiente, principalmente durante os desdobramentos onde a desordem é provaca pela ausência de uma rainha ativa. Há casos em que as obreiras rainhas impedem que uma princesa possa ser aceita numa nova colônia, aí entra a mão, ou melhor, o olho do meliponicultor para resolver a bagunça que ele mesmo provocou.


Essa casta das abelhas sem ferrão foi estudada a fundo pelo brilhante Prof. Dr. João Pedro Cappas e Souza, o "Mestre Cappas", como é mais conhecido no meio melipônico, é um grande estudioso e pesquisador Português, profundo conhecedor do comportamento do insetos sociais.

Tenho mantido permanente contato com o Mestre Cappas durante os nossos estudos sobre os rituais de postura das abelhas sem ferrão, mundo esse extremamente curioso e cheio de detalhes e surpresas.

Um dos seus brilhantes trabalhos a respeito da existência dessa casta foi publicado ainda em 1992, trabalho esse inclusive recomendado por nós no rol de publicações importantes:
Cappas J.P. (1992). Os Meliponineos em Portugal e na Europa. Bol. Soc. Portuguesa de Entomologia. Suplemento 3, v.1, p.53-68.

Existe alguns tipos de obreiras rainhas, pois a sua configuração morfológica no diz o quanto é o seu poder e a sua influência na colônia, principalmente se se aprensentam uma certo número de abelhas dessa casta.


Entre esses tipos eu destaco para vocês um tipo de obreira rainha que o Mestre Cappas passou a chamar de obreiras Pangolins, as obreiras pangolins são as mais fortes obreiras rainhas pois possuem poderosas glândulas de cheiro que muitas vezes concorrem com a rainha para exercer a liderança da colônia. O nome Pangolin vem de um réptel escamado africano que em muito se parece com o formato das escamas de cera que são criados nos abdomens dessas abelhas. Isso é fruto da ausência prolongada de raspagem desse material, o que provoca o seu acúmulo.

A maioria tem a cabeça menor, mandíbulas reduzidas e muitas vezes uma abdomem mais dilatado pelo desenvolvimento discreto dos ovários, em fim, são ligeiramente diferentes das obreiras comuns e muito difícil para um leigo a verificação de suas diferenças.

Essa é só mais uma das várias diferenças entrem as Apis e abelhas sem ferrão do Brasil.

att,

Mossoró-RN, em 30 de março de 2010.

Kalhil Pereira França
Meliponário do Sertão

3 comentários:

  1. Amigo Kalhil,
    muito boas as suas observações.
    Através de seus estudos,do comportamento das abelhas,e da forma simples como você passa isso para nós...Faz com que,a cada dia,aumentamos o nosso conhecimento melipônico...

    Um abraço.
    Paulo Romero.
    Meliponário Braz.
    João Pessoa,PB.

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  2. Mais uma informação bacana kalhil.

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  3. Sou novo na meliponicultura, e estou passando por isso em uma nordestina minha, qual a solução para que eu possa salvar esse enxame e assim a rainha tomar seu lugar novamente?

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