segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

O resgate de uma Tradição

Para se construir uma casa é preciso, antes de mais nada, construírmos primeiramente o seu alicerce. Para se construir um ideal, é preciso primeiramente sonhar. E como sonhar não custa nada, vale a pena sonhar alto.

A quase um ano atrás, em parceira com a ONG ESPLAR (www.esplar.org.br), venho sonhando com a idéia de resgatar uma tradição de extrema importância para o sertanejo. A criação de abelhas nativas do Sertão.


Nesse último fim de semana fui a Quixadá-CE, cidade típica do interior do Nordeste, com população em torno dos 70 mil habitantes. Nessa cidade estamos desenvolvendo (ainda bem no início) um projeto muito ambicioso que visa resgatar a cultura da criação da abelha Jandaíra, nossa paixão.


Já na chegada a Quixadá me deparo com belas paisagens, ainda longe podemos perceber os Monólitos daquela reigão, por aqui a prática de parapente (esporte radical) é muito comum devido a essas grandes estruturas geológicas.

Ao chegar, me dirijo diretamente a sede da ESPLAR em Quixadá-CE e já em companhia do colega Franderlan (técnico da ONG) vamos em direção as comunidades rurais.


O acesso não é dos melhores pois boa parte do trajeto tem que ser percorrido em estradas carroçais e como o inverno já anda a dar o ar da graça por aqui alguns pontos estão com lama.

O objetivo dessa primeira visita por mim solicitada era a de realizarmos uma sondagem do nível de conhecimento dos colonos, é imprecindível que façamos uma espécie de avaliação do grau de manejo que os mesmo possuem para que o nosso trabalho seja o melhor possível.


Visitamos as 4 comunidades rurais onde realizamos alguns rápidos encontros e foi possível conversar com um parte das famílias que irão participar dos Cursos de Manejo para a criação racional da Jandaíra. Pessoas simples, trabalhadoras e extramente calorosas. Todos por aqui lutaram muito por suas terras, por vezes foi preciso pegar em armas para conseguir o seu pedaço de chão.


Foi possível observar que muitos desconhecem quase que por completo o manejo das simpáticas abelhinhas do sertão, somente os mais velhos (acima dos 60 anos) que ainda se lembravam de alguma coisa.

Isso só nos mostra o quanto esse projeto é importante pois irá resgatar um cultura que a muito vem se perdendo no tempo, a Jandaíra já foi criada de forma muito rotineira por essa região mas praticamente vem desaparecendo da cultura popular do sertanejo.


Em uma dos assentamentos rurais (que agora não me lembro o nome), conheci um dos responsáveis pela liderança local, o Seu Nonato.



Nonato é uma figura ímpar, mesmo diante das dificuldades da vida no Sertão estampa um sorriso sempre muito prestativo. Foi no seu belo quintal que pude provar belas frutas de tamanho e sabor dificilmente encontradas pelo Brasil. Fiquei encantado com a pequena, mas bela plantação de fruteiras.


Olhem o tamanho dessa Graviola, pesada na balança passou dos 4 kilos.


As mais convidativas a uma degustação eram a de goiaba e de graviola, belos frutos que são todos produzidos sem nenhum tipo de agrotóxico, os assentados dessa região possuem o selo Ecosocial do IDB (Instituto de Desevolvimento Biodinâmico), o que por si só já atesta a qualidade dos produtos.



Ainda em sua plantação fui convidado a observar uma belo ninho de vespas da espécie Marimbondo caboblo, que por sinal se mostraram um pouco "invocadas" com a nossa presença na sua área.

Encontrei outras bem na Janela do Banheiro da sede da ESPLAR.


Por essa região, devido a distância da zona urbana e sua preservação, ainda é possível observar araras, onças pintadas, raposas do sertão e muitos outros bichos da caatinga. Por aqui vi as grandes árvores do Sertão, uma delas foi um belo pé de Angico que ultrapassava os 12 metros de altura.


A verdade é tanta que durante a visita a casa de um dos assentados um curiso menino literalmente me cutucou e disse: -Eu sei onde tem uma Jandaíra!!! Se quiser te levo lá, é pertinho.


Vamos eu disse. Adentramos a mata e caminhamos algumas dezenas de metros, o menino, agíl entre a mata fechada se enveredava cada vez mais e eu, lerdo como uma lesma, ficava para trás. Só escutei o seu grito metros bem a frente. Achei!!!!


Era realmente uma Jandaíra, que por sinal mesmo após as nossas batidas para irritá-las teimou em não querer sair para dá o ar da graça. Daquela cena já saiu uma lição, pedi ao seu pai que não derrubasse aquela árvore pois no futuro iria ensiná-los a como a proveitar as campeiras sem a necessidade de destruir aquela bela planta


Nosso interesse (inicial) é montar 4 meliponários demonstrativos, nas 4 comunidades rurais distintas para que essas colônias sirvam de aprendizado no manejo e matrizes para futuras divisões.


Nos próximos dias estaremos inciando as Oficinas de Manejo (curso básico de meliponcultura) para as famílias que irão participar do projeto modelo. Mas certamente muitas outras irão se integrar após o início oficial dos trabalhos.

Cada comunidade rural receberá do Meliponário do Sertão 20 colônias, perfazendo assim 80 colônias de Jandaíras que irão educar um total de mais 40 famílias no entorno daquela região. Esse projeto é, em grande parte, fruto de muita dedicação do Colega Franderlan, representante da ESPLAR em Quixadá-CE que vem dando uma grande contribuição para a melhoria da vida dos assentados daquela região.

No geral, boa parte dos beneficiados diretamente por esse projeto são originários de assentados pela reforma agrária. É tão verdade que os recursos para a implantação desse projeto vem diretamente do MDA (ministério do Desenvolvimento Agrário) e do FIA (Fundo Intenacional para Agricultura).

Tenho absoluta certeza do sucesso desse empreendimento, sei que ele irá muito longe, como certa vez disse o grande astrônomo Neil Armstrong em sua frase épica: "Este é um pequeno passo para um homem, mas um grande salto para a humanidade", eu diria que esse é pequeno passo para o resgate de uma tradição, mas um grande salto para a Meliponiltura no Sertão do Ceará.

Mossoró-RN, em 1º de fevereiro de 2010.


Kalhil Pereira França

Meliponário do Sertão

4 comentários:

  1. Só tenho a agradecer a parceria do Kalhil, atencioso e carismático, nosso sonho de ver as nossas abelhidas trabalhando novamente na nossa caatinga está se realizando . . .

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  2. Vamos lá Kalhil,

    Achei muito legal o registro da atividade

    Apesar da sede do Esplar ser em Quixadá, as comunidades são em municípios vizinhos, Choró e Banabuiú

    bem as comunidades que visitamos foram:
    no primeiro dia pela manhã foi o Assentamento Ouro Branco Sede - Choró
    no primeiro dia a tarde a comunidade Sítio dos Lopes - Banabuiú
    no segundo dia pela manhã foi o Assentamento São João da Conquista - Choró, lá onde Nonato lhe mostrou as Graviolas
    de lá fomos para a comunidade Riacho do Meio - Choró, onde o Júlio nos levou para a Jandaíra

    a Parceria para financiamento do projeto foi pelo Esplar e PDHC, com recursos do FIDA - Fundo Internacional para Desenvolvimento da Agricultura e do FIA - Fundo de Incentivos Ambientais

    Como foi que vc encontrou aquele Marimbondo na janela do Banheiro?

    só temos a agradecer a o apoio que tem nos dado

    "Sonho que sonha só, é só o sonho que se sonha só, mas sonho que sonha junto é realidade"

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  3. Amigo Fran,

    Pra mim é prazer fazer parte desse projeto, tenho plena certeza do seu sucesso, vai servir de exemplo para muita outra comunidades.

    Aquele Marimbondo, rsrsrs. Eu Achei por que uma veio me visitar pela manhã. Fiquei observando de onde vinha e percebi que estavam praticamente sobre minha cabeça.

    Estou aguardando o seu contato para iniciar os trabalhos com as comunidades.

    att,

    Kalhil
    Meliponário do Sertão

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  4. òtima iniciativa, aqui em Pernambuco deveriamos ter mais grupos assim, aqui temos poucas pessoas tentando fazer algo sozinhos, o que é muito difícil, guando a uma união e aceitação tudo fica mais fácil.

    Parabéns
    Abraços

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