sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Projeto - As Abelhas sem Ferrão vão à Escola

As vezes, podemos voltar ao passado e relembrar os bons momentos da infância, tempos onde brincar e comer na hora certa eram as únicas obrigações que eu minhas irmãs conhecíamos.

Boa parte da minha infância foi desenvolvida dentro dos muros do Colégio Diocesano Santa Luzia, o Diocesano, com é mais conhecido em Mossoró, é um daqueles típicos colégios tradicionais das Dioceses da Igreja Católica brasileira, imenso com seus vários corredores e salas, rico em tradições, sempre dirigido por Padres, é uma das maiores referências no ensino no Estado do Rio Grande do Norte, por ele já passaram figuras ilustres da região, políticos de renove Estadual e Nacional. O último Presidente do Senado Federal, o Senador Garibaldi Alves Filho é uma dessas figuras importantes.


(fachada do Colégio Diocesando Santa Luzia em Mossoró-RN)

Estudei no Diocesano por 17 anos, sempre estudei lá, do Jardim I ao 3ª ano do antigo 2º Grau, meus País sempre fizeram questão que todos nós estudássemos no Diocesano, era como se fosse uma questão de honra para eles, principalmente para meu Pai que vinha de uma família muito humilde, filho de pessoas pobres, onde os únicos bens que possuíam eram a honra e a dedicação ao trabalhado.

(Diocesano, mais de 100 anos educando gerações)

Enfim, voltar ao Diocesano era fazer essa viagem ao passado e relembrar todos esses bons momentos da minha infância. Dessa maneira, pelo imenso sentimento de gratidão que tenho pela figura do Diocesano, algumas semanas atrás eu enviei um e-mail para a direção do colégio informando o meu interesse em contribuir com a educação dos alunos, principalmente pelo fato de nossas crianças não conhecerem as abelhas sem ferrão, percebi a necessidade de apresentar e ensinar as crianças o papel da importância da nossa querida Jandaíra para a caatinga, tão ameaçada pelo comportamento destruidor do homem na natureza.

(turma da 3ª série do ensino fundamental)

O colégio prontamente me respondeu e se dispôs aceitar esse trabalho junto as crianças. No dia de hoje, conforme combinado anteriormente com a professora Surley, levei para o colégio uma colônia de Jandaíra (melipona subnitida) e outra de Mandaçaia (melipona quadrifaciata) para a sala de aula de uma das turmas do 3º ano infantil, as caixas estavam teladas na entrada e com uma tampa transparente em cima para a observação das crianças.

(olhares curiosos)

Ao chegar na sala me deparei com 40 crianças com os olhos brilhando de espanto e surpresa, todas estavam ansiosíssimas para conhecer as abelhas sem ferrão, a curiosidade era tamanha ao ponto de mal conseguir respirar entre uma pergunta e outra, coisas do tipo: elas não tem ferrão, por que? Como você faz para retirar o ferrão de cada uma? Elas comem o que? Morde? Essa gordinha (rainha) aqui, quem é? Como fazem o mel?

Era um tal de por que, por que e por que que foi preciso a professora colocar ordem para que eu pudesse explicar a cada um todas as suas dúvidas. Levei ainda uma garrafinha de mel de Jandaíra para que todas pudessem provar um pouquinho do maravilhoso mel Jandaíra tipo pela AME-Rio como um dos melhores do País.

(fila do mel, era cada boca pedindo bis, rsrs)

Falamos muitas coisas, abordamos diversos assuntos, reprodução, alimentação, polinização da caatinga e sua preservação etc. Tudo num tom bem simples, numa linguagem singela e sem arrodeios, pois, logicamente, estávamos falando com crianças.

(esse aí era o mais guloso, tomou três vezes, rsrs)

Um fato bastante positivo foi observar que apareceu gente (professores e alunos mais velhos) de outras séries muito interessados em conhecer melhor sobre as abelhas sem ferrão e de seu papel importante na natureza.

(bombardeio de perguntas)

Após a aula com as crianças me despedi de todas prometendo trazer, em outra oportunidade, outras espécies de abelhas sem ferrão para que eles pudessem conhecer, reencontrei diversos professores da minha época que ainda ensinam no colégio, pessoas maravilhosas que a tempos não as via.

(esses eram o que mais perguntavam, futuros meliponicultores)

A experiência foi deveras satisfatória, não só pelo fato de ter contribuído para a educação e conscientização das crianças, mas principalmente pelo fato de poder voltar a passear pelo colégio e relembrar meus tempos de menino, tempos esses que não voltam mais.

Devido ao resultado imensamente satisfatório, estarei levando a mesma proposta a outros colégios de Mossoró-RN, tanto na rede privada com na carente rede pública, no intuído de continuar educando as crianças (e por tabela muitos adultos) da importância da preservação das nossas abelhas sem ferrão.

Tenho certeza que esse trabalho, num futuro muito próximo, ainda vai gerar muito frutos.

Att,

Mossoró-RN, 25 de setembro de 2009.


Kalhil Pereira França

Meliponário do Sertão

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Rubim disse...

Parabéns!
Um grande trabalho, este que você está fazendo, não só em divulgar a criação das abelhas de Jandaíra, mas, principalmente, por incentivar a prática da meliponicultura entre os jovens.
Estou me inscrevendo no seu fã clube com a carteirinha número um. Espero ser aceito.
Um fraternal abraço,

Luiz Carlos Rubim
Natal-RN

Kalhil Pereira disse...

Obrigado pelo apoio amigo Rubim, aquela branquinha ainda está separada para o nosso bate papo aí em Natal???
Estarei por aí dias 1 e 2 de outubro para participar de um Congresso do Ministério Público do RN, vou a trabalho mais dá tempo, vamos marcar para nos encontrar, tenho alguns presentes do Meliponário para o amigo, mas é tudo surpresa.


terça-feira, 22 de setembro de 2009

Alimentador coletivo para ASF

Numa criação grande, com mais de 50 colônias reunidas num só meliponário, é preciso agilizar o manejo das abelhas, principalmente com relação a alimentação, não dá pra ficar abrindo todas as colônias todos os dias para alimentar as abelhas com o xarope, fora o trabalho e o estresse que provoca as abelhas não tenho tempo para isso.

Dessa maneira, se faz necessário o uso do alimentador coletivo. Esse tipo de alimentador é indispensável para o trato, quase que diário, com as abelhas sem ferrão. As vantagens dele são inúmeras, a começar pela praticidade de que é feito, o custo para sua confecção e agilidade que ele pode ser retirado (se necessário) do local da alimentação caso seja necessário.


O alimentador é feito de isopor grosso, material fácil de ser cortado e mais ainda de ser comprado, para limpá-lo é só deixar a água da torneira escorrer por ele e depois secar ao sol, muito fácil e prático.

Esse alimentador foi pensado inicialmente pelo Pedro Paulo Peixoto, amigo do meliponário do sertão e um grande criador de ASF principalmente de Uruçu amarela no Rio de Janeiro-RJ, eu apenas inseri algumas alterações que facilitam o trabalho de coleta das abelhas, evitando acidentes e afogamento.



Uma delas foi o uso da tela por cima do alimentador, a tela vazada é muito de ser encontrada no comércio, é barata e pode ser improvidada com qualquer outro material, como por exemplo um pedaço de um mosquiteiro velho.



Outra alteração foi a interligação de todas as raias do coxo, assim ele seca de maneira uniforme em todas as raias. Um outro detalhe bem interessante, as raias tem profundidades diferentes, começa raso e fai ficando profundo na medida que se aproxima da interligação das raias.

Esse detalhe faz uma grande diferença pois na medida que o alimento for se acabando, ele vai se concentrando no centro, facilitando a retirada o excedente na hora que interromper a alimentação.

É importante que o alimentador seja disponibilizado num local e horário fixos, pois com o passar dos dias as abelhas aprendem o horário e o local que ele se encontra, é muito interessante ver isso pois mal eu chego com alimentador e várias batedoras já estão de plantão esperando pelo seu café da manhã.



A alimentação coletiva só tem uma desvantagem, a concorrências das Sem ferrão com as de ferrão. Com o passar do tempo de alimentação as africanizadas, famintas e ferozes, vão aparecendo, na medida que as batedoras forem posando precisam serem imediatamente sacrificadas.

Observe que ao lado do alimentador está uma chave de fenda, ela não está aí por acaso, tem uma finalidade. A base da chave é bem larga e facilita na hora de esmagar as africanizadas na medida que elas forem aparecendo.



Não aparecem muitas, uma ou outra dá o ar de sua infeliz presença a cada 8 a 10 minutos, mas basta uma conseguir coletar um pouco de alimento que se dirige de imediato ao seu enxame trazendo consigo mais algumas dezenas e essas dezenas rapidamente podem se transfomarem em algumas centenas.

Dessa maneira, é extremamente importante que o meliponicultor fique de sentinela ao lado do alimentador, controlando quem aparece na área para evitar sustos desnecessários.

Se o controle se perder é hora de suspender a alimentação de continuar em outro dia.

att,

Mossoró-RN, 22 de setembro de 2009.


Kalhil Pereira França
Meliponário do Sertão

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Waldir disse...

só não gostei da ideia de matar outras abelhas, abelhas são abelhas não importa se tem ou não ferão, temos que preservalas,vamos descobrir outro jeito, por exemplo aqui eu coloco quatro horas da manha e vou alternando dias deu serto sem matar abelhas.
um abraço.
waldir vogel

Kalhil Pereira disse...

Caro Waldir, também não gosto de matar inseto nenhum, mas infelizmente se eu não sacrificá-las, rapidamente elas tomam contam do alimentador e chegam as centenas, e as vezes aos milhares, digo isso com segurança amigo pois já vi isso de muito perto. Já passei alguns sufocos com a agressividade das Africanizadas do meu País, elas simplesmente entram em luta com as Jandaíras pela disputa do alimentador, e como a relação populacional é bem desproporcional as minhas bobas Jandaíras não tem chances frente as número de Apis.
Já ouvi vários relatos de graves acidentes de outros meliponicultores com as apis e mesmo realizando a alimentação em dias alternados, sempre elas aparecem pois elas percebem de longe o cheiro do alimento.
E de todo o modo, as africanizadas não estão em extinção, pelo contrário, tem sido muito discutido o controle da apis em zonas urbanas, talvez o amigo não saiba mas todos os dias o Corpo de Bombeiros da minha cidade é chamado para capturar enxames volantes de africanizadas em escolas, residências, hospitais etc.
Então meu caro, matar uma ou outraa abelha é um mal necessário para que evitemos problemas maiores que lhe garanto, são bem sérios.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Como obter enxames de abelhas sem ferrão na natureza?

Estou meio afastado do blog pois estou desenvolvendo algumas atividades que estão tomando muito meu tempo, estou meio sem tempo para escrever algo mais interessante ao blog. Por isso, estou apenas transcrevendo um belo artigo de como capturar abelhas sem ferrão com ninhos-iscas, inclusive, recebi alguns e-mails solicitando esse material. Segue abaixo:


Ricardo Caliari Oliveira1, Cristiano Menezes1, Raphael Antonio de Oliveira Silva1, Ademilson Espencer Egea Soares2, Vera Lúcia Imperatriz Fonseca1
1Departamento de Biologia, Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo Av. Bandeirantes, 3900 - CEP 14040-901. Ribeirão Preto, São Paulo. ricardocaliari@aluno.ffclrp.usp.br
2 Departamento de Genética da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. USP
A meliponicultura tem crescido muito nas últimas décadas, no Brasil e no mundo. Devido a esse interesse na criação de meliponíneos começou-se a pensar em maneiras de capturar colônias da natureza e mantê-las em locais e colméias que facilitem o manejo. Inicialmente as colônias eram retiradas diretamente das cavidades em que se encontravam (geralmente ocos de árvores) e eram transferidas para os locais onde seriam criadas. A fim de facilitar o processo de coleta e os criadores de abelhas pensaram em uma alternativa para a captura de ninhos: um modo de atrair os enxames para um ninho-armadilha que pudesse ser posteriormente deslocado.

A multiplicação das colônias de abelhas verdadeiramente sociais é feita através de enxameação. No caso das abelhas sem ferrão, Nogueira - Neto (1954) verificou que a fundação de um novo ninho acontecia quando a colônia mãe estava muito forte e as condições ambientais favoráveis. Um grupo de operárias sai do ninho-mãe à procura de um novo local para instalar um ninho. Limpam o oco escolhido, recobrem as frestas com resina ou cerume e constroem a entrada da colônia, que geralmente é típica da espécie. Algumas operárias já mudam para o novo ninho, montam guarda na entrada, constroem os primeiros potes de alimento e a seguir iniciam a coleta de pólen, que trazem das flores nas corbículas para os potes recém-construídos. Outras se movem do ninho-mãe para o novo e trazem nas corbículas cerume proveniente dele; também transportam uma mistura de mel e pólen que ingerem nos potes do ninho-mãe, enchendo a vesícula melífera. Em alguns casos, como na abelha jataí, os machos chegam à entrada do ninho logo após o início de preparação do novo ninho (Ferreira & Soares, 1998), e ficam parados próximo à entrada deste ninho. Quando o ninho estiver pronto para receber o enxame (com reservas de alimento e calafetado,entrada pronta e algumas operárias e guardas residentes), um grupo de operárias, acompanhado por uma ou mais rainhas virgens, chegam ao novo ninho. Este vôo aglomerado pode conter algumas centenas de abelhas de várias idades que entram no ninho recém-preparado. Pouco tempo depois a rainha virgem escolhida sai do ninho filho para realizar o seu vôo nupcial. Os machos a acompanham, ela é fecundada e regressa ao ninho-filho. A partir deste momento, os machos que aguardavam perto da entrada do ninho partem para outros locais. Os contatos entre ninho-filho e ninho-mãe podem permanecer durante um longo período, dependendo da quantidade de recursos disponíveis para o ninho-filho. Geralmente estas relações entre ninhos se interrompem após o nascimento da primeira cria do ninho-filho. Sabe-se que os novos enxames têm preferência para ocupar locais que já foram utilizados por outras colônias de abelhas, com restos de cera e/ou batumem.

Como atrair estes enxames de modo a poder utilizá-los na meliponicultura? Alguns meliponicultores tiveram a idéia de preparar ninhos-isca ou ninhos-armadilha para fornecer locais de nidificação e estimular a preparação de enxames nas colônias fortes. Descreveremos a seguir estes ninhos-armadilha e falaremos de nossa experiência no assunto.

Os ninhos-armadilhas usados na meliponicultura são recipientes cuja finalidade é simular locais de nidificação natural para que os novos enxames ali se instalem e seja possível seu transporte e transferência para os meliponários. São normalmente confeccionados de garrafas plásticas tipo pet e apresentam algum atrativo para as abelhas no seu interior, como própolis, mel ou cera. Atualmente de acordo com uma resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) de Agosto de 2004, essa é a única forma permitida para obtenção de colônias de abelhas Meliponini nativas diretamente da natureza. Os ninhos-armadilha ou garrafas-isca já são bastante utilizados por meliponicultores de todo o Brasil, no entanto os métodos empregados são muito diversos e muitas vezes sem comprovação de sucesso. Há algumas variações sobre a maneira de confeccionar as armadilhas pelos criadores, mas a maioria dessas armadilhas é feita de garrafas plásticas PET de refrigerante com furos na parte inferior envolta por jornal e saco plástico. As mais simples são fechadas pela sua tampa, na qual é feito um orifício que se transforma na entrada do ninho. Este conjunto geralmente é envolto por saco plástico preto (figura 1). Um tipo um pouco mais sofisticado é feito colocando na garrafa PET um cotovelo de PVC (figura 2) que é utilizado como entrada do ninho. Com o intuito de aumentar a atratividade da armadilha, este cotovelo é previamente lavado com extrato de própolis e cera de abelha ou com cera de abelha misturada com óleo de soja. A figura 3 comprova a eficiência dessa estratégia. Outros meliponicultores utilizam embalagens de leite longa-vida e os relatos de sucesso são, principalmente, na instalação de Jataí (Tetragonisca angustula) e Mirim (Plebeia sp).

No grupo de e-mails da ABENA (http://groups.yahoo.com/group/Abena ) a discussão sobre o uso de ninhos-armadilha está sempre em pauta. Há diversos relatos de sucesso e até cartilhas que ensinam como confeccionar os ninhos-armadilha. Um exemplo do método clássico com garrafa de refrigerante (mais utilizado pelos meliponicultores) pode ser dado por Flávio Eckert de Crissiumal - RS que no dia 13 de Junho de 2008 postou um e-mail demonstrando sua experiência com a captura de enxames de Jataí. Mais recentemente temos Oderno Theves em 17 de Janeiro de 2009 publicou seu sucesso em obter enxames de Jataí em embalagens de leite longa-vida com belas fotos do momento da transferência para colméias definitivas (figuras 4, 5 e 6).

Outro tipo de ninhos-armadilha é o criado pelo meliponicultor Ildo Lubke, produtor que vive no Município de Turuçu, no sul do Rio Grande do Sul e possui em sua propriedade muitas colônias de Plebeia nigriceps. Uma das maneiras com que ele obtém as colônias é através de pedaços de ramos de chal-chal, Allophylus edulis (Saint Hilaire) Radlkofer, da família Sapindaceae, (figura 7); ele utiliza essa planta por estar disponível na propriedade e por apresentar espaço oco em seu interior. Nos pedaços de chal-chal, Ildo faz um pequeno furo lateral e prepara um tubo de entrada feito com cera de Apis mellifera amolecida ao sol. (Witter et al., 2007).

Pensando em testar o sucesso dos diferentes métodos e padronizar a utilização de ninho-armadilha para que seja eficiente à maioria dos criadores, nós, do Laboratório de Abelhas Indígenas da Entomologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP de Ribeirão Preto, iniciamos em Abril de 2007 um projeto com utilização de ninhos-armadilha para a captura de enxames no campus da USP. Nosso objetivo era responder a algumas perguntas, como: quais espécies de abelhas sem ferrão são atraídas pelos ninhos-armadilha? Qual a melhor época do ano para sua instalação? Quais os volumes utilizados pelas abelhas para instalação de novos ninhos? Quais os competidores dos meliponíneos por locais de nidificação?

O primeiro tipo de ninho-armadilha testado foi um conjunto de recipientes confeccionado da seguinte maneira:

1.Obtenção e preparação das garrafas plásticas. Utilizamos recipientes plásticos pretos (eliminando a necessidade do saco plástico) de quatro diferentes volumes (0,5 L; 1,0 L; 2,0 L e 3,0 L). Com um furador faz-se um furo circular na lateral da garrafa onde será instalado um cotovelo de PVC de 22mm que servirá como entrada (o utilizado foi de 22mm) (figura 8).

2.Preparação do cotovelo. O cotovelo de PVC foi banhado em cera de Apis mellifera derretida em Banho-Maria e posteriormente em extrato de própolis de várias espécies (fguras9-10).

3.Banho de própolis. As garrafas foram banhadas internamente utilizando um borrifador com extrato de própolis De diferentes espécies de abelhas, a 50% preparado com álcool de cereais, numa tentativa de se atrair enxames de várias espécies (figura 11).

4.Instalação dos conjuntos de ninho-armadilha. Foram construídos 200 conjuntos para serem instalados no Campus da USP-RP e 100 conjuntos para serem instalados na Fazenda Aretuzina em São Simão. Cada conjunto era constituído por quatro garrafas com volumes diferentes que foram instalados junto às árvores, padronizando a altura do peito aproximadamente, e sua posição registrada num aparelho de GPS (figuras 12 e 13).

Após a verificação de sucesso na instalação de um enxame no ninho-armadilha esperávamos de 15-30 dias para realizar a transferência para o local definitivo. Esse período aparentemente é suficiente para a independência do ninho mãe para muitas espécies (van Veen, 2000). O local definitivo deve ser distante (maior que 300m) para que as abelhas não voltem ao local de origem. Deve-se esperar no mínimo um dia no novo local para transferir a colônia do recipiente plástico para a caixa (figuras 14-17).

Essa foi a primeira tentativa dentre diversas variáveis que ainda serão testadas. Mas os resultados obtidos são promissores. Tivemos, durante um ano de experimento, 36 enxames instalados nas armadilhas na USP de Ribeirão Preto. Das 18 espécies de abelhas sem ferrão existentes no Campus houve sucesso das armadilhas na instalação de cinco: Frieseomelitta varia (Marmelada amarela); Frieseomelitta silvestrii (Marmelada preta); Scaptotrigona bipuncatata (Tubuna); Tetragona clavipes (Borá) e Tetragonisca angustula (Jataí) (figuras 18 e 19). Na Fazenda Aretuzina, S. Simão, onde há o meliponário do Dr. Paulo Nogueira-Neto, repetimos o experimento e houve sucesso para outra espécie de meliponíneo, Plebeia droryana (Mirim) e ainda uma tentativa de enxameagem de Melipona quadrifasciata (Mandaçaia) (figuras 20 e 21). Em outro tipo de conjunto confeccionado a partir de caixas de papelão temos atualmente um enxame de Nannotrigona testaceicornis (Iraí).

A partir desse estudo pudemos tirar algumas conclusões sobre as perguntas inicialmente realizadas. Apesar de termos conseguido enxames durante todo o ano instalando-se nos ninhos-armadilha, o período em que houve maior número de enxames foi entre os meses de Setembro a Janeiro, possivelmente por ser o período da primavera e verão, nos quais as temperaturas são mais elevadas e há floração da maioria das espécies de plantas, ocasionando aumento na disponibilidade de alimento para as abelhas. Quanto ao volume preferido, observamos que os volumes maiores (2 e 3 L) são mais eficientes, pois neles há possibilidade de que todas as espécies se instalem, enquanto que nos volumes menores a maioria de sucesso foi para aquelas espécies que apresentam tamanho reduzido. O volume que apresentou maior sucesso para Jataí foi o de 1,0 L. A eficiência variou bastante em outros locais estudados (Freitas, 2001 e Malkowski, 2006) até locais onde não houve sucesso algum. O insucesso pode estar relacionado a alguns fatores como pouca quantidade de ninhos naturais, disponibilidade de outros locais de nidificação como caixas vazias e instalação inadequada das armadilhas (por exemplo, expostas ao sol ou com o cotovelo voltado para baixo, permitindo a entrada de água da chuva). Dessa forma, aconselhamos que sejam instalados poucos conjuntos inicialmente para testar a potencialidade da área (a menos que haja conhecimento prévio da abundância de ninhos naturais) e ao abrigo do sol. É possível que exista diferença na eficiência de acordo com a altura dos ninhos-armadilha, porém somente uma altura foi testada até o momento.

Houve também a utilização dos ninhos-armadilha por formigas e aranhas (Figura 21). Até o momento, os ninhos-armadilha, feitos com recipientes plásticos, foram eficientes na instalação de seis espécies de meliponíneos. Mais resultados podem ser observados em Oliveira (2008). O motivo para não ter havido sucesso na instalação de espécies do gênero Melipona pode estar relacionado com as taxas de enxameagem das espécies desse gênero que são, em geral, muito baixas, levando às vezes anos sem que a colônia enxameie. Sabemos pouco sobre estes processos de enxameação. No entanto, segundo Slaa (2006) espécies que possuem um rápido processo de enxameagem apresentam vantagem em relação àquelas que têm um processo longo de preparação da cavidade para enxamear. Esse fato explica o motivo de a jataí ter sido a espécie com maior número de colônias instaladas nos conjuntos de ninhos-armadilha. Ela apresenta enxameagem relativamente rápida após encontrar o local do novo ninho (cerca de 5 dias desde o início de utilização da cavidade até a transferência do enxame) e também é bastante generalista em relação ao local de nidificação. Utilizando estes métodos com ninhos-armadilha, é possível acompanhar maior número de ninhos iniciais e conhecer melhor a estrutura social dos enxames.

Através de um processo simples, barato e inofensivo à natureza obtivemos 36 enxames em um período de um ano (e ainda continuamos tendo sucesso com os conjuntos instalados) quantidade significativa para o início de uma criação ou até mesmo renovação de colônias e diversidade genética de um meliponário já existente. Nossos estudos demonstram que a utilização de ninhos-armadilha para abelhas sem ferrão configura-se em uma alternativa bastante viável em relação a outras técnicas para obtenção de colônias da natureza.
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(clique na foto para ampliar)

Fonte: http://www.apacame.org.br/mensagemdoce/100/artigo6.htm

att,
Mossoró-RN, em 16 de setembro de 2009.

Kalhil Pereira França

Meliponário do Sertão

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Cuidado com os Forídeos!!!

Não tem jeito, colônia fraca, poucas abelhas obreiras, colônia sem rainha e com pouco alimento, resultado???

FORÍDEOS....

A dias atrás eu falei deles, são os inimigos das abelhas sem ferrão, reconhecem de longe o cheiro de colônias em dificuldades e se nós não tratarmos, eles tomam de conta da colônia, rapidamente enchem as reservas de proteínas (pólen) das abelhas de ovos que rapidamente eclodem e se transformam em adultos recomeçando o ciclo destrutivo.

Antes de ontem verifiquei que uma das minhas poucas colônias de mandaçaia ainda passa por dificuldades, pensei que as outras colônias pudessem ajudar mais não foi bem assim que se passou.

Dessa maneira, ao inspecionar rapidamente tinha visto apenas um forídeo passeando entre as abelhas, o sentido de alerta ficou logo ligado por que forídeo é igual a barata, onde tem um, tem 10 escondido, fora os ovos que já ovopositaram pela caixa.

SOLUÇÃO????



Isca neles, a isca é feita com algum copinho e lacrado com fita crepe que é furada para permitir apenas a entrada dos forídeos, é bem pequeno para que as abelhas não possam passar e se afogar. dentro do copinho colocamos vinagre de sabor de maça, os forídeos não resistem ao odor e são atraídos, acabam se afogando dentro do copinho pois depois que entram não conseguem mais sair, as iscas devem ser trocadas pelos menos a cada 48 horas por que as vezes as abelhas tampa os buraquinhos da isca devido ao cheiro forte do vinagre, para amenizar recomendo misturar um pouquinho de água para diluir o cheiro.

RESULTADO???




Quase todos capturados, hoje mais uma vez troquei as iscas e coloquei de novo dentro da caixa para capturar os restantes. A isca é muito eficiente e não fica um forídeo dentro, mas atenção, temos que manter a vigilância pois em colônia fraca qualquer descuído é fatal.

att,

Mossoró-RN, 03 de setembro de 2009.


Kalhil Pereira França
Meliponário do Sertão

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Características de uma rainha velha

O meliponicultor que visa sempre a manutenção de um bom crescimento de suas colônias deve ficar atento a idade de suas rainhas, é muito importante que a cada ano façamos a substituição das rainhas velhas por rainha novas. Mas como identificar uma rainha velha, com saber se ela é nova ou velha. Abaixo iremos ensinar como saber.



O tempo médio de vida de uma rainha gira em torno de 4 a 5 anos, existem pesquisadores que já observaram uma rainha viver por mais de 7 anos, mas o ideal é que a troca seja sempre anual. Abaixo iremos avaliar as caractéristicas de uma rainha de idade avançada, essa da foto tem mais de 2 anos e já estava bem desgastada.



Uma das primeiras marcas da velhisse é o desgaste das asas, vejam que as asas da rainha estão bem roídas, o comprimento natural seria já bem perto da glândula feromonial central conforme mostra a foto das correções. Outra marca bem forte é a cor, com o tempo a rainha vai escurecendo, sua cor natural é mais clara. Se ainda houver dúvidas, veja se falta algum membro ou mesmo se seu andar pela colônia é muito lento, além do normal.

Abaixo segue uma foto de uma rainha jovem, com 3 meses de vida, vejam os detalhes e façam suas comparações.



Mossoró-RN, 02 de setembro de 2009.

att,


Kalhil Pereira França
Meliponário do Sertão