sábado, 29 de dezembro de 2012

Rainha sem cabeça...

Hoje pela manhã, logo ao entrar no meliponário, encontrei uma abelha rainha morta no chão. Trata-se de uma velha rainha de caixa desconhecida que literalmente perdeu a cabeça, tendo sido morta provalmente pelas suas próprias filhas. Percebe-se logo, pela foto abaixo, que a morte da mesma se deu pela sua idade avançada.

(Clique nas fotos para ampliar)

(rainha velha sem cabeça, morta pelas próprias abelhas devido a idade avançada)

Na verdade, o tempo de vida de uma rainha nas abelhas Jandaíras varia de 2 a 4 anos na natureza e não deve ultrapassar os dois anos na meliponicultura racional, pois além desse prazo a rainha tem uma queda significativa na postura, inviabilizando as divisões nos prazos esperados.

(Rainha nova, coloração clara, postura sem falhas e em bom número)

É muito fácil identificar uma rainha velha. A primeira característica da idade avançada é a coloração bastante escura. As rainhas novas tem uma coloração dourado claro. A segunda característica é a presença de muitas falhas nos discos de cria, como podemos perceber na foto abaixo.

(postura falhada, um possível sinal de rainha velha)

A terceira e não menos importante é a ausência de membros ou parte de membros do corpo. Nessa rainha que foi morta podemos observar o desgaste avançado de suas asas. Mas além desse fator é muito comum observarmos muitas rainhas velhas sem alguma pata ou mesmo sem alguma assa.

(Colônia com excelente nível postura e sem falhas)

A meliponicultura racional recomenda que a cada dois anos as rainhas sejam, de maneira programa, substituídas por rainhas jovens para mantermos uma taxa de postura ideal. Isso não quer dizer que algumas rainhas não possam viver além disso, mas é sempre muito importante que as mesmas sejam trocadas na medida que os sinais de fragilidade aparecerem.

Tibau/RN, em 29 de dezembro de 2012.


Kalhil Pereira França, com o apoio da Maria Eduarda M. R. R. de França (filha)
Meliponário do Sertão



quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

De férias com as Jandaíras...

Estando de férias até meados de fevereiro, nada mais justo do que, depois de um ano de muito trabalho na repartição, me dedicar integralmente as minhas queridas abelhas. Devido a intensidade da forte seca dos últimos meses, tenho literalmente empurrado muito xarope nas minhas meninas.

Na última semana tenho alimentado as abelhas todos os dias, sempre pela manhã bem cedo. Tenho optado pela alimentação coletiva externa, principalmente pelo fato das atuais caixas que tenho disponíveis impossibilitarem a introdução dos alimentadores. 

 Mas na verdade, tenho optado por esse método pelo espetáculo que a alimentação coletiva proporciona, quando realizada de maneira correta. É literalmente uma festa, principalmente para os curiosos mirins. Tenho feito isso sempre acompanhado do meu filho Heitor, que mesmo com apenas com 1 ano de 5 meses já tem grande afeição pelas abelhas. 

 
(clique nas fotos para ampliar)

 Minha intenção é transmitir a ele toda a minha paixão por esses animais tão especiais. Quero muito que ele siga os meus passos e continue o legado iniciado pelo meu avô, mantendo assim o tradicional e importante hábito de criar as abelhas Jandaíras, tão indispensáveis a manutenção da nossa caatinga.

(alimentador coletivo, ótima opção para alimentação das abelhas)

Tenho utilizado uma tábua de madeira na qual cavei duas covas alongadas, fazendo assim uma espécie de cocho numa profundidade de mais ou menos uns 2cm por 2cm de largura. As dimensões apresentadas tem servido muito bem à alimentação de pouco mais de 40 colônias. 

 (meliponário de Jandaíra, caixa modelo nordestina tradicional)

Além da alimentação artificial tenho testado um método de divisão pouco conhecido pela grande maioria dos meliponicultores, mas que me tem surpreendido bastante. O primeiro a utilizar essa técnica foi o meu querido amigo Rivan, meliponicultor muito experiente e profundo conhecedor do manejo com a Jandaíra. 
 
Sua divisão é bastante audaciosa, provocando inicialmente na colônia mãe um grande impacto com a retirada de todos os discos de cria, eu disso TODOS. É isso mesmo, ele retira por completo a área do ninho e fornece a colônia filha. 

A técnica inicialmente sempre me provocou muita desconfiança, pois achava que isso provocaria um grande prejuízo a colônia mãe pela ausência de novos nascimentos num prazo de 40 dias. Mas como sempre fui muito curioso resolvi testar. 

Na véspera do natal (dia 24/12) realizei duas divisões utilizando essa técnica, ou seja, retirando todo o ninho da colônia mãe. Hoje está fazendo 3 dias que realizei a divisão e passei a inspecionar as colônias filhas e dividas para observar o desenrolar da coisa. 


(Colônias filhas com ninho completo, com 3 dias e sem rainha ativa)
 Nas colônias filhas as caixas apresentam ótimo desenvolvimento, já há construção de potes de alimento bem como todos os ninhos já foram colados no interior das caixas. Utilizei caixas antigas, por isso não se surpreendam com a grande quantidade resina e batume. Percebe-se um ótimo movimento externo e por mais surpreendente que pareça, já consigo observar algumas princesas bem ativas tentando dominar a colônia, ou seja, tudo vai muito bem.

Mas minha curiosidade era observar as colônias mães que tinham sofrido a retida dos discos. Pois bem, como podemos observar abaixo, em todas as duas colônias as rainhas antigas já voltaram a colocar ovos, já se observa uma significativa área de postura e uma boa movimentação interna de abelhas adultas. 


(Colônias mães recuperando área do ninho doado)

Pois bem, como se observa não ocorreu todo aquele prejuízo que inicialmente acreditava, pois mesmo sem todo ninho a rainha não encontra problemas para recompor a área de postura, a técnica é viável e segundo as observações do colega são de uma taxa de pega de praticamente 100%, ou seja, é realmente muito boa. 

(potes de mel cheios em colônia mãe, importância da alimentação)
 Mas alerto que esse método não pode ser feito por qualquer um, é preciso certo conhecimento e bastante experiência de manejo com as abelhas para acompanhar o desenrrolar da coisa, pois de toda forma a retirada de todo o conjunto de discos deve ser feito com cuidado. Além disso, é preciso que a caixa esteja com uma ótima reserva de alimento pois perderá grande força de trabalho. 

(colônia matriz a ser divida, mesmo na seca, ninho até a tampa)
 Já estou separando mais 3 colônias para nos próximos dias continuar o trabalho de multiplicação de enxames. Atualmente estou com poucas colônias de Jandaíra e pretendo multiplicar quase todas até o início do inverno. Mas não tenho pressa, como estou de férias tenho todo tempo do mundo para me dedicar as minhas queridas e amadas Jandaíras.


 Tibau/RN, em 27 de dezembro de 2012.


Kalhil Pereira França 
Meliponário do Sertão

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Documentário "Aboio"

Ainda não tive a oportunidade de assistir esse documentário, mas alguns amigos me recomendaram. Estou providenciando a compra do DVD pela produtora. Tenho certeza que pela temática abordada e pelo cenário deve ser algo inesquecível.



Doc | 2005 | 73 min
Sinopse
No interior do Brasil, adentrando as extensões semi-áridas da caatinga, há homens que ainda hoje conservam hábitos arcaicos, como o costume de tanger o gado por meio de um canto de nome aboio. O filme aborda a música, a vida, o tempo e a poesia dos vaqueiros do sertão.

Direção: Marília Rocha

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Um novo parasita de colônias de Meliponini é descoberto em Mossoró (RN)

Boa Tarde Kalhil, tudo bem?

Nós publicamos recentemente dois artigos sobre um parasita novo de abelha jandaíra. Seguem os links dos trabalhos publicados e também dois links de vídeos no youtube. A divulgação desse assunto é muito importante para a meliponicultura.
 Obrigada
Abraços

Camila Maia Silva
Pós-graduação em Entomologia
Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto, USP
AV. dos Bandeirantes, 3900
cel: 55-84-99909246
e-mail: camilamaia@usp.br; maiasilvac@gmail.com


 Um novo parasita de colônias de Meliponini é descoberto em Mossoró (RN)







































Ao fazerem uma vistoria em uma colônia de Melipona subnitida, jandaíra, Camila e Vera notaram a presença de algumas células de cria com aspecto diferente, com a parte de cerume raspada pelas operárias e um casulo forte e esbranquiçado aparente. (fig. 1). Abrimos com dificuldade uma destas células de cria, pois o casulo é muito resistente. O que surgiu foi um inseto muito diferente das abelhas, com uma cabeça pequena e mandíbula forte, que nunca tínhamos visto em uma colônia de abelhas sem ferrão. Até o momento não há na literatura especializada nenhum registro de outros insetos nascendo das células de cria de abelhas sem ferrão, no lugar das abelhas.

Outras colônias também apresentavam células de cria com a mesma aparência. Delas, ao anoitecer, emergia um inseto ativo, mas ainda sem asas (fig. 2). Pernas anteriores raptoriais, parecendo com um louva-deus. Saíam da colmeia e só então sofriam a última muda (fig. 3). Era um inseto da Ordem Neuroptera; esses insetos dificilmente são encontrados na natureza e em coleções biológicas de museus. Na literatura não havia nenhuma referência à invasão de ninhos e parasitismo de cria em abelhas sem ferrão. Algumas espécies de Neuroptera são mais conhecidas e estudas, pois são predadores de aranhas, alimentando-se de seus ovos e cria jovem.

Vídeos:

Procuramos os especialistas no grupo e o parasita foi identificado por Renato J. P. Machado. O parasita era Plega hagenella uma espécie com distribuição desde a América Central até o sudeste do Brasil, mas com poucos exemplares em coleções brasileiras e nenhum registro no nordeste brasileiro.

Durante os meses de abril e maio de 2012, ao examinarmos as colônias de duas localidades, na Fazenda Experimental Rafael Fernandes, em Mossoró/RN, onde fica o meliponário da UFERSA, e na Fazenda Belém, em Icapuí/CE, distantes entre si cerca de 35 km, verificamos que 48% das colônias investigadas (total de 64 colônias investigadas) foram infestadas pelo parasita.

Ao contrário de outros insetos que parasitam colônias de Meliponini e geralmente se alimentam de pólen, néctar ou crias mortas, as larvas de Plega hagenella desenvolvem-se dentro das células de crias e se alimentam de larvas ou de pupas das abelhas. Antes da fase de pupa a larva do parasita come completamente a abelha imatura (fig. 4). Consequentemente, a infestação reduz a produção de novas operárias, provocando um declínio nas populações das colônias.

Ainda não sabemos se as fêmeas adultas de P. hagenella invadem as colônias de abelhas para colocar seus ovos dentro das células de cria operculadas. No entanto, outra possibilidade seria que as fêmeas deixam seus ovos nas flores e as larvas de primeiro instar, as quais são pequenas e móveis, sejam levadas pelas abelhas forrageiras para dentro das colônias. Ou ainda, os ovos poderiam ser deixados em locais próximos às colônias e as larvas de primeiro instar entrariam, através de fendas, nas colônias.

Existem poucos estudos sobre a biologia desses insetos de grande importância para a Meliponicultura. Solicitamos aos meliponicultores que encontrarem células de cria com este aspecto, ou o parasita no ninho ou nas proximidades, que se comuniquem conosco; o parasita pode ser mantido em álcool ou no próprio casulo, em um tubo bem fechado, e enviado para a coleção do Departamento de Ciências Animais da UFERSA, a/c de Michael Hrncir, no endereço mencionado neste trabalho.

Camila Maia-Silva1, Dirk Koedam2, Michael Hrncir2 e Vera Lucia Imperatriz-Fonseca1,2
1Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Avenida Bandeirantes 3900, Ribeirão Preto-SP, 14040-901, Brasil
2 Departamento de Ciências Animais, Universidade Federal Rural do Semi-Árido, Avenida Francisco Mota 572, Mossoró-RN, 59625-900, Brasil 

Fonte: http://www.apacame.org.br/mensagemdoce/119/artigo2.htm