Em todos esses anos de prática com as Jandaíras (melipona subnitida), poucas foram as oportunidades que tive de testemunhar uma enxameação dessa espécie, mesmo assim, em todas as vezes nunca consegui capturar o momento exato em que a rainha chegava na nova morada.
A dificuldade tem uma explicação, além de ser um fato raríssimo de se avistar, a princesa só entra no novo ninho depois de tudo já pronto para sua recepção, afinal de contas, depois de desenvolvida sua fisiogastria, de lá só sairá morta.
Mas a sorte muitas vezes bate na porta daqueles que persistem. No mês passado, durante a visita do nosso amigo português Joaquim Pífano ao Brasil, fizemos uma visita na Comunidade do Jucuri, que fica na zona rural de Mossoró-RN, nessa oportunidade visitamos alguns meliponicultores e meliponários.
A certa altura da visita, quando estávamos a fotografar algumas colônias, nos deparamos com um grupo de Jandaíras que se aglomeravam exatamente naquele momento. Pífano, por não entender o que se passava, me perguntou o que seria aquela agitação inesperada de abelhas.
Antes de responder alguma coisa ao Pífano perguntei ao dono das abelhas se as caixas que estavam "atrepadas" no pé de cajarana estavam com colônias situadas, ou seja, se já haviam abelhas morando ali dentro. Não haviam, as caixas tinham sido colocadas ali por puro acaso, eram caixas já velhas com muita cera e própolis dentro, pois não é costume do sertanejo se utilizar de caixas-iscas na nossa região.
-Joaquim é uma enxameação! Respondi ao amigo que a essa altura do evento já se encontrava a bater fotos. Passamos algum tempo observando e tentando nos aproximar, mas uma bendita cerca de madeira nos impedia de chegar mais perto.
(clique na foto para ampliar, vejam a nova rainha circulada em rosa)
A agitação das abelhas dificultava a identifcação da princesa que pudesse está por ali no intuito adentrar ao recinto. Todavia, ao analisar as fotos pacientemente encontrei a princesa que tanto procurava na oportunidade. Devo confessar que se trata de uma relato único, nunca tinha visto uma foto que pudesse atestar de forma tão segura a existência de uma princesa em meio a tanta "confusão organizada" de abelhas.
O mais interessante de tudo é observar o comportamento das abelhas ao redor da princesa, percebam que as campeiras mais velhas fazem uma espécie de círculo como se quisessem proteger a tão esperada rainha. Esse comportamento, típico de aceitação e submissão entre as abelhas, nos mostra que essa certamente era a escolhida para reinar daquele momento em diante.
Mais um momento inesquecível da visita do amigo Pífano ao nosso belo sertão potiguar.
Mais um momento inesquecível da visita do amigo Pífano ao nosso belo sertão potiguar.
Mossoró-RN, em 18 de outubro de 2011.
att,
Kalhil Pereira França
Meliponário do Sertão
Olá Kalhil,
ResponderExcluirEu já devia ter postado nos comentarios do seu blog um AGRADECIMENTO MUITO ESPECIAL, ao kalhil e à sua família pela forma calorosa como nos receberam, eu já devia ter escrito dois ou três posts sobre a apicultura brasileira no meu blog, como sempre o faço em cada regresso...
eu já devia, eu já devia..., mas o facto é que ainda estou a "assimilar" tudo o que de tão especial passei nesses 15 dias do outro lado do Atlântico.
O "apiturismo" que parece agora começar a ganhar expansão, teve um dos momentos mais altos na visita ao "Meliponário do Sertão", local que há muito eu desejava conhecer.
A visita "guiada" pelo Mestre Kalhil, fez as coisas parecerem muito mais fáceis, a meliponicultura ganhou até outra dimensão.
Habituado que estou à Apis mellifera, é-me dificil conceber que alguém transforme um quintal ou um jardim num meliponario, que a convivência entre abelhas e pessoas seja assim tão possível e cordial.
Abeiramo-nos de uma colmeia, abrimo-la, retiramos um disco de criação e reforçamos outra colónia, abrimos um "pote de mel" e provamo-lo, tudo no mesmo instante. Não há picadas, não há o calor nem o incómodo dos fatos de macaco... fiquei maravilhado.
Á volta, o Sertão, encerra a magia própria das regiões quentes e áridas, o Sol domina lá de cima, e a imaginação... essa leva-nos para os tempos de Lampião,
Obrigado Kalhil, Shyrliane e Heitor
Joaquim Pifano e Luísa
Olá amigo. Olha, com esse relato que vc nos brinda nesse post, estou cada vez mais convencido de que a criação ou a observação das ASF permite um contato excepcional não somente com seres vivos que têm um modo de vida diferente, mas com alguns momentos "mágicos", pois só posso definir como "mágico" um momento raro das ASF, que mesmo vc, que já lida há muito tempo com as mesmas, nunca presenciou, e ao receber um amigo que vem de muito longe, "coincidentemente", com aspas mesmo, há esse momento ímpar, como a "presentear" não somente a vc, mas ao seu convidado, que aparentemente não lida com as ASF, e que além das práticas comuns na meliponicultura, presenciou esse momento sublime. Um abraço. Fco Mello
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