segunda-feira, 11 de julho de 2011

A primeira vez a gente nunca esquece...

O fenômeno é raro e ainda bem desconhecido por grande parte dos meliponicultores e pesquisadores. A coisa começa de forma lenta mas bem organizada. A impressão de quem assiste pela primeira vez é que elas praticamente recebem uma ordem sobrenatural e de uma só vez saem todas de suas caixas e vão se aglomerando numa grande bola de abelhas.


A revoada das uruçus (melipona scutellaris) é algo intrigante. Já tinha lido e ouvido vários relatos sobre esse comportamento típico dessa espécie, mas nunca tinha presenciado pessoalmente. Confesso que fiquei paralisado e ao mesmo tempo assustado pois nunca tinha visto tantas abelhas juntas em plena harmonia na vida.


O processo começou pela manhã bem cedo, confesso que ao chegar no meliponário não notei nada diferente, mas percebi que as abelhas estão fazendo um barulho muito alto na entrada das colônias. A princípio pensei que fosse uma tentativa das abelhas em aquecer a caixa pois pela manhã faz um certo frio devido a elevada umidade do litoral.


Mas do nada as abelhas uruçus começaram a sair um atrás da outra de forma muito bem organizada de todas as caixas. Pensei logo em briga, mas logo mudei de opinião ao perceber que todas estavam magicamente alinhadas e apenas sobrevoando todo o meliponário. 


Nesse instante percebi que era uma revoada. Corri o mais rápido que pude e peguei a máquina fotográfica para registrar esse momento raro que todo criador espera por acontecer. O mais interessante é observar o alinhamento e o distanciamento que cada abelha faz da sua vizinha, a coisa é tão bem organizada que parece que são regidas por uma batuta de algum maestro invisível.



A coisa demorou cerca de 10 minutos e do mesmo modo que começou terminou com todas as abelhas entrando em suas respectivas caixas de forma lenta e organizada, sem brigas e discordâncias. Esse espetáculo raro da natureza ainda é cheio de mistérios e curiosidades. Nem mesmo os mais experientes pesquisadores sabem ao certo o porquê desse fenômeno, o que se sabe é que só acontece em aglomerados de colônias fortes. Isso eu realmente tenho que concordar pois todas as minhas 20 caixas de uruçu estão em plena forma, há enxames que de tão forte passaram até a beliscar, coisa rara pois são abelhas muito dóceis.

A cada dia eu me surpreendo com essa espécie, o grande pai da Meliponicultura, o Prof. Paulo Nogueira Neto já dizia que essa era a única abelha a poder um dia competir com a Apis Melifera. Espero que alguém posso algum dia decifrar o real significado desse encontro de abelhas tão bem orquestrado. De concreto só temos uma certeza, há de existir algum toque divino em tudo isso.

att,

Mossoró-RN, em 11 de julho de 2011.

Kalhil Pereira França
Meliponário do Sertão  
  

3 comentários:

  1. Realmente deve ser uma coisa linda de se ver... Infelizmente vou demorar ver isso pessoalmente pois a minha colônia não vingou. Linda postagem, espetáculo maravilhoso. Parabéns.

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  2. Amigo Kalhil,

    Simplesmente incrível. A natureza... Seus segredos e encantos.

    Um abraço,

    João Paulo - Meliponário Campos Verdes.

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  3. Saudações amigo, realmente, uma revoada de abelhas sem uma razão de acontecer é algo que dá medo rsss. E vc me fez lembrar que já observei relatos em livros e até um vídeo no you tube dando conta desse acontecimento. Felizmente vc lembrou que esse fenômeno é algo natural nessa espécie de abelha, e que tudo está normal. Kalhil, será que esse fenômeno não estaria relacionado com o instinto das abelhas? Pois sabemos que uma pancada mais forte nas colônias provocam a saída imediata de um grande número delas; Ah e os discos de cria que vc me enviou já foram utilizados em divisões há um mês atrás, e as colônias-filhas, pelo que observamos se desenvolvem bem. Até mais amigo, estou meio que preguiçoso para postar nos blogs, mas de vez em quando dou uma passada nos blogs dos amigos. Um abraço, Fco. Mello

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