Depois muito tempo esperando eles finalmente chegaram! Os certificados do último concurso brasileiro de méis de abelhas sem ferrão realizado pela Associação de Meliponicultores do Estado do Rio de Janeiro.
Mais uma vez nosso mel se consagra entre os melhores méis do país. Muito orgulho de nossa tão resistente e produtiva abelha jandaíra!!! Que venha a safra de 2019!!!
A pedidos de muitos estamos agora também no Instagram, segue a gente lá... fotos de manejo, colônias lindas, modelos de novas caixas e muitas outras informações sobre nossas abelhas nativas, especialmente a Jandaíra! Segue a gente lá!
Em pleno mês de outubro estamos ultrapassando o mês mais difícil para as Jandaíras. Estamos no auge da seca, momento de baixa florada e quase nenhuma oferta de flor na caatinga. Mas nossas abelhas não estão nem um pouco preocupadas com isso. Aqui na cidade de Mossoró mantemos nesse período uma alimentação artificial constante com xarope e oferta de pólen de apis (abelha africanizada).
O resultado são enxames sempre fortes, com ótimas reservas de alimento e excelente postura das rainhas. Isso nos garante uma constante oferta de matrizes para novas multiplicações. Só esse mês de outubro já foram mais de 15 novas colônias produzidas utilizando o velho sistema 2 x 1 (mais a frente faço uma postagem sobre as minhas técnicas de divisão um pouco diferenciadas).
A partir de agora começo a selecionar os enxames que irão, a partir do mês de março de 2019, para o campo em busca de produção de mel. Um ponto importante de registro: só enxames com muitas campeiras são capazes de serem muito produtivos. Então não adianta mandar enxame fraco para a caatinga sem que ele tenha condições adequadas para produzir.
Nosso objetivo esse ano é chegar o inverno com 200 caixas em plena produção. Número esse que nos proporcionará uma excelente safra, caso tenhamos um inverno tão bom quanto o de 2018. Pelas previsões da meteorologia isso é plenamente viável. Acredito que conseguiremos.
Uma dos segredos para esse rápido crescimento é, além de alimento constante, oferta abundante de cera. Aqui ofereço cera de apis e de irapuá que são colhidas em ninhos pela mata com comercializada na região em pequenas feiras. Encontro com facilidade nas casas de tempero e outras especiarias da minha cidade.
De resto é só aguardar as primeiras e boas chuvas do mês de fevereiro e março e deixar o resto por conta das abelhas... Afinal de conta são elas as grandes atrizes desse nossa grande novela chamada Sertão.
Muita gente já deve ter se perguntado: como a rainha faz pra colocar o ovo lá dentro de cada célula de cria????
Bem, no passado muitas vezes eu me fiz essa pergunta. Para respondê-la nada melhor que acompanhar a postura da rainha em detalhes. Para isso voltei a fazer uma coisa que anos atrás já tinha feito, estudar os rituais de postura.
Hoje, graças aos inúmeros recursos tecnológicos que um bom Smartphone pode oferecer fica bem fácil gravar. A dica pra não atrapalhar é por uma tela transparente e pouca iluminação. Excesso prejudica a organização interna fazendo com que as abelhas sejam atraídas em demasia pela luminosidade.
De resto é só assistir todo processo e apreciar a beleza da harmonia das abelhas quando lideradas pela rainha. Só um pequeno detalhe desse vídeo que vou mostrar abaixo... Essa caixa é uma divisão recente, a rainha é muito jovem. Seus ovaríolos ainda estão em processo de desenvolvimento e por isso ela demora muito tempo sob a célula de cria até ovopositar o seu ovo.
Quando ela ficar mais velha esse processo vai ficar mais rápido e seu abdômen ficará ainda mais desenvolvido (fisogastria). Percebam que durante o processo uma das operárias põem um ovo trófico que serve de alimento para a rainha ativa. São esses ovos tróficos de obreiras o principal alimento das rainhas.
Agora eu pergunto... Quem ensinou tudo isso a elas??? Só Deus pra explicar a natureza desses belos animais.
Foi só fornecer novo alimento proteico de qualidade que as abelhas voltaram ao normal. Ainda hoje inspecionei os enxames fracos que receberam os potinhos de pólen artificial e grata foi a surpresa de me deparar com o retorno regular da postura das abelhas. De fato estou bastante certo que o problema era de fato o alimento. Agora é esperar uns 60 dias pra vê os enxames voltarem com força total.
Nos últimos dias tive um problema com 5 colônias que estavam na sede do sítio em Taboleiro Grande/RN. Ao inspecionar os enxames observei grande mortandade de crias em fase de desenvolvimento, grande acúmulo de lixo (restos de ninho) e pedaços de abelhas mortas pela caixa.
Imediatamente passei a estudar o caso buscando identificar o que estava a provocar a morte das crias em desenvolvimento. Como o problema aconteceu em todas as caixas que estavam na sede, deduzi que a causa estava trelada a intoxicação pelo alimento. Provando o mel não observei fermentação, pelo contrário, está bastante saboroso. Já o pólen.... hummm.... me preocupou.
Estamos praticamente no final do setembro e a essa altura do ano as únicas plantas que ainda estão em floração nas proximidades dos enxames são os pés de nim indiano que, como muitos sabem, é bastante tóxico as abelhas. E ao redor da sede tem "só" 27 pés de nim, com um floração exuberante.
Inúmeros estudos já comprovaram seu efeitos prejudiciais as abelhas, sendo seu pólen bastante tóxico as abelhas quando consumido sozinho. Resultado, os enxames certamente estavam definhando pela descontinuidade no nascimento de novas crias por intoxicação do alimento larval. Isso é ainda uma hipótese, não tenho certeza, pra tanto vou repetir a experiência trazendo novos enxames, mas dessa vez com muito estoque de pólen pra analisar se o fato vai se repetir.
Pra resolver o problema trouxe rapidamente os enxames de volta pra Mossoró pra recuperar. Mas esperá aí: Mossoró não tem pé de nim indiano nas proximidades de seu meliponário?
Tem e muitos!!!!
Mas diferentemente do sítio, onde praticamente não há mais flora de caatinga com flores disponíveis, aqui na cidade inúmeras outras plantas estão florescendo o ano todo, o que favorece muito os enxames nessa época.
Apenas com exemplo as Caraubeiras (também conhecidas com Ipé do Serrado) estão em plena floração na rua da minha casa. Como disse acima, o efeito prejudicial do pólen do nim só é acentuado quando consumido isoladamente, mas misturado com outros tipos de pólen o efeito é tolerado pelas abelhas, quase não fazendo mal algum.
Bem, mas o que fazer pra recuperar os enxames? Simples, fornecer outros pólens como fonte proteica. Para isso utilizo uma técnica muito fácil de fazer que é a introdução de bombons de pólen.
E como fazer? Mais simples ainda.
Basta misturar pólen (pode ser o desidratado de apis) após batido no liquidificador com mel. Usamos um pouco de mel apenas dá liga aos pólen, não precisa de muito. Vamos dosando até a massa de pólen ficar bem bem fixa. Feito isso fazemos umas bolinhas (do tamanho dos potes naturais) e em seguida mergulhamos em cera derretida para formar uma espécie de potinho artificial de pólen.
Para isso basta usar um palitinho e mergulhar as bolinhas de pólen na cera líquida e resfriar em água gelada para rapidamente formar um potinho artificial.
Feito os bombons de pólen passo seguinte e fornecer as abelhas. Elas vão processar rapidamente o pólen fornecido até virar um pão da abelha (pólen fermentado) e passarão a consumir um novo alimento rico em proteína.
Só uma dica importante, caso as colônias tenham estoque de pólen das flores do nim sugiro retirar imediatamente, substituindo todos os potes pelos que foram produzidos pelo meliponicultor. Isso vai garantir que o pólen consumido é 100% novo e não será utilizado com os potes já em uso de nim indiano, facilitando a recuperação dos enxames.
Nada como o reconhecimento para estimular cada vez mais nosso trabalho. Nesse novo recomeço na criação de nossas abelhas Jandaíras tivemos uma grata surpresa que tem nos proporcionado uma grande alegria.
No último domingo (dia 16 de outubro de 2018) participamos com nossas amostras de mel de nossas Abelhas Jandaíras do 6º Concurso Brasileiro de Méis de Abelhas Nativas Sem Ferrão, realizado anualmente pela Associação Meliponicultores do Estado do Rio de Janeiro, no parque Natural Municipal da Catacumba, cidade do Rio de Janeiro.
Na ocasião 27 (vinte e sete) amostras de méis de abelhas nativas enviadas por meliponicultores de todo o Brasil concorreram ao título de melhor mel do país. Pra nossa satisfação o mel de nossas Abelhas Jandaíras ficou em 3º Lugar, recebendo o reconhecimento entre os mais renomados jurados do Brasil.
Modéstia à parte, tinha a certeza da qualidade de nosso produto, pois nosso mel é produzido em plena mata de caatinga ainda bem preservada e cuidada à gerações pelos meus familiares, bem longe de qualquer tipo de agrotóxico.
O reconhecimento em âmbito nacional já tinha sido por nós alcançado no ano de 2011, quando alcançamos o 1º Lugar neste mesmo concurso, recebendo o título de melhor mel do país. Isso só reforça que ano após ano o mel da Jandaíra produzido no interior da cidade Taboleiro Grande/RN tem um enorme potencial.
Só me resta voltar a multiplicar minhas novas matrizes para novamente produzir em grande escala um dos melhores méis do Brasil.
No último final de semana
retornei ao meu pequeno pé de serra, zona rural da cidade de Taboleiro Grande,
bucólica cidade sertaneja no interior do RN. Dessa vez retornava ao sítio com
meu filho Heitor, de apenas 7 anos.
Heitor é uma criança típica
da sua idade, conjuga a ternura e inocência da infância com a curiosidade e espírito
de aventura que percorre a veia dos pequenos nessa fase. Cheio de perguntas,
muitos por que... e com frase tiradas sabe Deus de onde...
(colhendo flores de Jitirana para vovó Aprígia)
Além dele trouxe comigo um
belo cortiço de Jandaíras para pendurá-lo no alpendre da casa. Era minha
vontade vê-las trabalhando nessa época do ano para avaliar como anda a florada
após o final do inverno.
Mesmo após o encerramento das chuvas (já estamos
iniciando o período de estiagem) ainda há uma boa florada por essas bandas.
Algumas plantas só floram após o final do período chuvoso, fato esse que
proporciona as abelhas um prolongamento importante das fontes de alimento até o
próximo período de inverno.
Assim que cheguei instalei a
caixa no local e soltei as abelhas. Como já esperado foi aquele alvoroço de Jandaíra perdida fazendo os primeiros voos de reconhecimento. Mas passado
algumas horas todas já estavam “situadas” com o novo local.
No dia seguinte, ainda muito
cedo, sou acordado pelo meu filho às 6h da manhã ansioso pra vê a retirada do
leite das vacas. Mal tive tempo de lavar o rosto com a pressa dele em calcar os
chinelas e sair em direção ao curral pra acompanhar aquilo que pra ele era um
momento especial, afinal não é toda hora que uma criança urbana se depara com
cenas diárias de um sítio.
A cada vaca ordenhada
iniciava-se uma bateria de perguntas que a certo momento o pobre do vaqueiro (o
meu primo Watson) já não sabia muito bem o que dizer. Seu objetivo era aprender
a famosa técnica da ordenha das vacas, mas não foi possível ensinar, pois os
animais estavam estressados com a presença de muitas pessoas no curral.
Terminada ordena segue-se a
esperada tangida do gado em direção ao pasto, de longe acompanhava meu pequeno
vaqueiro que a essa hora já estava em êxtase.
A certo momento pergunto-me:
como estão as abelhas que ontem coloque no alpendre? Não demoro e vou em
direção ao alpendre que está ali a poucos metros para observar o entre e sai de abelhas com suas patinhas cheias
de pólen.
(vídeo das Jandaíras chegando logo cedo com muito pólen)
Acertei na mosca! Vejo que a
decisão de trazer as abelhas para cá nesse momento é o melhor a se fazer, principalmente
pela intensificação do carro fumacê pela cidade de Mossoró, logo estarão
passando pelo meu bairro e terei que fechar as caixas para evitar que morram
envenenadas.
Pouco tempo depois, após o
tão esperado café com queijo do sertão e muita coalhada, chamei o pequeno
Heitor para conhecer algumas veredas que desembocam num velho rio que corta a
propriedade. Ele sem pestanejar logo aceitou. Queria que ele conhecesse as
inúmeras espécies de abelhas e plantas que a essa hora da manhã estavam em pleno
vigor.
Nesse momento tive a rara oportunidade
percorrer com meu filho as mesmas trilhas que outrora eu percorria na
sua mesma idade com meu avô, o saudoso José Carneiro. Foi sem sombra de dúvidas
um grande momento para todos nós.
- Pai que planta é essa com
tanta flor? Que bichinho é esse? Qual o nome desse passarinho? Que abelhas são
essas?
Tudo chamava atenção pra ele,
bastava um som diferente e logo vinha uma nova pergunta. A cada resposta que
dava sentia a grata missão de transmitir a ele o amor pela natureza, o respeito
pelos animais, admiração pela caatinga e suas abelhas que ali estavam em busca
do néctar de cada dia.
A vida passa muito rápido,
logo ele estará um rapaz e eu já não terei a força e a mesma vitalidade de
agora, mas de certo terei a plena certeza que, assim como fizera meu avó, plantei
nele a semente do amor pela natureza.
No caminho de volta percorremos um longo trecho seco, estávamos em silêncio quando sou surpreendido com a seguinte declaração de Heitor: Pai, quando eu crescer quero criar abelhas igual ao senhor...
Nessa hora os olhos marejaram e discretamente enxuguei uma lágrima que teimava em querer percorrer o rosto. Um sentimento de orgulho e alegria percorreu meu coração ao vê no sorriso inocente daquela criança o futuro de mais um geração de amantes das abelhas Jandaíras que se inicia. Aquele passeio não poderia ter terminado de maneira melhor.
Imagem da internet: https://www.embrapa.br/image/journal/article?img_id=2516949&t=1424785467503
Bem, essa pergunta não é tão
fácil de responder. Primeiro é preciso
pergunta qual tipo de abelha estamos a falar... Cada espécie de abelha tem um processo
diferente. Mas basicamente o processo se divide em 02 modelos distintos:
alimentar e o genético-alimentar.
No primeiro modelo um ovo
qualquer de operária é alimentado exclusivamente com a geleia real, um composto
riquíssimo em nutrientes e sais minerais que desencadeia na abelha o
desenvolvimento do seu aparelho reprodutor.
As operárias desse modelo de
procriação recebem esse mesmo alimento por apenas 03 dias e após esse tempo são
alimentadas apenas com mel. Essa diferença é o suficiente para que apenas
algumas poucas abelhas possam desencadear o processo de liderança, enquanto
outras serão apenas abelhas comuns. Isso é o que acontece com as abelhas da espécie
apis melífera, vulgarmente conhecidas como abelhas europeias ou abelhas
africanizadas bem como com as abelhas sem ferrão chamadas de trigonas, que
fazem as chamadas realeiras.
O outro modelo é o chamado genético-alimentar
e nesse a mágica é um pouco diferente. Aqui o alimento até é importante, mas o
fundamental para o desenvolvimento de uma rainha é um feromônio. Como assim?
Explico.
Nesse tipo de abelha não há
diferença no tamanho da célula de cria, ou seja, cada abelha recebe a mesma
quantidade de alimento larval necessário ao seu desenvolvimento. O que muda é
a genética de cada ovo. Nessas abelhas os ovos de rainha já são geneticamente “programados”
para ao final do processo de desenvolvimento se torarem princesas virgens aptas
a serem aceitas no processo de formação de novas colônias ou em substituição de
uma rainha já velha. Fazem parte desse modelo às abelhas meliponas, como as
uruçus, mandaçaias e também nas jandaíras.
Então esse método é muito mais
genético do que alimentar?
Sim, mas existem alguns detalhes
que vão, além disso. Durante o ritual de postura, antes de efetivamente por o
ovo na célula de cria, a rainha quando deseja produzir uma operária libera
dentro do alimento larval das abelhas um poderoso hormônio (chamado feromônio mandibular
real – FMR) o qual inibe nas operárias o desenvolvimento dos ovaríolos. Entretanto,
a cada certo número de postura, a rainha “esquece” de liberar esse feromônio,
evitando assim que as princesas tenham seu aparelho reprodutor inibido. ´É esse
mecanismo que desencadeia nas princesas o desenvolvimento de genótipo de
rainha, fazendo que se desenvolvam.
Bem, como vocês puderam observar
a coisa não é tão simples assim, há muita química envolvida por trás de uma
simples abelha rainha.