quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Fornecendo Cera artificial

Se existe uma coisa que as abelhas adoram é poupar trabalho e material de construção, aliáis, todo mundo. É preciso lembrar que uma abelha gasta muita energia para produzir cera, existe uma média que diz que para uma abelha produzir um kilo de cera, ela gasta dez kilos de mel.

Ou seja, é muita energia doada ao trabalho. Para quem não sabe, a cera é produzida pelas abelhas através de glândulas especiais em seu abdomem, ela raspa a cera do seu corpo e a mistura com resinas coletadas na natureza, gerando o cerume, o material de construção das abelhas.

Por isso, se quisermos ajudar as abelhas nessa dura tarefa podemos doar as colônias um pouco de cera artificial, é muito fácil de fazer:

1)200 gramas de cera de apis;
2)200 gramas de cera de Irapuá (No nordeste é fácil encontrar);
3)4 colheres de óleo vegetal (óleo de cozinha mesmo);



Modo de fazer:

Raspamos a cera de apis e a de irapuá em finas camadas e acrescentamos o óleo em algum recipiente, o óleo serve para amolecer o produto final pois a cera de apis é muito dura e não é aceita pelas ASF sem essa manipulação, não deixa nenhum cheiro estranho e não atrapalha em nada. Em seguida levamos tudo ao microondas para derreter por 2 minutos.



Pronto, é só escorrer a mistura líquida ainda quente em alguma superfície lisa e plana, esperar esfriar um pouco e ir raspando. A mistura tem que ficar na consistência de massa de modelar infantil, bem maliável e mole. Se ficar muito dura é só acresentar um pouco mais de óleo para amolecer.



Para servir é só pregar na entrada das colônias ou mesmo colocar nos beirais da caixa em lugar onde o sol da manhã bata bem cedo, o calor do sol faz a cera ficar ainda mais mole e cheirosa, ficando ainda mais atrativas para as abelhas.




Detalhe: Para Jandaíras eu recomendo usar um pouco de cerume puro delas pois não gostam muito do cheiro da cera de Irapuá, vejam que nas fotos acima só aparecem mandaçaias, mas se acrescentarmos um pouco de cera delas a atração é imediata.

Para as outras espécies de meliponas, mandaçaias, uruçu etc, podem usar as medidas acima recomendadas que elas não perdem tempo.

att,

Mossoró-RN, 27 de agosto de 2009.


Kalhil Pereira França
Meliponário do Sertão
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Francisco Mello disse:

Olá amigo, fornecer cera realmente poupa trabalho às abelhas e creio que seja imprescindível quando da divisão de colônias, principalmente nas "colônias filhas". As abelhas da foto são as famosas Mandaçaias né? Eu sempre pensei que a Mandaçaia, tal qual Uruçu, precisasse de um meio mais úmido... Pelo visto elas se dão bem na sua região.

PS - ainda não mandei o e-mail mas logo mandarei para obter informações sobre os discos de cria. Fco Mello

28 de Agosto de 2009 22:34

Joaquim Pífano disse:

Amigo Kalhil,

Estou impressionado com a forma com fornecem (e sobretudo como "fabricam") as ceras para as ASF. Quando comecei a ler este poet fiquei surpreendido, pois sabia que as ASF não vivem em quadros (favos com caixilho de madeira) como as Apis, não estava nada à espera de o cerume lhes ser dado como se de alimento artificial se tratasse. Cada vez este blog tal como as ASF me "prende" mais a atenção e a curioside.
Parabéns e um abraço, JPifano.
O que é cera de Irapuá ???

29 de Agosto de 2009 06:21

Amigo Pífano, Irapuá é uma espécie de abelha sem ferrão que é considerada daninha, ela não poliniza as flores como as outras abelhas, simplesmente ela tora a base da flor colhe o néctar por essa base, só que isso é muito ruim para as plantas pois destrói as flores, ficando somente os ramos secos. Essa abelhas também tem comportamento pilhador junto as Jandaíras, já as vi algumas vezes entradando em conflito com algumas ASF em busca de furtar alimento. Dessa maneira sempre que encontro alguma colônia destruo para não atacar as flores e minhas abelhas. Como o mel dessa abelha não é comestível, aproveita-se pelo menos a sua cera que pode ser fornecido as outras ASF. Pelo Nordeste elas são muito fáceis de encontrar, tem aos montes, são muito resistentes.
Na falta pode-se usar a cera das próprias Jandaíras misturadas com a da Apis. É até melhor pois aceitação e mais rápida.
tamandua disse...
Olá Kalhil, sou de Curitiba-PR.Antes de mais nada parabéns pelo blog.Então, fiz a cera artificial p/ minhas mandaçaias, mas fiquei c/ algumas dúvidas se fiz o procedimento certo pq ñ ficou muito parecida com a que vc fez.Ficou bem escura.Tem um ninho de irapua numa árvore atrás da minha casa, foi delas que eu peguei a cera.Minha duvida é de qual parte do ninho eu tenho que pegar a cera??Como eu ñ quero destruir esse ninho eu só "raspei" aquela bola que elas fazem e caiu um pouco de cera e foi essa que eu usei.Parece um batume. Essa pode ser usada? ou tem que ser cera de partes mais internas do ninho??

vlw,
12 de Setembro de 2009 12:01
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Kalhil Pereira disse...
Você deve está coletando batume e não o cerume, o batume é a mistura de própolis com barro, já o cerume é a mistura de cera das abelhas e resinas, o ideal é a cera mais interna, essa externa não serve.
Eu tenho algumas bolotas de cera, se quiser posso te mandar bastante. Vc paga somente as despesas de remessa. vai ser bom para vc pois vai saber qual é a cera que estou falando.
att,
Kalhil
Mossoró-RN
www.meliponariodosertao.blogspot.com
14 de Setembro de 2009 14:55

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Táticas de defesa da Jandaíra

A organização das abelhas é algo imprecionante, existem pesquisadores que defendem quem uma colônia de abelhas seria não apenas um grupamento de abelhas que se organizam em castas, cada uma com sua função.

Há quem diga que a colônia é, na verdade, um corpo vivo, um ser que tem orgãos interdependentes, é como se a própria colônia fosse um ser que possui vida e as abelhas seriam apenas uma parte integrante desse todo. De certo modo, isso tem muito fundamento.

As abelhas sem ferrão se organizam e se defendem de maneiras muito distintas das Apis Meliferas, cada espécie de meliponíneos usa uma tática para suprir a falta de uma arma maior, como o ferrão.

(caixa de Jandaíra lambuzada, sinal de problemas)

Uma dessas armas usadas pelas meliponas, em especial as minhas Jandaíras é a camuflagem pelo cheiro. Quando uma colônia passa por desajuste feromoniais (perda da rainha, grande perda de obreiras, demora na aceitação de princesas) ou mesmo passa por algum dessaranjo organizacional ou alimentar, é muito comum as abelhas literalmente lambuzarem a caixa com todo tipo de material.

(caixa de Jandaíra completamente lambuzada, tentativa de enganar as abelhas inimigas)

Entre esses materias nos podemos encontrar barro, estames e pedaços de pétalas de flores, resinas, restos de pólen e até mesmo fezes de animais com galinha, vaca etc. Enfim, tudo aquilo que seja de fácil alcance e traga um cheiro diferente (e as vezes desagradável) elas podem colher para tentar camuflar o cheiro da colônia contra seu inimigos.

Para nós, esse comportamente pode parecer muito estranho, como alguém pode lambuzar sua própria casa??? Acontece que existem na natureza diversos predadores, entre eles outras abelhas com a abelha Iratim (abelha essa pilhadora das outras ASF) que reconhecem de longe o desarranjo organizacioal das ASF só pelo cheiro por ela exalado.

(ataque de abelhas Iratins (abelha limão) a caixa de Mandaçaia (melipona quadrifaciata)

Dessa maneira, a camuflagem é para as abelhas um alternativa de última hora e muito importante porque realmente funciona no seu habitat natural, ele evita que as inimigas possam reconhecer o momento de dificuldade que passa aquela colônia.

É importante afirmar que esse comportamento é muito raro, não acontece com muita frequência, mas quando acontece percebemos de longe pois a caixa fica completamente lambuzada ou mesmo com um fedor desagrável.

Quando acontece não há muito o que se fazer, as abelhas sabem resolverem seus problemas sozinhas, mas é importante redobrarmos a atenção com a colônia que apresente esse comportamento, podemos fazer uma inspeção e avaliar a necessidade de acresentarmos discos de cria para fortalecer se o problema for falta de abelhas ou mesmo ausência da rainha. Podemos ainda fornecer xarope para aumentar as reservas alimentares.

Já me perguntaram uma vez se não seria interessante lavar a caixa por fora, não recomendo, pelo contrário, se elas fazem isso é por que elas entendem ser necessário a camuflagem, com o tempo elas resolvem seus problemas e o cheiro estranho seca e passa.

As abelhas não gostam da gente, nós que gostamos delas, então deixemos as meninas em paz.

att,

Mossoró-RN, em 26 de agosto de 2009.


Kalhil Pereira França
Meliponário do Sertão


segunda-feira, 24 de agosto de 2009

A questão das 44 colônias

Segundo estudos de KERR & VENCOVSKI (1982), o número mínimo de colônias necessárias para manutenção permanente de uma espécie com população mínima de machos diplóides, seria de 40 colônias. KERR (1985) depois elevou esse número mínimo a 44 colônias.

Sendo o número de colonias de uma espécie na área de reprodução, inferior a 44, a probabilidade de rainhas acasalarem-se com machos que possuem alelos XO iguais a um dos seus, é 17,4%. Isto determina a produção de 50% de machos diplóides (Kerr & Vencovsky 1982).

(Professor Dr. Kerr)

Dessa maneira, segundo a corrente do professor Kerr, as 44 colônias seriam necessárias para a manutenção de pelo menos 6 diferentes aleixos sexuais. Dessa maneira, segundo a visão dessa corrente entocmológica, a existência de menos 44 colônias num meliponário estaria, em tese, fadada ao fracasso no decorrer de algumas gerações.

Essa teoria nunca foi vista por mim com bons olhos, nada contra a quem a estudou e a desenvolveu, pelo contrário, acredito, assim como o Professor Paulo Nogueira Neto, que a existência de machos diplóides é muito prejudicial as colônias que desenvolvem esses cruzamentos, a minha rejeição a essa teoria, na verdade, é devido ao fato que se aceitarmos esse pensamento como completamente verdadeiro para todas as espécies de meliponíneos, estaremos inviabilizando por completo a meliponicultura de todas as espécies de abelhas não nativas de sua região, principalmente pela dificuldade de "importar" 44 colônias de uma região para outra não originária.

(Professor Dr. Paulo Nogueira Neto)

Felizmente, o Professor Dr. Paulo Nogueira Neto, atráves de seus estudos com várias espécies de meliponíneos, vem constatando que a teoria Whiting não é completamente verdadeira, segundo PNN, a ocorrência desse fenômeno só é acentuado em situações de estresse:


"Quero salientar que quanto maior for o número das colônias de Meliponíneos que formam uma população, tanto melhor sob o aspecto genético, pois haverá maior variabilidade biológica. Contudo, demonstrei ser possível e viável estabelecer uma população a partir até mesmo de uma única colônia inicial, desde que se trate de espécie bem adaptada às condições ecológicas locais. Em relação às conseqüências de endocruzamentos de Meliponíneos, oProfessor Warwick Kerr tem uma opinião divergente da minha. A seu ver, como foi previsto por Whiting, metade dos endocruzamentos irmão x irmão produzem machos que representam 50% dos indivíduos diplóides da colônia, o que é desastroso para a mesma. Não nego que a existência de machos diplóides possa ser altamente prejudicial às colônias onde os mesmos nascem em grande número. Contudo, as minhas pesquisas mostram que de alguma maneira esse problema é compensado e superado nas colônias que se encontram em bom estado e cuja espécie é nativa do lugar onde estão ou que encontram, em outro local, condições ecológicas equivalentes. A meu ver, nessas condições favoráveis o problema não chega mesmo a se apresentar. Se, porém, as condições ambientais são desfavoráveis, seja por uma situação de estresse ecológico (inclusive climático) ou por algum outro motivo semelhante, nesse caso após um endocruzamento a produção de machos diplóides poderia surgir e liquidar ou prejudicar seriamente a colônia. Em resumo, na minha opinião, a teoria das 44 colônias não se aplica a populações nativas de Meliponíneos que estejam em boas condições fisiológicas,ambientais e alimentares. (Nogueira-Neto, Paulo N 778v Vida e Criação de Abelhas indígenas sem ferrão. — São Paulo: Editora Nogueirapis, 1997)."

Eu, pessoalmente sigo o pensamento do Professor PNN, não apenas pelo sentimento recíproco de viabilidade, mas principalmente pelo fato de já ter experimentado que é plenamente possível a criação de meliponíneos, mesmo realizando cruzamentos entre parentes.

Já algum anos venho mantendo, de forma muito satisfatória, a permanência de 18 colônias de Jandaíras, todas oriundas de apenas 2 caixas, que foram se cruzando até chegarem ao número atual, o mais interessante disso é que essas duas colônias estão em uma área litorânea (exatamente de frente ao mar), num beiral de uma casa, onde não existem colônias de Jandaíras naturalmente. Nunca verifiquei a presença de machos diplóides nas colônias nem tão pouco verifiquei a perda de alguma colônia por enfraquecimento por "causas desconhecidas".

De certo, independente de quem esteja certo ou errado, o importante é que quanto mais colônias tivermos em nosso meliponário, melhor será, pois estaremos assim proporcionando uma maior variabilidade genética para que elas possam sozinhas, resolverem seus problemas.

att,

Mossoró-RN, 24 de agosto de 2009.



Kalhil Pereira França
Meliponário do Sertão

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

A destruição da Caatinga e suas abelhas


(visão de vida na caatinga, paraíso ameaçado)

A realidade é triste, mas tem que ser dita.
Mesmo sendo o único bioma exclusivamente brasileiro, a cada dia caatinga vem sendo destruída, sem pena nem piedade, já não vemos mais os grande pé de Juazeiro, de Cumaru, Aroeira, Imburana, Angicos, Catingueira, Baraúna etc. Essas belas árvores estão sendo destruídas e consumidas, diariamente, pelo homem que não percebe que destruindo o seu habitat está destruindo a si mesmo.

(avanço da desertificação pelo desmatamento)

Esse comportamento desenfreado é explicado, o bicho homem é imediatista e ambicioso por natureza, só pensa no lucro rápido e fácil, parece (parece não, tem certeza) imaginar que os danos ambientais por ele produzidos não trarão, num futuro bem próximo, conseguências gravíssimas contra ele mesmo.

(queimadas clandestinas)

A desertificação da região do semi-árido Nordestino caminha a passos largos, Segundo o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, o Nordeste pode perder um terço de sua economia por causa da desertificação e do aumento da temperatura em menos de 20 anos.

(troncos de árvores no pátio de cerâmica)

O principal fator influenciador desse processo é o desmatamento indiscriminado das regiões de mata da caatinga, somente no Estado do Rio Grande do Norte, o polo ceramista potiguar consome mensalmente cerca de 106 mil metros cúbicos de lenha, essa quantidade de madeira é equivalente ao desmatamento de mais 600 campos de futebol por mês.

(madeira sendo queimada em forno de cerâmica)

(transporte ilegal de madeira do sertão)

Juntamente com as belas árvores do sertão, vão embora as abelhas nativas dessa região, sem casa para morar não poderão se multiplicar, na verdade, não poderão nem ao menos sobreviver. Diferentemente da Apis melifera, as rainhas dos meliponíneos (Jandaíra, Uruçu, mandaçaia, moça branca, jati, canudo etc) são fisiogástricas, ou seja, possuem o seu abdomem bem dilatado, o corpo fica mais pesado do que as asas podem suportar, dessa maneira elas passam a não mais voarem quando são fecundadas, ficando assim pressas para sempre na árvore que escolheram para morar.

Essa evolução genética atualmente é um problema, pois quando se destrói uma árvore em que nela habita uma colônia de nativas, estamos também destruindo também as abelhas residentes, pois as abelhas não abandonaram a sua mãe (rainha) por nada, morrerão ali, juntamente com sua casa.

(rainha de fisiogástrica de Jandaíra, após a fecundação não pode mais voar)

Estudos científicos comprovaram que 90% das árvores de lei da amazônia (Mogno, Jatobá, Jacarandá, Ipê, Pau-Brasil, Andiroba etc) só são polinizadas por abelhas nativas daquela região. O mesmo acontece com a Caatinga, somente as abelhas nativas do semi-árido são capazes de polinizar, de forma eficiente, as grandes árvores do Sertão.


Sem as árvores não temos abelhas, sem as abelhas não temos a polinização das árvores e plantações, sem a polinização na haverá frutos nem sementes e sem frutos e sementes não temos alimentos e sem esses últimos não teremos ninguém...

O próprio Albert Eintein, um dos maiores cientistas que mundo já viu já dizia:

Olhem as abelhas, se elas sumirem a humanidade tem um máximo de quatro anos de sobrevida, pois não haverá plantas e nem animais, a polinização é a grande responsável pela produção de alimentos”.

Sem as abelhas muitos alimentos consumidos diariamente seriam inacessíveis à maioria das pessoas, devido ao preço. A escassez afetaria principalmente várias frutas, além das geléias e conservas, amêndoas e até mesmo o leite, pois as vacas leiteiras, em regime de confinamento, exigem uma ração rica em proteína, que depende de polinizadores.

Estima-se que cerca de mais de 100 culturas podem ficar sem polinizadores e a produção em larga escala de certas culturas poderá se tornar inviável. Ainda teríamos milho, trigo, batatas e arroz, mas muitas frutas e legumes que são consumimos rotineiramente como maçãs, pêras, laranjas, mirtilos, brócolis e amêndoas poderão se tornar alimentos de privilegiados.

A verdade é que se essa realidade não mudar a riqueza da biodiversidade da flora e da fauna irão sucumbir diante da ambição desenfreada do bicho homem, bicho esse que é o único animal capaz de destruir seu próprio habita, até hoje eu só vi um ser que tem esse mesmo comportamento, os vírus e bactérias, que destroem seus hospedeiros mesmo sabendo que isso vai levá-los também a sua destruição.

Só espero que não terminemos iguais a eles.

att,

Mossoró-RN, 21 de agosto de 2009.


Kalhil Pereira França
Meliponario do Sertão
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Anônimo disse...

Olá Kalhil, realmente esta realidade é cruel e já constatei em meu estado tbm. Pilhas de lenha "colhida" da caatinga à beira das estradas; queimadas sem fim, e sabemos que nessa lenha colhida vão-se muitas moradas de abelhas nativas, e a Jandaíra se encontra em via de extinção com a desertificação.
Julho agora passei por sua cidade e fui até Natal de carro, e me surpreendi com a vastidão da caatinga nessa estrada, em que de uma lado e de outro era uma imensidão de mata intocada.

21 de Agosto de 2009 22:11


A região de Mossoró ainda possui áreas de caatinga bem preservadas, ainda é possível encontrar as Jandaíras e outras abelhas na natureza por aqui, mas não se engane, por aqui também existem grandes clarões de mata aberta, mas basta você se afastar um pouco que o início da destruição começa, principalmente próximo ao entorno do polo ceramista da vale do Assu-RN, lá sim a caatinga é destruída e bem observada por quem passa as margens da BR.

Kalhil Pereira


terça-feira, 18 de agosto de 2009

Caixa Nordestina X Caixa INPA (qual a melhor???)

Uma da primeiras dúvidas de quem vai criar Jandaíras ou outras meliponas é em qual caixa criar as abelhas. Qual é a melhor caixa??? Modelo INPA??? Modelo Nordestina??? Caixa rústica???

Na verdade, existem muitos outros tipos de caixas (Modelo Maria, Modelo PNN etc), cada uma com suas peculiaridades, mas na minha pequena visão de meliponicultor falarei apenas das caixas que utilizo nos meliponários que administro, até porque não poderia falar dos outros modelos sem utilizá-los, observando assim suas vantagens e desvantagens.

O sertanejo, como todo homem inteligente, tem a mania de aprender e copiar aquilo que ele vê na natureza, a caixa modelo nordestina para Jandaíra surgiu assim, dessas observações do próprio homem do campo.

(imburana na natureza do Sertão, época de seca)

Na Caatinga, as Jandaíras são quase sempre encontradas ou em ocos das árvores da Imburana ou da Catigueira e pela própria características desses habitat, geralmente compridos e apertados, o caboclo acabou copiando e desenvolvendo a caixa para as abelhas da maneira que ele as via na Natureza, comprida e apertada.

(curtiços rústicos de Jandaíra feitos no próprio pau da Imburana)

Eu mesmo ainda tenho, junto ao meliponário rural de Taboleiro Grande, uma grande variedade de curtiços rústicos bem antigos, reconheço que o manejo nesse tipo de caixa não é o dos melhores, principalmente pela dificuldade que as abelhas passam para vedar todas as brechas deixadas durante as inspeções, fora que a colheita de mel é muito difícil pois não há como separar a melgueira do ninho, pois tudo é junto num compartimento único.

Ainda as mantenho apenas por uma questão de carinho e lembrança do início da atividade.

(caixas Modelo Nordestina acima e curtiços rústicos na prateleira de baixo)


Como tudo na vida evolui e cresce, conheci a caixa Nodelo Nordestina, que nada mais é do que um curtiço rustico melhorado, mais acabado e com fechamento através de parafusos ou mesmo com travas de pressão. Essa caixa tem as mesmas desvantagens da caixa rústica.

Sua única vantagem é a evolução de ter uma pequena tábua separando o ninho da melgueira, com dois compartimentos independentes.

(caixa modelo Nordestina)

Com a evolução e o crescimento da atividade, caixa modelo Nordestina que foi alterada, a caixa foi modificada para permitir a separação da melgueira do ninho, manejo esse que facilita muito o trabalho do meliponicultor, pois os compartimentos passam a ser independentes não sendo mais necessário abrir o ninho e estressar ainda mais as abelhas durante as inspeções ou colheita de mel. Abaixo o modelo da caixa com sua medidas.

(caixa modelo Nordestina modulada para Jandaíra)

Por último, o INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) desenvolveu uma caixa (que leva o seu nome) para a criação de meliponas na região Norte do Brasil, principalmente a uruçu cinzenta/Tiúba (melipona Faciculata) e a uruçu verdadeira (melipona scutelaris).

Porém, a caixa inicialmente desenvolvida por aquele órgão era muito grande para Jandaíra, pois as meliponas acima tem populações e ninho bem maiores que a da Jandaíra, dessa maneira, como eu gostei muito dessa caixa, principalmente pela evolução no manejo que ela representa, passei a adotá-la em meu meliponário, contudo, com dimensões reduzidas.

(caixa Modelo INPA para Jandaíra)

(Caixa INPA na Prateleira no Meliponário Rural)

No começo quando passei a usá-la, ela era maior, mas passei a usar recentemente o modelo acima informado, pela grande facilidade que proporciona no dia dia. O certo é que não tenho preferência entre as duas caixas, tanto a Nordestina Modulada quanto a INPA para Jandaíra são muito boas para o manejo.

Mas tenho usado a primeira para produção de mel, e a segunda para multiplicações de minhas matrizes, pois na segunda caixa existe a possiblidade de diminuir ou aumentar o espaço utilizado pelas abelhas e esse "pequeno grande" detalhe ajuda e muito no controle de temperatura da colónia, pois nas colónias jovens temos que reduzir o espaço utilizado para aumentar a temperatura interna da caixa, ajudando assim a colónia a crescer de forma mais rápida.

Assim sendo, recomendo o primeiro modelo para produção de mel e o segundo para as multiplicações das colónias matrizes.

att,

Mossoró-RN, 18 de agosto de 2009.


Kalhil Pereira França
Meliponário do Sertão
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Anônimo disse...

Olá amigo, ainda não tive tempo de lhe mandar um e-mail para pedir mais informações sobre a comercialização de discos de cria, o meu tempo está curto, mas logo mandarei um e-mail.
Gostei desses "toques" que vc forneceu sobre as caixas, e só utilizamos o modelo nordestino por ser de mais fácil confecção, mas a INPA tbm se mostra, pelo que vc diz, bastante interessante.
Acho que nessa região de vcs, como no Maranhão coma Tiúba, vcs utilizam os troncos ao natural como criação rústica, mas não sei se vc conhece a região norte do meu estado, em que eles gostam de uitlizar o fruto de uma corcubitácea chamada de "cabaça", e foi por meio de duas dessas que começei a minha criação.
Abraços e até mais.

Fco. Mello

19 de Agosto de 2009 22:10


Fico Feliz que tenha gostado, as duas caixas são muito boas, mas a INPA tem essa grande vantagem de redução ou aumento do espaço, o que é fundamental para quem pensa em crescer sempre rápido e com colónias de qualidade.

Depois me mande o e-mail sim, estou com belos discos para enviar para ti.

att,

Kalhil Pereira


Alves disse...

prabéns pelo trababalho, é de muito bom gosto, sucesso (Alves Neto - Gama-DF).

20 de Agosto de 2009 00:26


Obrigado Alves.

att, Kalhil

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Como crescer de forma rápida e racional

Há mais de 6 meses eu venho, diariamente, estudando o comportamento de postura de algumas rainhas de Jandaíra, no total são 5 colônias que todos os dias venho acompanhando a taxa de postura através de contagem do número de células ovopositadas.

Antes de explicar melhor como tudo funciona segundo minha pequena ótica, informo que não tenho a pretensão de encerrar o tema, nem muito menos convencer alguém que minha "teoria/prática" seja a melhor, pelo contrário, contudo confesso que até o presente momento a mesma me vem sendo mu
ito satisfatória, principalmente pelos resultados que já obtive até aqui.

Através desse estudo maluco (e sem orientação acadêmica) eu descobri que a média da taxa diária de postura de uma boa rainha de Jandaíra varia entre 28 a 32 ovos dia. (a baixo de 25 a rainha deve ser descartada pois n
ão crescerá de forma satisfatória aos meus objetivos).

(observações de estudo noturno do comportamento nas colônias de Jandaíra)

Essa taxa diária só se estabiliza a partir do segundo mês de vida da rainha jovem, antes disso essa taxa diária varia muito pois depende da quantidade obreira que estão participando do ritual de postura, e nas colônias novas esse número é reduzido.

Dessa maneira, considerando a taxa de postura e a taxa de mortalidade diária das abelhas, em geral não ultrapassa 7 abelhas por dia, podemos concluir, de forma bem simples, que a média de crescimento gira em torno de 25 abelhas.

Nesse rítmo de crescimento, considerando ainda que nas colónias recém iniciadas foi observado que inicialmente existe uma redução do número de abelhas obreiras (num intervalo médio de 25 dias) devido a diferença entre a mortalidade das abelhas inseridas nas colônias filhas e das existentes no início da postura da rainha, cheguei a conclusão que para que uma colónia de Jandaíra seja precosemente dividida, sem prejuízos significativos ao seu desenvolvimento, seria necessário o tempo mínimo de 8 meses para o fortalecimento e estabilização da mesma e sua conseguente desdobra.

Essas mesmas colônias que só foram desdobradas após 8 meses, podem, novamente serem divididas após 4 meses sem prejuízo. Esse intervalo menor é explicado por que na colônia mãe estável rapidamente as elites de obreiras são reorganizadas (subida de casta), isso demora em média de 2 a 3 dias. Voltando, dessa maneira, a manutenção da taxa de postura acima informada.

Dessa forma, após esses meus estudos iniciais, "conclui" e montei um tabela que já venho seguindo com muito sucesso para os desdobramentos que venho realizando nos meliponários.

Essa tabela mostra como se é possível chegar ao número máximo de 58 colônias, apartir de 10 matrizes, em apenas 18 meses.

Algumas observações devem, obrigatoriamente, serem seguidas, pois é um conjunto de práticas de facilita a multiplicação. Tenho certeza que a mesma será muito útil aos novos meliponicultores (ou velhos) que pretendem aumentar o número de colónias em seu meliponário sem a necessidade de recorrer aos meleiros, ou mesmo servirá na comparação com outras espécies de meliponas. (para melhor vê é so clicar sobre ela)



att,

Kalhil Pereira França
Meliponário do Sertão
Mossoró-RN

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Um belo presente de um amigo distante


A internet é uma coisa fascinante, a cada dia me surpreendo com a força dessa ferramenta atualmente indispensável na minha vida. Com ela podemos conhecer pessoas por todos os cantos do mundo.

A pouco tempo atrás eu estava a navegar pela mesma quando me deparei com excelente blog português sobre apicultura, o Monte do Mel, do amigo Joaquim Pífano, de leitura obrigatória para todos os amantes das abelhas.

Contudo, mesmo sendo o Joaquim um grande apicultor, o mesmo não tem muito conhecimento sobre as abelhas sem ferrão do Brasil (e de certo não poderia pois em Portugal não existem nativas sem ferrão) e estava a confundir as minhas Jandaíras (melipona subnitida) com as Abelha boca de sapo (Partonoma...). De imediato fiz a correção e apartir desse meu contato inicial começou uma importante troca de informações sobre as abelhas com e sem ferrão.

É tão verdade que o Joaquim já me deu o honra de escrever alguns artigos sobre meliponicultura em seu blog, o monte do mel (www.montedomel.blogspot.com). Do mesmo modo, a recíproca é verdadeira, basta dá uma olhadinha nos dois blogs que vocês confirmarão.


Contudo, hoje eu fui felizmente surpreendido com mais uma do amigo Joaquim Pífano, recebi em minha casa um belo pote de mel vindo diretamente das abelhas portuguesas do amigo de tão longe.


O mel, que fiz questão de provar imediatamente, é de um sabor bem diferente do mel das apis que costumo provar por aqui, o sabor é maravilhoso, possui uma consistência levemente cremosa, não é forte, extremamente suave, não é enjoativo e ainda possui uma cor que deixa qualquer um de queixo caído.


A impressão que tenho é como se estivessemos tomando um bom
vinho, todos na minha casa ficaram encantados com o presente, o fato é tão verdade que alguns aqui que não tem muito apreço por mel ficaram com o gostinho de quero mais.

Amigo Joaquim, dizer obrigado pelo seu presente é pouco diante do que representa para mim e minha família. Mesmo assim, muitíssimo obrigado, este será degustado com muito prazer, aguarde que estou separando algumas amostras de mel especial de Jandaíra para retribuir a gentileza do amigo.

att,

Mossoró-RN, em 12 de agosto de 2009.


Kalhil Pereira França
Meliponário do Sertão

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Caixa aquecida (a revolução da meliponicultura)

Antes de mais nada, informo que o material informativo abaixo não é de minha autoria, inclusive não o uso pois devido ao clíma favorável do Nordeste, estamos mais para uso de ar condicionado nas colónias do que aquecedores.

Este tópico é especialmente dedicado ao pessoal do sul do País que muitas vezes me pergunta como é possível criar ASF, principalmente as tipicamente nordestinas (Uruçu, Jandaíra, mandacaia) em regiões onde muitas vezes bate 0ºC.

A caixa aquecida conforme mostra o modelo abaixo, servirá e muito para demonstrar essa possibilidade de revolução e expansão da meliponicultura no Brasil.

Vale a pena estudar o material abaixo disponibilizado.


CAIXAS INCUBADORAS PARA A FORMAÇÃO E OBSERVAÇÃO DE
COLÔNIAS DE ABELHAS SEM FERRÃO (Apidae: Meliponina)

INCUBATOR HIVES FOR FORMATION AND OBSERVATION OF STINGLESS BEES


(Apidae: Meliponina) COLONIES

Luciano COSTA1; Giorgio Cristino VENTURIERI2.

1. Universidade Federal do Pará – UFPA, Mestrado em Ciência Animal, Belém, PA.; 2. Embrapa Amazônia Oriental, Belém, PA;

tetragonisca@yahoo.com.br


RESUMO: Diversos estudos sobre biologia e manejo de meliponíneos têm utilizado caixas que mantém colônias em condição ideal de temperatura, aproximadamente 30°C, para incubação das crias. O presente estudo descreve um sistema de caixas incubadoras, elaborado com a finalidade de auxiliar no desenvolvimento de novas colônias, formadas com pouco material biológico, visando à produção de ninhos para a meliponicultura, bem como, ser útil em estudos sobre a biologia destes insetos. Este sistema foi desenvolvido para utilização em caixas racionais, modulares, verticais. O sistema é formado por: uma caixa controle, equipada com termostato (Leitenberger, RTC – 01) e 2 resistores (2,2k_, 20W); e demais caixas racionais (onde são colocadas as abelhas), equipadas com 2 resistores. As caixas com colônias são ligadas à caixa controle, que regula a temperatura. Uma vez que as caixas são iguais, a temperatura se mantém entre 28,8 e 31,9°C em todas. Dados obtidos com as espécies Melipona quadrifasciata e M. marginata, na região sul do Brasil, indicaram rápido desenvolvimento das colônias. Estudos sobre a utilização deste sistema para M. flavolineata, no Estado do Pará, estão em andamento. Resultados parciais indicam rápido desenvolvimento das colônias e redução da quantidade de invólucro, facilitando a visualização do comportamento interno das colônias.


PALAVRAS-CHAVE: Criação de abelhas. Meliponicultura. Melípona. Abelhas sem ferrão. Ninho de observação.


INTRODUÇÃO

Diversos pesquisadores, em seus estudos sobre biologia e criação racional de meliponíneos, assim como vários meliponicultores, têm utilizado caixas climatizadas, com a finalidade de manter suas colônias de abelhas sem ferrão em condição ideal de temperatura, próximo a 30°C. Como exemplo disso, podem ser citados trabalhos realizados por Sakagami (1966), Aidar (1996), Zügue e Aidar (2000), Pioker et al. (2003), Brand (2005) e Kiss (2006).

O presente estudo descreve um sistema de caixas incubadoras, elaborado com a finalidade de fornecer um ambiente propício para o desenvolvimento de novas colônias, formadas a partir de pouco material biológico. Este estudo visa auxiliar na produção de colônias, para atender a crescente demanda gerada pela meliponicultura. Do mesmo modo, este sistema de incubadoras pode ser útil em estudos diversos sobre a biologia de Meliponíneos. Este sistema de incubação foi desenvolvido para utilização em caixas racionais, modulares, verticais, utilizadas pela Embrapa Amazônia Oriental, conforme Venturieri et al. (2003) e Venturieri (2004). O sistema proposto é de baixo custo, fácil instalação, requerendo apenas conhecimentos básicos de eletrônica.


MATERIAL E MÉTODOS

Os equipamentos necessários, assim como uma estimativa de custo, para montar uma caixa controle e dez caixas para abelhas são apresentados na Tabela 1.

Tabela 1. Materiais necessários para a confecção de uma caixa controle e dez para abelhas. Os custos são estimados a partir dos valores encontrados no mercado, em Belém – PA, durante o mês de Julho de 2006.


Item

Quantidade

Custo unitário (R$)

Custo total (R$)

%

Caixa racional

11 unidades

25,00

275,00

45,46

Lâmina de acetato

11 unidades

0,60

6,60

1,09

Fio torcido 0,40mm

11 m

0,30

3,30

0,55

Cabo paralelo 1,00mm

11 m

0,85

9,35

1,55

Led

1 unidade

0,20

0,40

0,07

Plug Fêmea c/ duas entradas

1 unidade

4,00

4,00

0,66

Plug fêmea simples

11 unidades

2,20

24,20

4,00

Plug macho

14 unidades

1,15

16,10

2,66

Quadro aquecedor

11 unidades

4,00

44,00

7,27

Resistor 118 Ω, 1/4W

1 unidade

0,10

0,10

0,02

Resistor 2,2k Ω, 20W

22 unidades

3,20

70,40

11,64

Termômetro

11 unidades

6,50

71,5

11,82

Termostato

1 unidade

80,00

80,00

13,22

Total



604,95

100,00


O sistema de incubadoras é formado por caixas de madeira, idênticas, sendo uma delas a caixa controle, semelhante ao equipamento utilizado por Zügue e Aidar (2000) e descrito por Kiss (2006). As caixas utilizadas correspondem à porção inferior do ninho e tampa, conforme Venturieri et al. (2003) e Venturieri (2004), com dimensões de 22x22cm (externamente). A caixa controle é a responsável pela regulação da temperatura, enquanto as demais caixas albergam as novas colônias de abelhas. A caixa controle é equipada com um termostato (marca Leitenberger, modelo RTC 01, ou outra marca e modelo, conforme a disponibilidade) (Figura 1) e um quadro aquecedor, de madeira, com dois resistores de 2,2k_, 20W (Figura 2). Os resistores são posicionados em sulcos, situados no interior das laterais do quadro aquecedor e ligados em paralelo (Figura 2), utilizando cabo trançado 0,40mm (fio de telefone).


O fio percorre o quadro aquecedor, externamente, posicionado em um sulco, confeccionado para esta função. A caixa controle apresenta também um “Led” (diodo emissor de luz), indicador da passagem de energia (Figura 1). O “Led” é ligado, em série, a um resistor de 118_, 1/4W. A Figura 3 apresenta um diagrama do circuito elétrico das caixas incubadoras (para uma caixa controle e dez caixas com abelhas). Cada caixa, onde são colocadas as abelhas, é equipada com um quadro aquecedor, igual ao da caixa controle.



Figura 1. Caixa controle. A - termostato; B - alimentação do quadro aquecedor da caixa controle; C - alimentação das caixas com abelhas; D – “Led” indicador (acende quando os aquecedores estão ligados); E – Cabo para ligar à fonte de energia (110V).



Figura 2. Caixa controle, aberta. A - bulbo do termostato; B - quadro aquecedor, indicando o resistor.



Figura 3. Diagrama do circuito elétrico das caixas incubadoras. A = tomada (fonte 110V); B = termostato; C = resistor (118Ω, 1/4W); D = Led; E = quadro aquecedor da caixa controle, com dois resistores (2,2k Ω, 20W) associados em paralelo; F = quadro aquecedor de uma caixa para abelhas, com dois resistores (2,2k Ω, 20W) associados em paralelo. A linha pontilhada indica as demais caixas incubadoras, associadas em paralelo.


A caixa controle é ligada a uma fonte de 110V e todas as caixas com abelhas ficam ligadas em paralelo à caixa central (Figura 4). As caixas são cobertas com uma lâmina de acetato, para possibilitar a observação das colônias e sobre a lâmina transparente é fixado um termômetro adesivo (comumente utilizado por aquariofilistas) (Figura 5).


O termostato deve ser regulado para 30°C. Para conferir a temperatura na área central das caixas (área onde ficam os favos de cria) foi utilizado um termômetro (precisão de 0,1ºC), com cabo e sensor, que pudesse ser introduzido nas caixas (Figura 5).



Figura 4. Sistema de caixas incubadoras, instaladas em laboratório da Embrapa Amazônia Oriental. Da esquerda para direita podem ser observadas: uma caixa controle e três caixas racionais, ligadas em paralelo. As abelhas (nas caixas racionais) acessam o ambiente externo através de um tubo que atravessa a parede do laboratório.



Figura 5. Vista superior da caixa controle, coberta com lâmina transparente, o termômetro indica a temperatura. Pode também ser observado o sensor do termômetro digital (precisão 0,1ºC), utilizado para conferir a temperatura na área central da caixa.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Aproximadamente, metade do custo de produção das incubadoras é devido ao valor das caixas racionais (ninho, sobre-ninho, duas melgueiras e tampa) (Tabela 1). Este custo considera uma caixa completa, para produção de mel, com ninho, sobre-ninho, duas melgueiras e tampa, conforme Venturieri et al. (2003) e Venturieri (2004). O restante das despesas (R$ 329,95) é relacionado aos equipamentos para controle de temperatura e visualização das colônias.


Cada colméia aquecida tem custo individual de aproximadamente cinqüenta e cinco reais, valor inferior ao apresentado por Kiss (2006), para uma caixa utilizada com a função de incubadora.


Como as caixas do sistema de incubadoras são iguais, a temperatura é mantida em aproximadamente 30°C em todas. Utilizando termômetro digital, com precisão de 0,1°C, instalado na área central das caixas, (Fig. 5) foi observada uma variação de temperatura de 28,8ºC a 31,9ºC, o que de acordo com Pacheco & Kerr (1989) é aproximadamente a temperatura das operárias de Melipona compressipes fasciculata Smith, 1854, quando situadas no interior da colméia.


Como a corrente elétrica que passa por cada caixa é pequena (0,1A), dezenas de caixas com abelhas podem ser ligadas, em paralelo, a uma caixa controle. Isso, devido ao termostato suportar uma corrente de até 10A.


A espessura da madeira, com a qual as caixas são construídas, pode variar de acordo com a região. Por exemplo, na região sul do Brasil, onde a temperatura do inverno é baixa, não deve ser inferior a 3,5 cm. No presente estudo, realizado na região norte do Brasil, foram utilizadas caixas com 2,5 cm de espessura. Para caixas com dimensões maiores ou menores (dependendo da espécie criada), deve-se também ajustar o tamanho do quadro aquecedor, bem como, considerar a possibilidade de utilizar mais resistências (no caso de caixas maiores).


Observações realizadas com as espécies Melipona quadrifasciata Lepeletier, 1836 e M. marginata Lepeletier, 1836, em Curitiba, Paraná, indicaram um rápido desenvolvimento das colônias, mesmo quando divisões eram realizadas em início e final de inverno, com condição de baixa temperatura do ambiente externo e dias curtos (Costa, observação pessoal).


Estudo sobre a utilização das caixas incubadoras para a espécie Melipona flavolineata Friese, 1900, no Estado do Pará, está em andamento.


Resultados parciais indicam rápido desenvolvimento e redução quase completa do invólucro, possibilitando fácil observação do comportamento interno das colônias (Fig. 6). Estas caixas estão sendo utilizadas, também, em estudos de nutrição de M. flavolineata, sob condições laboratoriais, apresentando resultados satisfatórios.


Destaca-se, a praticidade do quadro de aquecimento, que pode ser utilizado em várias caixas, na medida em que as colônias formadas, ou em estudo, vão sendo levadas para o campo. Quando uma colônia é levada para o campo, ela sede o quadro aquecedor para uma nova colônia. Aquela que vai para o campo, recebe um sobreninho e melgueiras (conforme oferta de florada), conforme Venturieri et al. (2003) e Venturieri (2004).


Figura 6. Colônia de Melipona flavolineata, 40 dias após a fundação, com três favos de cria (diâmetro médio = 8cm) e um quarto favo em construção. O termômetro, sobre a lâmina de acetato, indica a temperatura.


AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao Professor Harold Brand e a Engenheira Agrônoma Luciana Ramos Rodrigues (e família), que muito auxiliaram na elaboração deste trabalho. Pelo auxílio financeiro, agradecemos ao CNPq.

KEYWORDS: Beekeeping. Meliponiculture. Melípona. Stingless bees. Observation hive.


REFERÊNCIAS

AIDAR, D. S. A mandaçaia. Biologia de abelhas, manejo e multiplicação artificial de colônias de

Melipona quadrifasciata. Sociedade Brasileira de Genética. 103p. 1996.

BRAND, H. Geoprópolis em colméias de Mandaçaia (Melipona quadrifasciata Lepeletier): um modelo de

herança poligênica. Acta Biologica Paranaense., Curitiba, v. 34, n. 1, 2, 3, 4, p. 139-141. 2005.

KISS, J. Casa aquecida: Um sistema de colméias com calefação mantém a temperatura em 28 graus e permite a

criação de abelhas nordestinas no Sul do país. Revista Globo Rural, n. 245, p. 32-37. 2006.

PACHECO, R. L. F.; KERR, W. E. Temperatura em abelhas da espécie Melipona compressipes fasciculata.

Ciência e Cultura, v. 41, n. 5, p. 490-495. 1989.

PIOKER, F. C.; APONTE, O. I. C. ; IMPERATRIZ-FONSECA, V. L. Specialization in workers of Melipona

bicolor: the first discharger of larval food in the provisioning and oviposition process (POP). In G. A. R. Melo

& Alves-dos-Santos, Apoidea Neotropica: Homenagem aos 90 anos de Jesus Santiago Moure. Editora

UNESC, Criciúma. p.163-169. 2003.

SAKAGAMI, S. F. Tecniques for the observation of behaviour and social organization of stingless bees by

using a special hive. Papéis Aulsos do Departamento de Zoologia da Secretaria de Agricultura. SP. v. 19,

p. 151-162. 1966.

VENTURIERI, G. C.; RAIOL, V. F. O.; PEREIRA, C. A. B. Avaliação da criação racional de Melipona

fasciculata (Apidae: Meliponina), entre os agricultores familiares de Bragança, PA, Brasil. Biota Neotropica,

V. 3, n. 2 : http://www.biotaneotropica.org.br/v3n2/ pt/abstract?article+BN00103022003. 2003.

VENTURIERI, G. C. Criação de abelhas indígenas sem ferrão. Belém: Embrapa Amazônia Oriental. 36p.

2004.

ZÜGUE, P. V.; AIDAR, D. S. Colméias Térmicas Züge-Aidar para meliponíneos (Hymenoptara, Apidae,

Meliponinae). Revesta Mensagem Doce, n. 57. http://www.apacame.org.br/mensagemdoce/57/msg57.htm.

2000.

Received: 14/06/07

Accepted: 10/10/07

Original Article

Caixas incubadoras... COSTA, L.; VENTURIERI, G. C.

Biosci. J., Uberlândia, v. 23, Supplement 1, p. 141-146, Nov. 2007



Kalhil Pereira França

Meliponário do Sertão