Há dez anos praticando meliponicultura, várias foram as vezes que me surpreendi com as abelhas nativas, Mas nunca como na semana passada. Estava indo visitar um amigo na zona rural de Aracati/CE quando um menino, devia ter uns 10 pra 11 anos, me parou o carro em plena estrada carrosal e disse:
(foto meramente ilustrativa, fonte: internet)
- Ei, é você que vive procurando por abelhas por aqui?
- Sim, sou eu mesmo, muito prazer, rs.. em que posso ajudá-lo?
- É que meu pai cria Jandaíras, Jatis, Amarela e uma LIMÃO, conhece?
Depois do susto exclamei...
- LIMÃO? MAS LIMÃO MESMO? E você conhece abelha menino?
- Oxe! Conheço home... é uma limão sim. Aqui todo mundo só chama aquela abelha de "abelha limão".
- Rapaz, você tá de conversa fiada comigo, aqui não tem Limão rapaz! Como é que eu nunca vi essa abelha por aqui?
- Ora se eu sei moço! Ta duvidando de mim, pois venha vê, eu aposto um picolé!
Pensei comigo... "Esse menino deve ta confundindo as espécies e eu vou só perder meu tempo entrando nessa casa pra vê essa abelha, é capaz de ser só uma Cupira".
Muito desconfiado fui entrando no quintal da casa do garoto. Confesso que nem licença pedi pois o Dono (pai do menino) não se encontrava e sua mãe estava bem distante lavando uma amontoada pilha de louças. Não demorou muito e ele foi me mostrando:
- Olha, aqui são as Jandaíras, essas aqui são Amarelas, essa aqui é a Jatí (o danado do menino conhecia todas!!!) e aquela alí, encostada na parede, é a limão.
- RAPAZZZZZ!!!! É uma limão mesmo!!!! SANTO DEUS... pois não é!!!
(clique para ampliar)
Nessa hora os neurônios de minha cabeça entram em colapso, a surpresa foi tamanha que acho que até a máquina fotográfica não estava acreditando naquilo que registrava, pois resolveu dá pau exatamente naquele momento. Não consegui tirar uma única foto boa para o blog, pois o bendito foco estava descontrolado. A minha sorte foi o celular pois tirei algumas fotos legais com ele.
A Abelha Limão, também conhecida por IRATIM (Lestrimelitta limao, Smith, 1863), é uma abelha nativa brasileira que possui comportamente predatório. Essa abelha nativa não vive de polinização, não coleta néctar, nem muito menos pólen, por isso mesmo não possuem corbículas. Sua única atividade de subsistência é a pilhagem as outras espécies nativas, que variam desde meliponas de pequeno porte, como mandaçaias e Jandaíras, a trigonas e scaptotrignas, como Jataí, Jati, Cupiras, Tubibas etc.
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São conhecidas como abelha limão pelo cheiro cítrico característico dessa fruta na sua composição. Elas exalam esse forte odor dentro da colônia atacada provocando uma desarmonia, gerando uma castração feromonal. Essa habilidade confere às limão uma estratégia única: ao exalar esse cheiro elas “bloqueiam” a comunicação e confundem suas vítimas desmobilizando-as.
Sua entrada é arte a parte, com vários entradas falsas para enganar os inimigos naturais (formigas, largatixas etc).
Extramente populosas, seu mel não é de boa qualidade, possui forte cheiro e gosto desgradável.
É, por parte da grande maioria dos meliponicultores, temida, pelos motivos já exposto. Há àqueles que, inclusive, recomendam sua extinção da natureza, o que na minha humilde opinião é um grande exagero.
Como toda espécie na natureza a Abelha Limão possui seu papel. No passado era responsável pela controle biológico das abelhas sem ferrão, todavia, devido ao desaparecimento acelerados das abelhas nativas de seu habitat natural estão se tornando cada vez mais raras pela falta de colônias naturais para predação.
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Em todos esses anos nunca tinha visto essa abelha em área de caatinga, e confesso que durante esse tempo pensei que a mesma não fosse nativa dessa região. Certa vez, conversando na UFERSA com a Dra. Vera Lúcia Imperatriz Fonseca, renomada pesquisadora da área de meliponicultura, a mesma já tinha me relatado um ataque dessa espécie as abelhas Jandaíras em Fazenda Experimental. Inclusive tendo sido feito registro com fotos e filmagem. Fato esse que demonstra que a espécie realmente é nativa da região de Mossoró.
Infelizmente, não pude demorar muito pois tinha o amigo para visitar, mas confesso que quase cancelei a visita para esperar pelo pai do menino, enquanto chupava um monte de picolé que o menino tinha ganhado na aposta acima, que teimava em demorar. Mas acabou ficando para outra hora...
Mossoró, em 06 de setembro de 2012.
Kalhil Pereira França
Meliponário do Sertão
Nossa excelente registro !!! Agora você está devendo a segunda parte da matéria, com o pai do menino.
ResponderExcluirQuero saber como elas foram parar naquela caixa e como sobrevivem .... e as outras? Como ficam seguras ?
Abração
Medina
Meu amigo Medina, essa foi a minha maior curiosidade, como era a interação entre as espécies ali existentes. Eu voltarei... Aguardem...
ResponderExcluirMeu amigo Kalhil essa abelha já está instalada no nosso sertão mês passado quando viajei sobe do meu irmão Dantas que ás mesma atacaram duas jandairas eu falei pra ele que era essa abelha já que ele falou que cheirava a limão pois: ele sabe aonde tem colmeias naturais lá próximo a fazenda de papai.
ResponderExcluirAqui em Cascavel-CE essa abelha também é encontrada. Perto do local onde estão minhas jandaíras tinha 2 ninhos de Limão. Um estava numa estaca velha e o outro em um oco de uma árvore.
ResponderExcluirAmigo em 2005 num meliponario na comunidade rural de RANCHO DA CAÇA, proximo a Serra Mossoro, em Mossoro RN presenciei numa comeia de Plebeia sp, a invasao e o dominio de uma Letrismellita, inclusive a trouxe para casa e fiquei com ela uns 6 meses ate ela definhar!
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