Mesmo
distante e tendo que enfrentar um trânsito complicado, vez por outra
acabo aproveitando o intervalo do almoço no trabalho para ir no
meliponário. Não me demoro muito, mas são essas visitas rápidas
que garantem a permanente qualidade na postura de meus enxames. Como
já disse aqui outras vezes, acompanhar o desenvolvimento dos enxames
mais novos é missão primordial para qualquer meliponicultor que se
preze, afinal de contas as meninas na fase inicial de desenvolvimento
precisam de alimentação artificial regular.
Além
disso, nessa fase as abelhas são suscetíveis ao ataque dos forídeos
(dípteros), que são pequenas moscas que acabam infectando as
colônias com centenas de ovos que geram larvas e acabam destruindo
quase tudo.
Nesta
tarde aproveitei o momento de sol pleno para inspecionar meus enxames
de Uruçu Verdadeira. Hoje não levei alimento, muito embora tenha me
arrependido, pois alguns enxames jovens e outras colônias mais
fortes já estão baixando seus estoques. Nessa época as abelhas
consomem muita energia, pois estão em pleno desenvolvimento. Para vocês terem uma ideia do trabalho, para cada kg de cera produzido
pelas abelhas são necessários 10kg de mel gasto em energia. Ou
seja, o trabalho consome boa parte das reservas, principalmente por
que nossa criação é focada na produção de novas matrizes.
(caixa fraca, presença de problemas)
Ao
inspecionar uns dos enxames que foi formado no início do mês de
março percebi que a colônia não está se desenvolvendo bem. Como
podemos observar acima, temos poucas abelhas na caixa e nenhuma
postura nova formada, apenas dois potinhos de alimento seco e nenhum
sinal de rainha fecundada. Pouca cera e presença de fungos na caixa,
o que denota a dificuldade no controle da umidade e temperatura. Ou
seja, a colônia está precisando de nossa ajuda.
(poucas abelhas, postura de obreiras, sem rainha)
Nestes
casos a solução não é só alimentar. Mesmo que eu colocasse muito
alimento aqui esse enxame não se desenvolveria. Pelo contrário,
alimento em excesso aqui só vai atrapalhar pois todo alimento
artificial fornecido passa por um processo de transformação com as
enzimas das abelhas. E como temos poucas abelhas ele certamente
fermentaria, se tornando assim impróprio para o consumo das abelhas.
O
mais adequado aqui é procurarmos um caixa de abelhas que possa
fornecer não só potes de mel, mas também novas abelhas. O que eu
faço é simplesmente procurar uma colônia que tenha um sobre ninho
com potes e boa quantidade de abelhas.
(Enxame já formado, estabilizado e com muitos potes)
Em
seguida, troco os módulos de lugar. Ao fazermos isso boa parte das
abelhas da caixa que doou o módulo cheio de potes vão juntas. Mas
alguém pode perguntar: mas não haverão brigas? As abelhas não vão
estranhar uma caixa com outras abelhas?
Bem,
antes de responder essa pergunta é preciso esclarecer uma questão.
O manejo das abelhas sem ferrão, notadamente as meliponas, não
obedece as mesmas regras de manejo das abelhas de ferrão. Várias
pesquisas científicas, especialmente as produzidas pelo Prof. Dr.
Kerr, já nos provaram que existe uma grande flexibilidade e
aceitação nas abelhas sem ferrão de novos feromônios diferentes
da rainha.
Assim
sendo, respondemos a pergunta com um simples não. Muito embora as
abelhas possam estranhar ausência do cheiro da rainha da colônia
que doou o sobre ninho, não brigarão com as outras abelhas já
existentes na caixa fraca.
Além
disso as abelhas da caixa fraca são, na sua grande maioria, abelhas
novas e que ainda não “aderiram” (devido à ausência de rainha)
a nenhum feromônio real, afinal de contas, não temos nenhuma rainha
na caixa ainda.
Outro
ponto positivo é que mesmo que algumas abelhas voltem para colônia
antiga, boa parte das abelhas que foram juntas com o módulo
permanecerão normalmente na caixa que recebeu os potes por serem
abelhas novas e não estarem na fase de coleta externa (fase final de
vida das abelhas e onde elas apreendem a voar).
(caixa fraca após a introdução de novo módulo e com mais abelhas)
Após
realizar o processo de transferência já podemos observar que a
quantidade de abelhas na caixa aumentou e os potes doados ajudarão a
acelerar o desenvolvimento da colônia até a formação da rainha.
No resto é só acompanhar e esperar que elas possam agora sozinhas
(ou mesmo com os nossos empurrões) se desenvolverem e gerarem mais
uma nova rainha, até chegarem ao padrão abaixo.
(caixa matriz com ótima postura)
Natal/RN, dia 31 de Março de 2015
Kalhil Pereira França Thurner
Meliponário do Sertão
Prezado Kalil!
ResponderExcluirconsiderando a pobreza dos "grandes negócios do Brasil e do mundo";
considerando a vera e terrivel ameaça de extinção dessas Doçuras;
considerando a curiosidade e "inveja" que provocaste e mim e quiçá em milhares de brasileiros que ainda querem esperar nesse Pais;
considerando que tão poucos podem se dar a esse doce privilégio;
considerando que essa matéria revela conhecimento no assunto;
Dá uma pausa nessas outras coisas que lhe (te) assoberbam e
impreenda e faça escola com esse MELIPONÁRIO!!!
ABÇS... PVH. Celso.