No último final de semana
retornei ao meu pequeno pé de serra, zona rural da cidade de Taboleiro Grande,
bucólica cidade sertaneja no interior do RN. Dessa vez retornava ao sítio com
meu filho Heitor, de apenas 7 anos.
Heitor é uma criança típica
da sua idade, conjuga a ternura e inocência da infância com a curiosidade e espírito
de aventura que percorre a veia dos pequenos nessa fase. Cheio de perguntas,
muitos por que... e com frase tiradas sabe Deus de onde...
(colhendo flores de Jitirana para vovó Aprígia)
Além dele trouxe comigo um
belo cortiço de Jandaíras para pendurá-lo no alpendre da casa. Era minha
vontade vê-las trabalhando nessa época do ano para avaliar como anda a florada
após o final do inverno.
Mesmo após o encerramento das chuvas (já estamos
iniciando o período de estiagem) ainda há uma boa florada por essas bandas.
Algumas plantas só floram após o final do período chuvoso, fato esse que
proporciona as abelhas um prolongamento importante das fontes de alimento até o
próximo período de inverno.
Assim que cheguei instalei a
caixa no local e soltei as abelhas. Como já esperado foi aquele alvoroço de Jandaíra perdida fazendo os primeiros voos de reconhecimento. Mas passado
algumas horas todas já estavam “situadas” com o novo local.
No dia seguinte, ainda muito
cedo, sou acordado pelo meu filho às 6h da manhã ansioso pra vê a retirada do
leite das vacas. Mal tive tempo de lavar o rosto com a pressa dele em calcar os
chinelas e sair em direção ao curral pra acompanhar aquilo que pra ele era um
momento especial, afinal não é toda hora que uma criança urbana se depara com
cenas diárias de um sítio.
A cada vaca ordenhada
iniciava-se uma bateria de perguntas que a certo momento o pobre do vaqueiro (o
meu primo Watson) já não sabia muito bem o que dizer. Seu objetivo era aprender
a famosa técnica da ordenha das vacas, mas não foi possível ensinar, pois os
animais estavam estressados com a presença de muitas pessoas no curral.
Terminada ordena segue-se a
esperada tangida do gado em direção ao pasto, de longe acompanhava meu pequeno
vaqueiro que a essa hora já estava em êxtase.
A certo momento pergunto-me:
como estão as abelhas que ontem coloque no alpendre? Não demoro e vou em
direção ao alpendre que está ali a poucos metros para observar o entre e sai de abelhas com suas patinhas cheias
de pólen.
(vídeo das Jandaíras chegando logo cedo com muito pólen)
Acertei na mosca! Vejo que a
decisão de trazer as abelhas para cá nesse momento é o melhor a se fazer, principalmente
pela intensificação do carro fumacê pela cidade de Mossoró, logo estarão
passando pelo meu bairro e terei que fechar as caixas para evitar que morram
envenenadas.
Pouco tempo depois, após o
tão esperado café com queijo do sertão e muita coalhada, chamei o pequeno
Heitor para conhecer algumas veredas que desembocam num velho rio que corta a
propriedade. Ele sem pestanejar logo aceitou. Queria que ele conhecesse as
inúmeras espécies de abelhas e plantas que a essa hora da manhã estavam em pleno
vigor.
Nesse momento tive a rara oportunidade
percorrer com meu filho as mesmas trilhas que outrora eu percorria na
sua mesma idade com meu avô, o saudoso José Carneiro. Foi sem sombra de dúvidas
um grande momento para todos nós.
- Pai que planta é essa com
tanta flor? Que bichinho é esse? Qual o nome desse passarinho? Que abelhas são
essas?
Tudo chamava atenção pra ele,
bastava um som diferente e logo vinha uma nova pergunta. A cada resposta que
dava sentia a grata missão de transmitir a ele o amor pela natureza, o respeito
pelos animais, admiração pela caatinga e suas abelhas que ali estavam em busca
do néctar de cada dia.
A vida passa muito rápido,
logo ele estará um rapaz e eu já não terei a força e a mesma vitalidade de
agora, mas de certo terei a plena certeza que, assim como fizera meu avó, plantei
nele a semente do amor pela natureza.
No caminho de volta percorremos um longo trecho seco, estávamos em silêncio quando sou surpreendido com a seguinte declaração de Heitor: Pai, quando eu crescer quero criar abelhas igual ao senhor...
Nessa hora os olhos marejaram e discretamente enxuguei uma lágrima que teimava em querer percorrer o rosto. Um sentimento de orgulho e alegria percorreu meu coração ao vê no sorriso inocente daquela criança o futuro de mais um geração de amantes das abelhas Jandaíras que se inicia. Aquele passeio não poderia ter terminado de maneira melhor.
Mossoró-RN, em 14 de
agosto de 2018.
Kalhil Pereira França
Meliponário do Sertão