terça-feira, 31 de março de 2015

Revisão regular: o segredo de um bom desenvolvimento.

Mesmo distante e tendo que enfrentar um trânsito complicado, vez por outra acabo aproveitando o intervalo do almoço no trabalho para ir no meliponário. Não me demoro muito, mas são essas visitas rápidas que garantem a permanente qualidade na postura de meus enxames. Como já disse aqui outras vezes, acompanhar o desenvolvimento dos enxames mais novos é missão primordial para qualquer meliponicultor que se preze, afinal de contas as meninas na fase inicial de desenvolvimento precisam de alimentação artificial regular.


Além disso, nessa fase as abelhas são suscetíveis ao ataque dos forídeos (dípteros), que são pequenas moscas que acabam infectando as colônias com centenas de ovos que geram larvas e acabam destruindo quase tudo.


Nesta tarde aproveitei o momento de sol pleno para inspecionar meus enxames de Uruçu Verdadeira. Hoje não levei alimento, muito embora tenha me arrependido, pois alguns enxames jovens e outras colônias mais fortes já estão baixando seus estoques. Nessa época as abelhas consomem muita energia, pois estão em pleno desenvolvimento. Para vocês terem uma ideia do trabalho, para cada kg de cera produzido pelas abelhas são necessários 10kg de mel gasto em energia. Ou seja, o trabalho consome boa parte das reservas, principalmente por que nossa criação é focada na produção de novas matrizes.


(caixa fraca, presença de problemas)

Ao inspecionar uns dos enxames que foi formado no início do mês de março percebi que a colônia não está se desenvolvendo bem. Como podemos observar acima, temos poucas abelhas na caixa e nenhuma postura nova formada, apenas dois potinhos de alimento seco e nenhum sinal de rainha fecundada. Pouca cera e presença de fungos na caixa, o que denota a dificuldade no controle da umidade e temperatura. Ou seja, a colônia está precisando de nossa ajuda.


 (poucas abelhas, postura de obreiras, sem rainha)

Nestes casos a solução não é só alimentar. Mesmo que eu colocasse muito alimento aqui esse enxame não se desenvolveria. Pelo contrário, alimento em excesso aqui só vai atrapalhar pois todo alimento artificial fornecido passa por um processo de transformação com as enzimas das abelhas. E como temos poucas abelhas ele certamente fermentaria, se tornando assim impróprio para o consumo das abelhas.


O mais adequado aqui é procurarmos um caixa de abelhas que possa fornecer não só potes de mel, mas também novas abelhas. O que eu faço é simplesmente procurar uma colônia que tenha um sobre ninho com potes e boa quantidade de abelhas.


 (Enxame já formado, estabilizado e com muitos potes)

Em seguida, troco os módulos de lugar. Ao fazermos isso boa parte das abelhas da caixa que doou o módulo cheio de potes vão juntas. Mas alguém pode perguntar: mas não haverão brigas? As abelhas não vão estranhar uma caixa com outras abelhas?


Bem, antes de responder essa pergunta é preciso esclarecer uma questão. O manejo das abelhas sem ferrão, notadamente as meliponas, não obedece as mesmas regras de manejo das abelhas de ferrão. Várias pesquisas científicas, especialmente as produzidas pelo Prof. Dr. Kerr, já nos provaram que existe uma grande flexibilidade e aceitação nas abelhas sem ferrão de novos feromônios diferentes da rainha.


Assim sendo, respondemos a pergunta com um simples não. Muito embora as abelhas possam estranhar ausência do cheiro da rainha da colônia que doou o sobre ninho, não brigarão com as outras abelhas já existentes na caixa fraca.


Além disso as abelhas da caixa fraca são, na sua grande maioria, abelhas novas e que ainda não “aderiram” (devido à ausência de rainha) a nenhum feromônio real, afinal de contas, não temos nenhuma rainha na caixa ainda.


Outro ponto positivo é que mesmo que algumas abelhas voltem para colônia antiga, boa parte das abelhas que foram juntas com o módulo permanecerão normalmente na caixa que recebeu os potes por serem abelhas novas e não estarem na fase de coleta externa (fase final de vida das abelhas e onde elas apreendem a voar).


(caixa fraca após a introdução de novo módulo e com mais abelhas)

Após realizar o processo de transferência já podemos observar que a quantidade de abelhas na caixa aumentou e os potes doados ajudarão a acelerar o desenvolvimento da colônia até a formação da rainha. No resto é só acompanhar e esperar que elas possam agora sozinhas (ou mesmo com os nossos empurrões) se desenvolverem e gerarem mais uma nova rainha, até chegarem ao padrão abaixo.

 (caixa matriz com ótima postura)


Natal/RN, dia 31 de Março de 2015

Kalhil Pereira França Thurner
Meliponário do Sertão

sexta-feira, 6 de março de 2015

O sucesso das Uruçus Verdadeiras em Natal/RN

Depois de muito tempo longe deste espaço, volto para relatar um pouco das minhas “aventuras” nos últimos dias no mundo das amáveis abelhas sem ferrão. Devido a minha mudança de Mossoró para Natal, estive durante muito tempo sem a possibilidade de criar as abelhas de maneira apropriada.

Nesse período perdi alguns enxames e pouco dei assistências as abelhas. Entretanto, finalmente encontrei um local bastante apropriado à criação. Antes de mais nada é preciso registrar que mudei o foco de minha criação. 

(colônia matriz de Uruçu Verdadeira - melipona scutellaris)

Por aqui as abelhas Uruçus são bem mais adequadas a criação racional pela melhor adaptação ao clima quente e único da mata atlântica, muito embora mantenha ainda algumas colônias de Jandaíra aqui e no interior.

Estou focando com força na Uruçu Verdadeira que, na minha opinião, é uma abelha fantástica. Venho multiplicando-as com grande sucesso por aqui. Neste último mês de janeiro fiz 10 novas colônias e todas geraram rainhas em menos de 15 dias. 

(divisão - colônia nova com 40 dias de postura)

Estou bastante satisfeito com o desenvolvimento das minhas colônias, fato que atribui principalmente ao meu manejo adequado, uma alimentação de reforço sempre que necessário e a seleção das melhores colônias para divisão.

(colônia matriz de Uruçu Verdadeira - uma das melhores abelhas do Brasil)

Minhas colônias, mesmo após as divisões recentes, estão com nova postura batendo a tampa da caixa. Devidos as últimas fortes chuvas em Natal e região temos encontrado uma abundância de flores, o que proporciona as abelhas muito pólen. Fato este refletido numa postura em constante crescimento.

Registro ainda minha participação no último dia 22 de fevereiro na cidade de João Pessoa para participar de fundação da Associação de Meliponicultores do Estado da Paraíba, fato este bastante significativo para meliponicultura local.

(fundadores e eleitos para a primeira gestão da Associação de Meliponicultores da PB - AMEL)

Nesses tempos de seca no campo e falta de água nas grandes metrópoles, é mais que chegada a hora da atividade sair do anonimato para levantar a bandeira da preservação das abelhas nativas que por intermédio da polinização são os animais diretamente responsáveis pela preservação das nossas florestas, nossa maior fonte de água.

Natal/RN, em 06 de março de 2015.

Kalhil Pereira França Thurner

Meliponário do Sertão