quarta-feira, 23 de junho de 2010

Alimentador Interno, by André Soares

Todos nós sabemos da importância em alimentar as nossas abelhas durante os períodos de baixa floração, principalmente durante o inverno no sul do Brasil e na seca (estiagem) na região Nordeste do país.

Alimentar as abelhas durante esses períodos ajuda a colônia no seu desenvolvimento, mantendo na rainha um estímulo para uma boa taxa de postura. Assim as abelhas chegam nos períodos de fartura (floração) fortes, prontas para uma ótima produção.

Dessa maneira, dentre as diversas formas e tipos de alimentadores existentes para as abelhas sem ferrão, o fornecimento do xarope através de alimentadores internos se mostra uma medida muito eficiente, principalmente para meliponicultores que possuem poucas caixas.

O nosso colega e meliponicultor, André Soares, de Maceió-Alagoas, desenvolveu um simples e eficiente alimentador para ser usado internamente. O bebedouro é simples, usado interno e é colocado sobre a tampa da caixa. Para acondicioná-lo basta fazer um orifício de 4 cm de diametro no centro da tampa para ventilação, geralmente fechado com espuma. Retira-se a espuma e coloco o bebedouro.


Para fazê-lo, foi usado um cap de 60, um redutor de 60 para 25, um pequeno pedaço de cano de 25 e um copinho de café cortado e colado ao final do cano com cola quente de pistola.

Em seguida, o mesmo Colocou também uma espuma do lado externo para aumentar o isolamento do orifício e impedir a entrada de concorrentes por qualquer brecha que exista entre o bebedouro e o orifício da tampa.


Não há um pingo de derramamento e cabe 200 ml de alimento no espaço formado pelo cap e pelo redutor, quantidade excelente até para abelhas grandes. Para se usar é muito fácil e simples, para colocar o alimento retiro o cano, despejo o líquido dentro, reencaixo o cano e vire. O líquido escorre para o copinho cortado de café pelo corte lateral que se faz no final do cano. Simples, parece um bebedouro de passarinho incrementado!

Ótima idéia que pode ser usado para qualquer tipo de caixa.

att,

Mossoró-RN, 23 de junho de 2010.


Kalhil Pereira França
Meliponário do Sertão

sábado, 19 de junho de 2010

Interações sociais entre espécies distintas

O que essas duas caixas tem em comum???

(melipona rufiventris e melipona scutellaris)

Bem, aparentemente nada!!! A caixa da esquerda é uma colônia da espécie melipona rufiventris sp., popularmente conhecida como Uruçu Amarela. Já da direita, essa verde aí com quatro alças, é uma colônia da espécie melipona scutellaris, também chamada de Uruçu verdadeira ou Uruçu Nordestina.

Pois bem, desde que inventei de colocar essas duas caixas uma próxima da outra, isso sem nenhuma intenção, venho observando já alguns meses e sem nenhuma confusão aparente, uma certa interação entre essas duas espécies "totalmente" diferentes.

(Interações entre uruçu verdadera e uruçu amarela)

Olhando assim externamente não tem nada de mais, mas no momento que abrimos as duas colônias temos grandes surpresas. Na verdade, não precisa nem abrir, bastar pararmos alguns minutos que se consegue observar um entre e sai entre as abelhas das duas caixas de forma harmoniosa.

A coisa é tão interessante que as vezes eu não sei mais quem é quem, a harmonia chegou a um ponto que não é difícil flagrar uma amarela fazendo a vigilância na porta da Nordestina, bem como, uma Nordestina em posição de defesa na casa das amarelas...

(Uruçu verdadeira na caixa das amarelas)

Abrindo as caixas aí é que a coisa se mistura mesmo, principalmente na caixa da Nordestina, vejam que entre elas existe muitas amarelas que não provocam nenhuma alteração no comportamento. A coisa me deixou tão curioso que passei a observar e estudar as caixas, principalmente da nordestina, à noite.

(Amarela entre as Uruçus verdadeiras)

O que tenho visto é algo que muito me deixa intrigado e cheio de porquês para responder. As abelhas se misturam ao ponto de espécies diferente participarem de rituais de postura de rainhas distintas.

(Amarelas e rainhas virgens, de que espécie???????)

Já cheguei a perder uma noite inteira de sono só para observar uma obreira de rufiventris, participando do ritual de postura da rainha da nordestina, chegar ao ponto de colocar um ovo alimentar para a degustação da rainha que não era a sua mãe.

Mesmo criando essas abelhas já alguns anos e de certa maneira estudando os seus comportamentos, principalmente os rituais de postura de espécies distintas, sinto que ainda há muita coisa a se aprender com esses fantásticos animais, principalmente por que essas coisas que vos digo não se aprende em livro, mas somente observando e analisando o dia dia desses insetos que tanto amo.

att,

Mossoró-RN, 19 de junho de 2010.


Kalhil Pereira França
Meliponário do Sertão

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Formando Novos Meliponicultores

Trabalhamos com implantação, capacitação e assessoramento em Meliponicultura. Solicite o seu orçamento!!! Vejam o exemplo abaixo:

Antes de viajar para a Serra do Mel-RN, fui a Quixadá-CE para capacitar mais uma comunidade que está inserida dentro do Projeto FIA MELIPONAS, esse projeto é de responsabilidade da ESPLAR (www.esplar.com.br) em parceria com o Meliponário do Sertão e visa resgatar a tradição da Jandaíra em diversas comunidades rurais próximas ao polo de Quixadá.


A última capacitação aconteceu no Sítio dos Lopes, zona rural de Banabuiu-CE. Assim que chegamos iniciamos a parte teórica com as explicações sobre as técnicas racionais de manejo e, principalmente, sobre o importante papel da Jandaíra para a manutenção do ambiente equilibrado.


É bonito ver a impolgação em querer aprender a lidar com essas abelhinhas, nessa comunidade a maioria dos capacitados são jovens que certamente formarão novos meliponicultores. Conversando com os técnicos da Esplar fiquei sabendo que os outros meliponários vão de vento em popa. Muitos estão carregados com bastante mel, foi tanto que levei a minha bomba sugadora para que eles mesmo fizessem a colheita na Comunidade do Riacho do Meio.


Na parte da tarde fizemos o manejo prático, muitos por aqui nunca tinham visto nem saboreado o maravilhoso mel da Jandaíra, servi algumas gotinhas colhidas ali mesmo na hora. Néctar dos Deuses...


Sai de lá com certeza de ter deixado aquelas abelhas em mãos de gente tão apaixonada como eu, devo voltar dentro de 15 dias para realizar a segunda parte da capacitação, realizando inspeções em todas as caixas e já colhendo algum mel para os nossos meliponicultores.

att,

Mossoró-RN, 10 de junho de 2010.

Kalhil Pereira França
Meliponário do Sertão

terça-feira, 8 de junho de 2010

O Mais Novo Apicultor

Andei sumido né!? É que não paro num canto, vivo andando atrás das abelhas.

Dessa vez não fui só atrás das abelhas sem ferrão, na verdade, fui mesmo foi atrás das apis...

Ando criando coragem para iniciar na apicultura, confesso que não sofro de amores pelas abelhas africanizadas do meu país, principalmente pela fama que essas moças possuem, é de conhecimento público e notório o alto grau de agressividade dessas abelhas, mas devido a insistência do meu amigo e futuro sócio na apicultura, o Victor (EMATER-RN), estamos quase prontos para montarmos o nosso tão "querido" apiário.

Nesse último fim de semana, já no intuíto de aprender um pouco mais sobre as famosas africanizadas, andei visitando um amigo apicultor, o Edvaldo, lá na Serra do Mel-RN. Este pequeno município fica a pouco mais de 40 km de Mossoró-RN é conhecida no estado do Rio Grande do Norte como a terra do caju, e onde tem pé de caju, tem Apis.

Logo que cheguei fui com ele visitar um dos seus apiários. Não demoramos muito e preparamos o carro como todas as paramentas necessárias para o manejo rotineiro. Antes, passamos na serraria para buscarmos um pouco de serragem, pois no dia anterior tinha chuvido bastante deixando o mato molhado, sem condições de ser usado para alimentar o fumegador.


Ao chegar no local fiquei logo imprecionado com a organização das várias caixas, todas lado a lado a uma distância de 3 metros uma da outra. O apiário está em terras bem fechadas, com bastante mata nativa, no momento há várias florações em andamento.


No momento que colocava o macação, as botas e as luvas ficava me perguntando: Será que vou levar a primeira ferroada hoje? Se levar só espero que não seja na cara, já imaginou chegar na repartição com o rosto todo inchado... Que saudades das minhas Jandaíras...


Assim que terminei de me arrumar o amigo Edvaldo vei conferir a vestimenta do novato, viu que tava tudo ok. Ainda deu tempo pra ele me sacanear: Macação novo em?!!! limpinho limpinho...


Iniciamos a abertura das colméias e pra minha surpresa as abelhas estavam todas que eram uma docura, mal atacavam, cadê o ataque??? Uma ou outra abelhinha que se estressava mas rapidamente voltava para a melgueira. No geral, as colônias estavam medianas, como esse apiário foi montado a poucos meses, boa parte das colônias são de capturas, assim as rainhas já são bem velhas mostrando uma postura bem irregular.


Durante a inspeção em uma das caixas constamos que a mesma tinha ido embora. Conversando com o Edvaldo perguntei o porquê daquele enxame ter migrado para outro lugar, o amigo me confessou que aquele enxame era de captura recente, estava com poucas capas de cria e mel, ele já esperava por isso. Aí perguntei: Por que não alimentou??? A resposta foi rápida. -Tem pra quê não, aqui tem muita abelha e logo outra entra aí.


Não sou tão leigo assim, vi que muitas das caixas a postura não vai bem, não vi a rainha mas achei que certamente era por causa da velhice, pois na apis quem vai embora durante a enxameação é a rainha mãe, ou seja, a velha vai e a nova fica.

Comentei com o amigo sobre o trabalho da Prof. Dra. Katia no Centro Tecnológico de Apicultura e Meliponicultura da UFERSA (CETEC), principalmente a respeito da produção de rainhas selecionadas, mas infelizmente, como já suspeitava, o trabalho é desconhecido não só por ele, mas por grande parte dos apicultores da região. É preciso que divulguemos os relevantes trabalhos do CETEC, não adianta de nada produzir conhecimento de qualidade sem divulgá-los, os produtores precisam está mais interligados com os centros acadêmicos para o crescimento da atividade.


Após terminarmos as inspeções, fomos abastecer o bebedouro das abelhas. Rapaz, como as africanas bebem água viu... Bebem muuuito, só esse apiário consome semanalmente cerca de 50 litros de água. Imaginem na época da estiagem.


Já no caminho de volta para casa, paramos para verificarmos duas iscas que tinham sido postas na beira da estrada, mesmo tendo sido colocadas a pouco mais de uma semana, já estavam todas habitadas, por essas bandas a apis impera.

Já na casa do amigo, sentado tomando um bom suco de goiaba, o mesmo me diz: -Você que é doido por Jandaíra, o meu vizinho aí da frente tem um pequeno meliponário, vai lá vê!!!


Não esperei nem tomar o suco todo e ainda com o copo na mão já fui entrando portão (aberto) a dentro vidrado procurando os curtiços. De cara vi as casinhas todas posicionadas corretamente para o nascente. O dono, de cara feia e não muito simpático, me disse que estavam situadas naquele meliponário há anos, nunca fazia manejo nem multiplicava uma colônia se quer, apenas colhia o mel. Se o cara fosse só um pouquinho mais simpático juro que tinha passado um bom tempo com ele ensinando alguma coisa, só pra vê-lo manejar melhor aquelas colônias.

Voltei para casa do amigo e me despedi prometendo voltar outro dia para visitar os seus outros apiários.

No dia seguinte, já na companhia do meu amigo Victor, fomos a uma comunidade rural próxima a Mossoró chamada "Serra Mossoró", a região não é serrana, mas guarda esse nome devido um serrote de serra que fica nas proximidades. Nesse lugar fomos vistoriar algumas colônias de apis que pretendemos comprar.


Eu queria ter essa coragem, passear entre as caixas de apis sem macação... Na verdade, o risco existe, mas devido ao elevado conhecimento do Victor com as africanizadas ele sabia que não seria atacado pelas abelhas, o segredo é a calma, movimento lentos e o silêncio... Eu que não entro aí sem roupa de proteção nem amarrado, rs... Ôooo saudade das minhas Jandaíras...

Adivinha qual era o pensamento que não me saia da minha cabeça, "Será que é hoje que levo a primeira ferroada, ou melhor, as primeiras ferroadas... Se for, só espero que não seja na cara...


Os apiários estão de dá dó, as caixas completamente desorganizadas, muitas quase caindo aos pedaços, outras foram literalmente saqueadas por meleiros. O apicultor responsável praticamente abandonou as abelhas e fazia um ano que ninguém vinha ver essas abelhas, pode-se ver pelas fotos que o mato quase toma de contas das caixas.


Mesmo assim, é aí que se mostra a força da abelha africanizada, das 38 caixas apenas duas estavam abandonadas, uma por migração e outra por furto. Algum ladrão veio e retirou duas das quatro melgueiras, deixando a podre da colônia de cabeça para baixo sem nenhuma proteção, mas também, um ano sem inspecionar as abelhas, isso era de se esperar. Se compramos essas colônias isso vai dá um trabalho...

Assim que saímos do apiário fomos atrás de 3 colônias de Jandaíra que eram do Victor que estavam na casa de um comprade dele, pensei com meus botões: - Essas colônias do Victor ou tão muito ruins ou tão muito boas, um ano sem vim aqui...


Já no local mandei ele bater de leve no tronco achando que ninguém ia sair de lá. Rapaz!!! Pra que fizemos isso... Vejam a quantidade de abelhas que tentavam beliscá-lo para defender o ninho, colônia fortíssima, certamente está muito perto de enxamear.

Ficamos de retornar à noite para buscar as colônias, todavia, devido ao trabalho do Victor em Afonso Bezerra-RN, vou deixar ele voltar de lá pra buscarmos, afinal de contas foi com ele que elas queriam acertar contas, rsrs.

att,

Mossoró-RN, em 08 de junho de 2010.


Kalhil Pereira França
Meliponário do Sertão